Reprodução Folha de São Paulo |
Demorou alguns dias mas a Folha de São Paulo finalmente montou uma pauta com o "outro lado" do flagrante de trabalho escravo nas vinícolas Aurora, Salton e Garibaldi, em Bento Gont (RS).
Ao contrário dos principais jornais do mundo, que defendem o que apuram, a mídia brasileira ainda mantém o "outro lado" como forma de "aliviar" denúncias incômodas . É simples: se uma história é corretamente apurada e checada e, no caso, coberta de evidências e de ações de promotores e policiais, praticar o "outro lado" fora de critérios servirá apenas para desmentir todo o trabalho jornalístico do próprio veículo.
Na mídia em geral há casos de reportagens investigativas repletas de documentos, testemunhos e até vídeos e áudios publicados que vêm acompanhadas de "justificativas" dos flagrados. São argumentos tão irreais que até ofensivas à inteligência.
O jornal publica tudo e, para o leitor, fica o dito pelo não dito.
Resta a impressão de que parte da mídia brasileira seria capaz de buscar o "outro lado" até para, digamos, relativizar as atrocidades nazistas. Além disso, ouvir o "outro lado" é questão de interesses: há casos em que os editores deliberadamente não pautam o "contraditório".
Pois no caso dos escravizados do vinho, a Folha (que, aliás, evita e expressão trabalho escravo e mesmo a hipócrita "análogo a trabalho escravo") foi buscar depoimentos que desclassificam as denúncias. Conclui-se que todo mundo lá é gente boa e os trabalhadores baianos estão de sacanagem ao incriminar patrões tão tão civilizados e defensores da lei e dos bons costumes. Segundo a Folha, a comida era beleza, o galpão tinha até ar ccondicionado, a segurança no local era necessária para punir trabalhadores ladrões e as condições de trabalho eram tão boas que muitos escravizados queriam até voltar após cumprir o serviço temporário, sem ligar para torturas, choque elétrico e ser refém por dívidas.
A Folha não surpreenderá ninguém se publicar nos próximos dias uma entrevista com o vereador Sandro Fantinel, que descreveu os baianos como vagabundos que vivem na praia tocando tambor e como pessoas sujas que não cuidam dos alojamentos cinco estrelas.
E o toque final de cinismo: o barracão que "hospedava" os escravizados é chamado de Pousada do Trabalhador. O jornal não informou se tem hidromassagem, sauna, café da manhã continental, academia de ginástica e piscina.
Um comentário:
Vergonha. O jornal abriu espaço para mentiras sem base já que a matéria original e bem apurada não era dele.
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