Do Facebook "Jornais Antigos do Rio de Janeiro.
Curitibano, sou papa-pinhão confesso. O supermercado Princesa, que reina supremo neste buraco de Laranjeiras onde moro e que batizei de Baixo-Glicério, pode ter todos os defeitos do mundo – e os tem, sobejamente – menos um: nunca deixa, nos meses de inverno, de proporcionar fartas ofertas de pinhão (em bandejas ou a granel). Uma verdadeira proeza, considerando que, para o carioca, o precioso fruto da araucária é uma coisa muito estranha, próxima do ET.
Este ano, minhas elucubrações de entrevero de pinhão viajaram rumo a uma intersecção com meus experimentos de ratatouille tropical. Um dos resultados está na receita abaixo, sem dosagem precisa, ao bel-prazer do leitor, guiado por sua sensibilidade culinária.
Entrevero de pinhão à Ratatouille Tropical
• Um punhado generoso de pinhões cozidos.
Legumes cozidos:
• Dois ou três jilós cortados na longitudinal.
• Três ou quatro maxixes pequenos.
• Rodelas de uma abobrinha pequena.
• Iscas de um pimentão verde pequeno.
Opcional:
• Meia dúzia de quiabos em pequenas rodelas.
E, é claro, algumas taças de um vinho tinto chileno honesto a bom preço.
Embora não traga novidades, documentário "Sem precedentes" (Discovery+) sobre a familícia Trump tem o mérito de fazer uma ultrassonografia dos intestinos do clã. Sabe-se que desde a campanha do republicano sua estratégia golpista é copiada pela cópia pirata nacional, seu tosco similar bananeiro. Sobe esse ângulo, é curioso ver o original.
Fora do streaming é bem mais interessante acompanhar o desenrolar da comissão que investiga a conspiração dos Trumps e a invasão terrorista do Capitólio, que o Globo minimiza ao chamar de "espetáculo midiático".
Nos Estados Unidos a comissão é vista pela maioria da opinião pública como um pilar de defesa da democracia.
Com a queda de popularidade de Joe Biden, o risco Trump permanece como ameaça. As eleições parlamentares de novembro dirão o tamanho do perigo. Um derrota republicana pode estimular o partido a rejeitar um eventual canditadura de Trump a presidente em 2024. Se os republicanos dominarem o Congresso darão um grande passo para retomar a Casa Branca. Restará, entao, aos democratas encontrar um nome forte para suceder o desgastado Biden.
Logo nas primeiras semanas de governo, Bolsonaro alterou a Lei da Transparência. O sociopata ampliou o número de autoridades ou funcionários com poder de decretar sigilo sobre praticamente qualquer coisa. A inspiração é fascista, nasce nas leis implementadas por Mussolini nos anos 1920. Sigilo é a nova censura. Essa onda de vetar acesso público a documentos e procedimentos públicos é ferramenta do autoritarismo. E quando envolve gastos esconde impobridade administrativa, desvio de verbas e corrupção. O derrame de decretos de sigilo também acontece na área de segurança pública. Serve para esconder irregularidades e crimes. A mídia, principalmente, sente os efeitos do sigilo quando proliferam decisões de juízes que impedem acesso a informações sobre investigações ou se criam barreiras para o trabalho dos repórteres.
Desde janeiro de 2019, o autoritarismo tem o poder de, quando interessa, jogar o Brasil nas trevas.
Quem conspira contra a democracia trabalha melhor no escuro.
por Flávio Sépia
Bolsonaro decreta que jornalistas devem buscar emprego no paraíso celestial. Aqui na terra a barra vai pesar ainda mais. O sociopata baixou uma norma dando às TVs abertas o direito de vender 100% da programação para pastores. Até então, só podiam comercializar 25% da grade diária.
O lobby da indústria religiosa funcionou junto ao Planalto onde circulam mais pastores do que qualquer outro gênero humano. O resultado da decisão é que muitos repórteres, editores, câmeras e produtores poderão perder seus empregos. TVs abertas são concessões públicas, têm a obrigação constitucional de informar, prestar serviço à população, divulgar a cultura sem privilegiar ideologias e credo. Ao permitir que seitas sequestrem toda a programação, se assim desejarem as TVs, esse princípios vão para a sacolinha.
Para algumas emissoras será um dinheiro fácil. Por que disputar audiência, montar equipes, manter departamentos publicitários e jornalísticos se o caixa vai receber um tsunami de Pix do pastoreio que, por sua vez, pede ao distinto público um dilúvio em forma de cartões de crédito, débito, transferências eletrônicas e doações de bens?
por O.V.Pochê.
Houve uma época, há muitas galáxias, em que os jornais e revistas acionavam D.Estevão Betencourt, monge beneditino e professor da PUC, para comentar qualquer assunto.
Os repórteres mais antigos lembrarão.
Os temas recorrentes eram divórcio, ainda não aprovado, pena de morte que alguns obtusos queriam instituir, drogas, feminismo, violência, amor livre etc. Em matérias do tipo "enquete" D. Estevão era presença obrigatória. Talvez porque era atencioso, sensato, e ducado, culto e, muito importante, era acessível, recebia os repórteres ou falava ao telefone com a maior presteza. Na correria dos fechamentos, se um repórter era pressionado pelo chefe para repercutir um assunto, D.Estevão o salvava.
Sem comparar o íntegro monje com o Mourão - são semelhantes apenas na disponibilidade para falar com jornalistas -, a mídia atual tem seu "crush" para repercutir notícias.
Mourão foi ouvido por repórteres sobre o assassinato político de Marcelo Arruda pelo policial bolsonarista Jorge Guarani. Sempre com pompa e circunstância, empertigado como se fosse chefe da Estado de uma potência, Mourão comenta qualquer coisa. Repórter está sem pauta e precisa entrar em um link ao vivo. Tranquilo, bota um microfone na boca do falastrão. Geralmente ele expele uma opinião tosca. Mas as bobagens que diz o mantêm na mídia. Bom pra ele que agora é político e vai disputar votos.
A mais recente fala do Mourão chega a ser ofensiva. Ele classificou o assassinato político de Marcelo como uma coisa que acontece todo fim de semana. É um deboche.
Em um execício tragicômico, o que o modo Mourão de analisar os fatos diria sobre casos de assassinatos políticos ou de escândalos na atualidade e na História? Sigam o fio:
Bruno e Dom - "um simples desentendimento numa pescaria.
Marielle: "uma briga de trânsito".
John Kennedy - "bala perdida, uma fatalidade. Lee Oswald apenas manuseava o rifle, acontece.
Marat - " foi morto por uma mulher, aprontou alguma coisa, foi crime passional, acontecectida hora. Na época não tinha ambulância, demorou a ser atendido, perdeu muito sangue.
Lincoln - "uma fatalidade. Não deveria ter ido ao teatro. A peça em cartaz era muito ruim. Não valia a pena".
Chico Mendes - "foi crime passional. Acontece todo dia.
Zuzu Angel - "um acidente de trânsito. Um caso para mandar um reboque, nem precisava investigar".
Atentado ao Charlie Hebdo - "provavelmente foi a reação de um assinante desgostoso por não estar recebendo o jornal".
Invasão do Capitólio - apoiadores de Trump queriam fazer apenas um passeio turístico. Era uma despedida do governo que saiu do controle, acontece.
Morte de Genivaldo na câmara de gás do camburão - um erro na dosagem de gás. Isso aí acontece, pode ser defeito da bomba de gás. O rapaz deveria ter ofendido a respiração.
Escândalo de propinas para pastores dentro do Ministério da Educação - " isso aí foi esclarecido, pediam o dízimo que é dito na bíblia. Nada ilegal. Bobagem, o melhor que a mídia tem a fazer em mudar de assunto.
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| Acima, reprodução do Globo, hoje, coluna de Ascânio Seleme |
por O.V.Pochê
Brasília está em festa. Foi decretado sigilo de 100 anos para o lugar onde a farra está acontecendo, mas recebemos essa selfie exclusiva. Saiu cara, custou um trator superfaturado. Uma das atrações da comemoração será um sorteio de emendas do relator que dará direito a 3 mil caixas d'água com sobrepreço amigo. Incluídas no quesito "despesas para exercício do mandato", verbas de gabinete custearam uísque em proporções bíblicas. Chope, picanha e Viagra estão no mela-cueca oficial como "doação para campanha". Charutos e as notas de 100 dólares para acendê-los foram pagos por verbas da Saúde. Tudo dentro da lei, segundo as assessorias de suas excelências. A festa não tem hora pra acabar.
Pode até ser que o Brasil acabe antes.
Deu no jornal na última terça-feira que em novembro a população do planeta ultrapassará os 8 bilhões. Em novembro estarei com 85 anos de idade. Portanto, só no meu modesto tempo de vida, este pequeno geoide teve sua população aumentada quase quatro vezes!
Há algum tempo criei um conceito que, se não repercutiu nos meios acadêmicos, deve ter sido por causa do Efeito Groucho Marx (“Eu jamais entraria para um clube que me aceitasse como sócio...”) Tenho a certeza de que é um conceito sólido que tem tudo a ver com as mazelas sócio-políticas do nosso tempo: a “poluição demográfica”.
Considero-me até um otimista, acho um milagre que a nave Terra ainda não tenha explodido. O excesso de gente se acotovelando pelas ruas – por necessidade de sobrevivência correndo atrás do leite das crianças, ou pela busca insana do prazer nas baladas da noite – é um espetáculo atroz.
A esta altura me vem à
cabeça aquela fala esperta e urgente: “Parem o mundo, eu quero saltar fora!”
Muitos já a ouviram, poucos sabem a origem. É o título de um musical de sucesso
dos autores ingleses Leslie Bricusse e Anthony Newley, Stop the World – I Want to Get Off, lançado em Londres em 1961 e
que depois fez sucesso na Broadway. Segundo o pianista Oscar Levant, o título
foi inspirado num grafito. Ah, a sabedoria dos anônimos.
O lado bom da pesquisa
da ONU que anunciou os 8 bilhões para novembro é que, pela primeira vez em meio
século, graças à Covid, a expectativa de vida no mundo caiu de 72,8 anos para
71 anos. No Brasil a queda foi ainda maior, de 75,3 para 72,8 anos. Segundo
esses critérios, estou com o saldo devedor, melhor ficar quietinho no meu
canto...
| Monty Norman: o autor do tema do 007. Foto: Divulgação |
Posições como essa que o título do Globo anunciou há 60 anos são comuns na história do principal jornal da direita. O Globo foi contra salário mínimo, contra o decimo-terceiro, contra os Cieps, contra universidades públicas, contra sistema de saúde pública, contra reforma agrária, contra Bolsa Família, contra Minha Casa Minha Vida, contra luz para todos, SUS etc, muitos etcs. Para fazer valer sua ideologia e o ódio contra avanços sociais, O Globo foi e vai muito além do jornalismo. Ao longo da história apoiou golpes, desde a conspiração que levou Getúlio ao suicídio, o golpe e a ditadura de 1964, apoiou Collor a ponto de manipular um debate presidencial (no caso a TV Globo), fechou com o golpe que derrubou Dilma Rousseff, apoiou a eleição de Bolsonaro e deixa claro que em um eventual segundo turno nas próximas eleições vai de Bolsonaro e Paulo Guedes. Detalhe: João Goulart assinou a lei do 13* em 1962 quando O Globo já participava da preparação do golpe de 1964. O título que enfatiza o " desastre" já fazia parte do golpismo endêmico do jornal.
| Reprodução - extra.globo.com |
Silva Jardim não teve a mesma sorte. Por Roberto Muggiati
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| Silva Jardim |
Vale a pergunta: se vivessem na Alemanha nos anos 1930 certos comentaristas da mídia brasileira interpretariam o cenário político como "polarizado" e fantasiariam a teoria dos "dois lados iguais"?
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| Reprodução Twitter |
Quando o insano Bolsonaro faz apelos às suas gangues armadas, está nandando um claro recado de violência. Recentemente, em Minas Gerais um terrorista aparentemente ligado ao agronegócio comandou um drone que lançou veneno sobre o público de um evento político de opositores do b deolsonarismo. No Rio, durante evento na Cinelândia, que reuniu uma multidão de apoiadores de Lula, Marcelo Freixo, André Cecíliano e Alexandre Molon, em outro ato de terror político um bolsonarista lançou uma bomba de fabricação caseira com fezes em área delimitada para o público do encontro partidário promovido por PT, PSB e PSOL. O incentivo oficial à campanha agressiva provoca nos anormais uma leitura de guerra. É preciso que a justiça puba exemplarmente essa escalada do terror, que procura atingir em última análise a democracia. A tragédia de Foz do Iguaçu é um alerta. O assassino anunciou a intenção de "matar todo mundo". Só não o fez porque apesar de atingido por tiros o líder petista ainda da conseguiu disparar sua arma (ele era guarda municipal) e, pouco antes de morrer, já caído no chão, feriu o terrorista bolsonarista e o impediu de consumar uma grande chacina.
PRIMEIRO ASSASSINATO POLÍTICO