quarta-feira, 7 de julho de 2021

Rita, perdoe o rango! • Por Roberto Muggiati

Arnaldo Baptista, Rita Lee e Sergio Dias. Foto de Antonio Trindade/Manchete

Em março de 1968 troquei o Rio por São Paulo para trabalhar no projeto da revista Veja, que seria lançada em setembro. Editar um newsmagazine nos moldes da americana Time era o sonho dourado de Victor Civita, tão importante que ele aposentou sua galinha dos ovos de ouro – a revista mensal de reportagens Realidade, o maior sucesso da Abril – para concentrar todas suas forças e finanças na semanal de atualidade. 

Numa estratégia equivocada, o velho VeeCee, 61 anos, adotou a grade funcional da Time, copiando seu expediente, preenchendo centenas de empregos com os melhores jornalistas do Brasil. O êxodo das redações cariocas para a Pauliceia somava algumas dezenas de editores, redatores e repórteres. Acontece que a Time – iniciada com um punhado de bravos em 1923 – evoluiu palmo a palmo até sua configuração de 1968, ao longo de cinco décadas, num cenário sociocultural específico, atravessando os crazy twenties, o crack da Bolsa, a Depressão, a Segunda Guerra, o boom dos anos 50, a Guerra Fria e os swinging sixties, ou seja, um cenário tipicamente norte-americano. 

Ainda: a campanha publicitária dava a impressão de que a Veja seria a Manchete da Abril. Esse erro foi bombasticamente reforçado na véspera do lançamento: transmitido pela TV em cadeia nacional às 20 horas de domingo 8 de setembro (a revista saía às segundas com a data de capa de quarta), um documentário de Jean Manzon mostrava a Veja cobrindo todas as frentes de guerra do mundo, que não eram poucas na época. A Abril se deu conta da imagem truncada ainda na fase dos “números zero” e – pior a emenda que o soneto – acrescentou ao veja do logotipo as palavras e leia. Fez ainda uma maciça distribuição de brindes para meio Brasil: uma lupa num estojo com a logomarca veja e leia.

A "Árvore" no topo da antiga
sede da Abril, na
Marginal Tietê
Não importa: o investimento foi tão maciço que a Veja, no início, se tornou um farol para a classe cultural brasileira. A tal ponto que seus jornalistas não se davam a pena de ir até os entrevistados, os artistas é que tinham de peregrinar até a Meca da Marginal do Tietê. Foi assim que – como editor de Artes e Espetáculos – recebi Rita Lee, Sérgio e Arnaldo Baptista em fins de 1968 para uma conversa na hora do almoço. Os Mutantes eram um foguete em ascensão nos céus da MPB. Em 1967 brilharam no Festival da 

Record acompanhando Gilberto Gil em Domingo no Parque; no ano seguinte fizeram história na final paulista do FIC, cantando sob vaias o polêmico É proibido proibir de Caetano Veloso. 

O recente anúncio da doença de Rita Lee me fez voltar àqueles tempos e me sentir, de certa forma, culpado. Não havia nenhum espaço decente na Abril para receber celebridades. Tinham de comer no horroroso galpão de madeira comunal dos jornalistas e demais empregados, que ficava num anexo ao lado do prédio da editora – quando chovia, e amiúde chovia  grosso, todo mundo se encharcava. Senti-me vexado ao receber os garotos – Rita e Arnaldo tinham 20 anos, Sérgio 18. Ainda não tinha aflorado ao sangue da ruivinha a rebeldia sulista de seus antepassados que lutaram na Guerra da Secessão – as irmãs, Mary Lee e Virginia Lee também foram nomeadas em homenagem ao general confederado Robert E. Lee – mas cheguei a recear, da parte de uma Rita Lee afrontada, algum protesto, como batucar numa panela, igual à matriarca dos filmes de faroeste, e chamar os caubóis para o rancho: “Come and get it!” 

No ano e meio que passei na Veja em São Paulo só uma vez fui convocado por Seu Victor para receber um convidado VIP, Abelardo Barbosa, o Chacrinha, recém-consagrado “Velho Guerreiro” por Gilberto Gil em Aquele abraço, o hino de despedida do baiano ao partir para o exílio em Londres. Foi um almocinho tacanho naquele pequeno anexo na cobertura do prédio encimado pela árvore da Abril. Um cardápio tão banal que não guardo a menor lembrança do que foi servido. Não podia haver maior disparidade de temperamento entre o Civita e o Chacrinha, o motivo do encontro era um negócio, os dois iam ganhar muito dinheiro à custa do outro. Chacrinha era tão genial que tinha resumido toda a teoria do Marshall McLuhan num bordão: “Quem não se comunica, se trumbica.”

Glauber Rocha na capa da Veja, 1969

Recebi ainda outra celebridade, sem o menor aviso: uma tarde Glauber Rocha adentra meu cubículo de editor, avisado de que a Veja preparava uma grande matéria sobre seu “cordel Western” O Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro, que concorria ao Festival de Cannes de 1969. Além da alma de cineasta, Glauber tinha feeling de marqueteiro e faro de repórter e me encheu de mil detalhes sobre o making  of do filme: por exemplo, como uma pesada câmera foi perigosamente içada por meio de cordas a uma escarpada montanha no sertão baiano. Glauber ganhou o prêmio de melhor direção em Cannes, ganhou também a capa de Veja, a única que assinei, enriquecida pelas informações de cocheira do cineasta. Nem um cafezinho morno lhe foi oferecido no prédio da Abril.

Na Veja, em 1968. Foto Acervo Pessoal

Guardo da época uma única foto, um melancólico instantâneo, de paletó e gravata, no cubículo que dava para a terra devastada do Tietê. Rita Lee, em troca, era a glória, com seu olhar safado debaixo das franjinhas, rosto sardento, margaridas nos cabelos, bochechas rechonchudas, um fininho entre os dentes.

Pouco depois, eu voltava ao “balneário da república” para dirigir a Fatos&Fotos, na empresa que Adolpho Bloch definia como “um grande restaurante que, por acaso, imprimia revistas”. Em breve, aguardem no Panis Cum Ovum – até o título do nosso blog é uma referência culinária – um suculento relato sobre o Império Gastronômico da Manchete

segunda-feira, 5 de julho de 2021

Há 50 anos Jim Morrison morria em Paris • Por Roberto Muggiati

Jim Morrison, 1967. A famosa foto de Joel-Brodsky. Reprodução San Francisco Art Exchange (link)


O túmulo no Cemitério Père Lachaise. Reprodução Facebook



E afluência dos fãs no 50ª aniversário da morte do artista. Reprodução You Tube

No curto período de dez meses e meio, o mundo do rock – o mundo, enfim – foi abalado pela morte da Santíssima Trindade dos Js: Jimi Hendrix, sufocado no próprio vômito, em Londres, 18 de setembro de 1970; Janis Joplin, overdose de heroína em Los Angeles, 4 de outubro; e Jim Morrison, de parada cardíaca, em Paris, 3 de julho de 1971. Entraram todos para o Clube 27, a confraria dos músicos mortos com aquela idade.

(Veja matéria recente no Panis:

https://paniscumovum.blogspot.com/search?q=CLUBE+27+ROBERTO+MUGGIATI)

Em meados dos anos 70, o editor de Manchete, Justino Martins – embora próximo dos sessenta anos, portanto duplamente “careta”, segundo a máxima da contracultura “não confie em ninguém acima dos trinta” – se mostrou particularmente sensível ao “poder jovem” e pediu-me que escrevesse uma série na revista, Os jovens que sacudiram o coreto. A série acabou virando livro, pela L&PM, em 1984, Rock: do sonho ao pesadelo. 

Eram 15 perfis, o de Jim Morrison, o vocalista-poeta de The Doors, intitulado Arrombando as portas da percepção. Cito aqui a parte relativa ao seu estranho fim:

“Cansado do rock, das gravações e dos concertos, esgotado e desiludido após uma série de processos – no principal deles acusado de obscenidade durante um concerto em Miami – ele embarcou para Paris com Pamela no começo de março de 1971. No dia 3 de julho foi encontrado morto na banheira do seu apartamento, perto da Place des Vosges. Sua morte continua um mistério até hoje. Não foi feita nenhuma autópsia, não se encontrou o médico que assinou o atestado de óbito. O empresário de The Doors, Bill Siddons, foi chamado de Los Angeles e, ao chegar em Paris, encontrou um caixão lacrado e o atestado de óbito. Só seis dias após a morte do cantor, Siddons divulgou uma notícia à imprensa:

“Jim foi enterrado numa cerimônia simples, na presença de poucos amigos íntimos. Guardamos silêncio em torno do acontecimento porque aqueles que o conheciam e amavam queriam evitar a badalação e a atmosfera circense que cercaram as mortes de outras personalidades do rock como Janis Joplin e Jimi Hendrix. Jim morreu serenamente de causas naturais – ele estava em Paris desde março, com sua mulher, Pamela. Tinha consultado um médico em Paris para tratar de um problema respiratório no sábado – o dia de sua morte.”

Pamela, a única testemunha da morte de Jim, nada esclareceu. E acabou morrendo de uma overdose de heroína em maio de 1974. Jim foi enterrado no cemitério do Père Lachaise, em Paris, o mesmo que abriga os corpos de músicos e escritores famosos como Edith Piaf, Chopin, Bizet, Balzac, Oscar Wilde e outros. Seu túmulo, sempre coberto de graffiti, é até hoje o centro de uma peregrinação interminável de jovens. Outros preferem acreditar que tudo não passou de uma farsa, que Jim Morrison ainda vive numa fazenda qualquer do Texas ou num buraco gelado do Alasca.”

Neste ano do cinquentenário – 3 de julho caiu num sábado – por conta da pandemia apenas cem fãs foram autorizados a visitar o túmulo, atrás de barreiras e vigiados por dois policiais.  Vindos de todos os cantos do mundo, alguns deles têm a certeza de que o túmulo está vazio. Vieram apenas para homenagear o ídolo que, no vigor dos 77 anos, apascenta suas cabras e ovelhas em algum lugar remoto da terra, ou nem isso: dedica-se simplesmente a cultivar a nobre arte do dolce far niente...

Mídia: palavras mutantes...

Fatos & Fotos, 1982

por José Esmeraldo Gonçalves

Estão falando alto pelos botecos... Delta, a cepa. Voto, o impresso.

Delta é a nova cepa da Covid-19, capaz de impulsionar novo ciclo de contaminação. Segundo os infectologistas, a lentidão da vacinação pode deixar o país exposto à Delta. O risco só diminuirá quando a imunização alcançar 80% da população. 

Voto impresso é o golpe que o governo prepara contra as eleições de 2022. Poderá ser usado, se aprovado, como uma espécie de comprovante do voto vendido. Algo a ser mostrado a quem pagou pela "mercadoria" entregue, como se fosse um boleto quitado e carimbado.   

Quase 40 anos depois, as duas palavras, Voto e Delta, voltam a se encontrar no noticiário, agora nas circunstâncias descritas acima. Mas em 1982 Delta era o elemento-chave do escândalo Proconsult, um complô contra a eleição de Leonel Brizola para o governo do Estado do Rio de Janeiro. A palavra estava em todos os jornais e revistas. E o voto (impresso) era o alvo daquela enorme tentativa de fraude eleitoral.  

Em 1982, o voto era analógico, não havia a maquininha do "confirma". O eleitor preenchia a cédula e depositava na urna. Era comum políticos donos de currais eleitorais entregaram ao eleitor "de cabresto" a cédula já preenchida com o "x" e os nomes do candidatos indicados. Se a cédula era o "impresso" da época, a totalização dos votos após a apuração manual dos mesários era feita por computadores. Grupos de mídia, políticos e empresários insatisfeitos com a liderança de Brizola nas pesquisas viram nesse sistema uma brecha para a fraude eleitoral. Os fraudadores ligados ao regime militar montaram um programa que transferia votos nulos e brancos para Moreira Franco, adversário de Brizola e o nome preferido pela ditadura. A variável que levava à fraude para a totalização foi chamada de Diferencial Delta. A maracutaia foi denunciada pelo jornalista Procópio Mineiro, da Rádio Jornal do Brasil. Em seguida, Brizola denunciou o golpe à imprensa internacional, abortou o crime e teve confirmada sua vitória por larga margem.

sábado, 3 de julho de 2021

A atriz Aline Moraes resumiu o espírito da coisa nas manifestações de hoje contra o meliante investigado

Rio, 03/7/2021. Reprodução Twitter

Há 60 anos Hemingway morria em Paris • Por Roberto Muggiati

Ernest Hemingway no Quênia, em 1953.
Foto: U.S. National Archives and Records Administration

Dois de julho de 1961, uma ensolarada manhã de domingo em Ketchum, Idaho. O velho levanta da cama às sete horas, pega um fuzil de caça de cano duplo e estoura a cabeça. Em Paris, são três horas da tarde e estou almoçando com Ruth Fleming, negra, intelectual de Nova York, vivendo um típico romance beat. Às nove da noite sentamos na amurada da rive gauche do Sena para assistir ao crepúsculo tardio do verão. Fumamos em câmera lenta um cigarro tibetano e depois vamos dormir num hotel da Rue de Seine. Na manhã seguinte, na primeira banca de jornal, dou de cara com as manchetes. "HEMINGWAY DEAD", grita o Daily Mail de Londres. "Alvejado quando limpava a arma. Foi suicídio?"


Paris, 3 de julho de 1961. Foto Acervo Pessoal

Vou a uma cabine de fotos automáticas e tiro uma 3x4 exibindo a primeira página do jornal. A sensação de perda é enorme. Numa carta a um amigo, Hemingway escreveu: "Se você teve a sorte de viver em Paris quando jovem, então aonde quer que vá pelo resto da vida ela o acompanhará, pois Paris é uma festa móvel."

Com Olli e Peter, em Paris, nos passos de Hemingway. Foto: Acervo Pessoal

Eu tinha dois amigos em Paris: o finlandês Olli Heikkinen e o norte-americano Peter J. Solomon. Com pouco mais de vinte anos, éramos um pouco os três mosqueteiros em busca de Hemingway. Olli foi viver em Paris com a mulher, uma ex-Miss Finlândia que virou dançarina do Crazy Horse Saloon. Separaram-se e Olli foi morar num pardieiro na Place de la Contrescarpe, onde Hemingway viveu em Paris nos anos 1920. Quando começou a passar fome, voltou para a casa do pai, operário de uma fábrica de vidros nas lonjuras do leste finlandês, perto da fronteira com a URSS. Fui visitá-lo na época do sol da meia-noite, pouco depois da morte de Hemingway.

Peter Jay Solomon era filho de uma tradicional família de banqueiros judeus de Nova York e estagiava num banco americano na região da Opéra. Em suas folgas de almoço, comíamos sanduiches no Harry’s Bar e folheávamos os livros da Brentano’s. Também voltou para a casa dos pais, mas marcou um encontro comigo em 1963 nas touradas de Pamplona, cenário do romance de Hemingway que retrata a "geração perdida", O Sol Também Se Levanta. 

Quase todo mundo que eu conhecia em Paris na primavera de 1961 estava com o pé na estrada a caminho de Pamplona. Americanos, canadenses, nórdicos, meridionais — aquela fauna estrangeira que se esparrama pelos boulevards e cafés de calçada quando o sol volta a brilhar. Muitos costumavam se reunir num café do Odéon frequentado por espanhóis para ouvir as guitarras, ver a dança flamenca e viver a fiesta por antecipação.

Naquela segunda-feira, 3 de julho, quando os jornais noticiaram a morte de Hemingway, já deviam estar todos em Pamplona, para a festa das San Fermines. Dois anos depois, morando em Londres, fui até Pamplona para o encontro marcado com Peter Jay. Quando cheguei à pensión designada, ele já havia partido com a noiva, até hoje não soube o que aconteceu e nunca mais o vi. Decidi ficar e aproveitar a fiesta. Comprei uma bota, aquele odre de couro que os espanhóis enchem de vinho barato e esguicham garganta abaixo. Eu errava sempre o alvo e o vinho espalhava-se pelas roupas claras, tinto como sangue. Pelo menos não era o sangue que manchava as roupas dos espanhóis mais afoitos, que corriam pelas ruas estreitas que desembocavam na arena, perseguidos por um tropel de miúras furiosos.

Quando não havia corridas, sentava-me em meio a uma horda internacional no centenário Café Iruña, frequentado por Hemingway e cenário do filme de 1957 O Sol Também Se Levanta. Hemingway estivera ali pela última vez no verão de 1959, imaginem, apenas quatro anos antes... Coerente com sua opção ideológica, chegando a lutar na Revolução Espanhola, ficou 14 anos sem pisar na Espanha franquista, só voltando a partir de 1953, por força de sua paixão pelas touradas.

No discurso que mandou para ser lido em Estocolmo quando ganhou o Prêmio Nobel de Literatura em 1954, Hemingway escreveu; "Na melhor das hipóteses, o fato de escrever implica numa vida solitária..." Mas ele não parou de escrever, mesmo minado por uma série de doenças: diabetes, hipertensão, arterioesclerose, obsessão da morte. A escolha final foi consciente. Como escreveu Carlos Baker na sua biografia de Hemingway: "Agarrara-se durante anos à máxima ‘Il faut (d’abord) durer.’ Agora ela fora trocada por outra máxima: ‘Il faut (après tout) mourir.’ "

Na obra de Hemingway, Paris é uma cidade mitológica. Pamplona também. As pessoas passam, Paris e Pamplona ficam. No espírito do Eclesiastes, seu texto favorito da Bíblia, a terra permanece e Hemingway vê as pessoas mais com piedade do que com ironia. Esse sentimento é sintetizado em O Sol Também Se Levanta pelo refrão de Mike Campbell, bêbado no meio da fiesta, comparando o ser humano aos balões (globos iluminados, em espanhol) e aos fogos de artifício que explodem à noite no céu de Pamplona:

"Globos iluminados” –  disse Mike. “Um bando miserável de globos iluminados."

Pet clics: bons pra cachorro! • Por Roberto Muggiati

Foto de William Wegman (link para site do fotógrafo indicado no post)

Foto de William Wegman. Link para site do fotógrafo indicado no post


Foto de Elliott Erwitt. Foto para Instagram do fotógrafo indicado no post


Foto de Elliott Erwitt. Link para Instagram do fotógrafo indicado no post

Assediado por distopias e pandemias, vendo gente feia e medíocre destilando ódio e burrice por toda parte, resolvi compartilhar com os amigos algumas coisas legais que nos levam para longe deste insensato mundo (nenhum rancor ou pessimismo da minha parte, estou numa boa.) Conheçam aqui dois fotógrafos geniais: William Wegman, um weimaraner-lover de carteirinha, e Elliott Erwitt, amigo de quatro-patas de todas as raças, inclusive dos geniais SRDs. Duas amostras de cada um como aperitivo: se gostarem, procurem mais nas redes caninas. Partidário da máxima “às vezes uma foto diz mais do que mil palavras”, eu me calo, aqui e agora.

sexta-feira, 2 de julho de 2021

Brasil vai às ruas amanhã contra o vacinoduto

Os mercadores da morte

Na capa da Piauí: a cepa 171 da Covid

Hasselmann e Hoffmann: leoas à caça

 

Reprodução O Globo



por O.V.Pochê

Recentemente, Bolsonaro gabou-se por ser “Sou imorrível, imbroxável e também incomível”. Não contava com a astúcia de duas felinas que a foto de capa do Globo mostrou ontem.  A deputada federal Joyce Hasselmann, ao microfone, e Gleise Hoffmann, à direita, de máscara vermelha, são ideologicamente distantes, mas o "incomível" conseguiu uni-las na apresentação do super pedido de impeachment.  Além da simetria dos sobrenomes, Joyce, 43, e Gleise, 55, têm afinidades geográficas. São paranaenses, a primeira de Ponta Grossa, a segunda, de Curitiba. O fato é que ambas, cada uma na sua trincheira, têm DNA de guerreiras. O pedido de impeachment tem notórias dificuldades para avançar em uma Câmara dos Deputados em sua maioria aparelhada pelo bolsonarismo. De qualquer forma, o "imbrochável" está no radar do pega pra capar das duas parlamentares. 

Assalto ao SUS

quinta-feira, 1 de julho de 2021

Januário Garcia (1943-2021): o adeus de um militante da imagem

 

Reprodução Instagram


Reprodução Instagram


A devastação causada pela Covid-19 é dramática pelo número absurdo - mais de 520 mil brasileiros mortos - e choca quando o foco é cada vítima. São vidas individualmente valorosas que a cifra coletiva dilui. Permanecerá para sempre incalculável a enorme perda do Brasil em potencial humano, do mais humilde ao mais célebre. Por culpa da negligência criminosa da milícia dos insensatos, o país sangra como nenhum outro nessa trágica pandemia. Em nome das vítimas, o Brasil tem que cobrar essa conta.  

O fotógrafo e ativista do movimento negro, Januário Garcia, morreu ontem vítima da Covid-19. Tinha 77 anos e muito a cumprir na sua brilhante trajetória, com atuação em veículos como O Dia, O Globo, Manchete, Fatos & Fotos, Jornal do Brasil, O Dia e O Globo. 

Em 1994, Januário e o repórter Geraldo Lopes fizeram para a Manchete uma matéria com as baianas das escolas de samba reunidas no estúdio da Rua do Russel, poucos dias antes dos desfiles. Título: o rodopio dos orixás. Nunca o hall do prédio, onde elas rodaram saias e balandandãs, rivalizou tanto com a apoteose da ala das baiana no Sambódromo. 

Saravá, caro Januário.

O Pipoquinha está bombando! • Por Roberto Muggiati

 

Michael Pipoquinha - Foto: Divulgação\Reprodução YouTube

Limoeiro, Letônia, qualquer lugar vale para uma boa cepa do jazz. Este vídeo mostra o baixista brasileiro Michael Pipoquinha em ação vibrante com a Big Band da Rádio da Letônia tocando Teen Town, composição do baixista do Weather Report, Jaco Pastorius.

https://youtu.be/7BEgZLC05Vk

 Nascido há 25 anos em Limoeiro do Norte, no Ceará, 

Michael Pipoquinha começou no violão aos dez anos, mas, filho de contrabaixista, logo se apaixonou pelo instrumento. Mergulhou nos estudos, ganhou bolsas e conheceu seu ídolo, Arthur Maia – aos doze anos já estudava e tocava com ele. Aos treze anos, apresentando-se no quadro “De olho nele” no Domingão do Faustão, chamou a atenção do país em rede nacional. Já então Pipoquinha ganhava espaço com seus vídeos caseiros no YouTube e não parou mais – seus vídeos na internet chegam a milhões de visualizações.

Já na época, ao ouvi-lo pela primeira vez, um crítico exultou: “Pipoquinha é Pastorius puro!”, referindo-se ao gênio trágico do baixo, surrado até morrer, aos 35 anos, numa briga de bar na Flórida. Pipoquinha nunca escondeu sua admiração por Pastorius. “Uma gravação que realmente me marcou é Jaco tocando ‘Havona’ com o Weather Report. Tenho muitos heróis: na área do baixo seriam Jaco, Arthur Maia, Sergio Groove, Thiago do Espírito Santo, Victor Wooten, Nico Assumpção, John Patitucci e o grande Luizão Maia.”

Além dos milhares de ouvintes cativos da internet, Michael Pipoquinha tem conquistado fãs em apresentações ao vivo na Europa, África e América do Sul. Tocando o baixo elétrico com a velocidade de um cavaquinho, “Little Popcorn” fez uma feliz fusão das raízes nordestinas com o jazz, mais precisamente, com o bebop – um som que poderíamos chamar de forrop. “Minha maior alegria é comover as pessoas e leva-las à sensação de que realmente a música cura a alma”.

OUÇA MAIS: PIPOQUINHA NO XODÓ

https://www.youtube.com/watch?v=nfr7-f3Cr_8

quarta-feira, 30 de junho de 2021

Que futebol é esse? A 'bolinha' da Copa América

Chupa, Melania. Jill Biden é capa da Vogue

por Clara S. Britto
Durante o mandato de Donald Trump, Melania Trump bem que se esforçou. Selecionou figurinos, gastou tubos de botox, abusou das griffes, mas não conseguiu um sonho: ser capa da Vogue americana. A revista declinou. Colocar o sobrenome Trump na capa seria avalizar o neo fascismo do magnata presidente. E assim Melania virou uma sem capa. Agora, na solidão da sua suite, uma espécie de chambre na torre, em Mar-a-Lago, na Flórida, teve o desprazer de ver a rival, Jill Biden, emplacar capa da Vogue logo no primeiro ano de Casa Branca.

Sobrou para o vinho

 Pô, aí já ‘tão de sacanagem com os enófilos: depois de batizarem mutações do vírus de ‘cepas’, agora inventaram os ‘sommeliers’ de vacinas...”

segunda-feira, 28 de junho de 2021

Fotojornalismo - Manchete na Passeata dos Cem Mil: Hasselblad e cores numa hora dessas?

Paulo Scheuenstuhl, Vieira de Queiroz e Antonio Trindade fotografaram em cores a Passeata dos Cem Mil, em 26 de junho de 1968, no Rio, há  53 anos. 

Fotos Manchete


A igreja católica representada na manifestação: padres e... 

...freiras contra a ditadura.

Artistas desafiam a opressão: na extremidade dessa ala vê-se Tonia Carrero e Domingos de Oliveira...


e Grande Otelo. Fotos Manchete

por José Esmeraldo Gonçalves 

Os jornais eram em preto e branco, a TV idem, os cinejornais e documentários que registravam cenas dos protestos, também. A Veja não existia, O Cruzeiro estava falido e decadente. 

Em junho de 1968, mês de intensas manifestações contra a ditadura, fotojornalistas cariocas captaram cenas memoráveis com suas Nikon F e Pentax. As lendárias Rolleiflex que pontificaram na Manchete nos anos 1950 e até inicio da década de 1960 estavam aposentadas. 

Nas mochilas, quase todos os profissionais, incluída a equipe da Fatos & Fotos, carregavam "cargas" de filmes em p&b. 

Menos a Manchete, que reservava páginas coloridas para a cobertura das passeatas. E, com um detalhe, alguns fotógrafos da Bloch trabalhavam com a pesada Hasselblad, pouco adequada para ocasiões como aquela. Normalmente, esse tipo de câmera tinha um visor próprio para ser utilizado à altura da cintura, mas havia um adaptador que  possibilitava ser operada acima, ao nível do olhar do fotógrafo. Havia uma explicação para a Hasselblad, muito usada em estúdio, ir para as ruas; Adolpho Bloch  preferia abrir as tradicionais páginas duplas da revista a partir de cromos 6X6, o formato ampliado da famosa câmera de origem sueca. Gráfico por excelência e rigoroso quanto ao padrão de qualidade de impressão, o criador da Manchete confiava nos bons resultados do formato 6X6. Por isso, havia sempre um fotógrafo equipado com Hasselblad em meio aos protestos no centro do Rio reprimidos com violência e balas reais naquele ano especialmente conturbado. Claro que os outros três ou quatro que completavam as equipes trabalhavam com câmeras 35mm que lhes davam muito mais agilidade. 

Curiosamente, a maior parte da cobertura jornalística de Maio de 68, em Paris, também foi feita em P&B. Coube à revista ilustrada Paris Match registrar algumas manifestações em cores. 

Em 6X6 ou 35mm, o fato é que os fotógrafos da Bloch produziram um vasto e importante material colorido das manifestações de 1968. Pena que tais cromos estejam virtualmente desaparecidos desde que foram leiloados pela Massa Falida da Bloch Editores. 

É grande a possibilidade da memória em escala cromática da luta da Geração 1968 contra a ditadura tenha apodrecido em uma "galinheiro" do interior do Estado do Rio de Janeiro.