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sábado, 2 de junho de 2018

1958 - A histórica edição da Manchete Esportiva que pode inspirar a seleção de Tite

A histórica capa dupla da Manchete Esportiva em 1958


Uma rara foto do famoso gol de Nilton Santos contra a Áustria, quando ele conduziu a bola de área a área.
Foto de Jáder Neves

A crônica especial de Nelson Rodrigues. Reprodução Manchete Esportiva

Gol de Vavá contra a Rússia. Fotos de Jáder Neves

Reprodução Manchete Esportiva

O gol de Pelé contra País de Gales. Reprodução Manchete Esportiva


Vavá vence Yashin, o lendário goleiro da então URSS. Foto de Jáder Neves

Pelé e Garrincha em Hindas, a concentração da seleção brasileira na Suécia. Foto de Jáder Neves

Nilton Santos e Garrincha. Foto de Jáder Neves

Em contraste com os treinadores engravatados de hoje, a larga informalidade do técnico Vicente Feola.
Reprodução Manchete Esportiva

Didi em missão difícil: falar como Brasil ao telefone usando as conexões de 1958.

Didi no lago de Hindas e... .

... cumprimentando o Rei da Súécia, Gustavo Adolfo, após a conquista da Jules Rimet.. Foto Jáder Neves

A emoção do menino Pelé entre Djalma Santos e Garrincha. Foto Jáder Neves
Gilmar, Orlando, Garrincha, Zito.


O massagista Mário Américo dispara no gramado para tomar a bola do jogo que o juiz queria levar para casa..
Foto de Jáder Neves 

por José Esmeraldo Gonçalves

Não seria má ideia fazer rodar de mão em mão em Sochi, a concentração do Brasil na Rússia, este raro exemplar da Manchete Esportiva. Pode ser o toque final de inspiração para incendiar o talento de Neymar, Philippe Coutinho, Willian, Gabriel Jesus, Casemiro, Marcelo &Cia.

No dia 29 de junho de 1958, a seleção brasileira venceu a Suécia por 5 X 2 e ganhou pela primeira vez a Copa do Mundo. Os enviados especiais Ney Bianchi e Jáder Neves produziram ao longo daquele mundial metros de laudas e centenas de fotos detalhando a campanha histórica.

No Rio, a redação da revista, com Augusto Rodrigues, Nelson Rodrigues, Paulo Rodrigues, Arnaldo Niskier e Ronaldo Bôscoli foi mobilizada para reunir todo o material, incluindo a preparação da seleção em Araxá e Poços de Caldas, cenas de bastidores e o passo a passo da jornada até chegar à Jules Rimet.

Quando a edição inundou as bancas, a euforia da torcida estava no auge. Depois do desastre da Copa de 1950 e da participação tímida na Copa de 1954, o Brasil vivia finalmente a "vertigem do triunfo", nas palavras de Nelson Rodrigues, que assinava duas páginas da revista.

"A partir do momento em que o Rei Gustavo, da Suécia, veio apertar as mãos dos Pelés, dos Didis, todo mundo aqui sofreu uma alfabetização súbita. Sujeitos que não sabiam se gato se escreve com "x" ou não iam ler a vitória no jornal. Sucedeu essas coisa sublime: analfabetos natos e hereditários devoraram matutinos, vespertinos, revistas, e liam tudo com uma ativa, devoradora curiosidade, que iam do lance a lance da partida, até os anúncios de missa. Amigos, nunca se leu e, digo mais, nunca se releu tanto no Brasil", escreveu o cronista. 

E mais adiante, em tom épico, escaneou com precisão o sentimento das ruas.

"Do presidente da República ao apanhador de papel, do ministro do Supremo ao pé-rapado, todos aqui percebem o seguinte: é chato ser brasileiro! Já ninguém tem mais vergonha de sua condição nacional. E as moças na rua, as datilógrafas, as comerciárias, as colegiais, andam pelas calçadas com um charme de Joana d'Arc. O povo já não se julga mais um vira-latas. Sim, amigos, o brasileiro tem de si mesmo uma nova imagem; ele já não se vê, na generosa totalidade das suas virtudes pessoais e humanas. Vejam como tudo mudou. A vitória passará a influir em todas as nossas relações com o mundo. Eu pergunto: que éramos nós? Uns humildes. O brasileiro  fazia-me lembrar aquele personagem de Dickens que vivia batendo no peito: - Eu sou um humilde! Eu sou o sujeito mais humilde do mundo! Ele vivia desfraldando essa humildade e a esfregando na cara de todo mundo. E se alguém punha em dúvida a humildade, eis o Fulano esbravejante e querendo partir caras. Assim era o brasileiro. Servil com a namorada, com a mulher, com os credores. Mal comparando, um S. Francisco de Assis, de camisola e alpercatas". 

Hoje, 60 anos depois, Nelson veria que o Brasil está de novo de alpercatas e camisolas. Agora moralmente mais esfarrapadas.

Não é o futebol que vai mudar a chamada conjuntura dos cafajestes, mas se a TV mostrar menos a seleção titular dos corruptos e mais o time de Tite já melhora o astral.

Nem que seja por alguns dias.

Só um ópio passageiro...

A propósito, repararam que a seleção não foi a Brasília se despedir dos mandatários, como era tradição? E Tite já declarou que se ganhar a Copa não vai subir a rampa do Palácio do Planalto, outra regra do passado.

Decisão saudável essa de não frequentar ambiente insalubre.

Vai evitar contaminação por elementos tóxicos.