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domingo, 20 de março de 2022

Frase do dia

 "Repara que o outono é mais estação da alma do que da natureza" 

Carlos Drummond de Andrade (1902-1987)

quarta-feira, 7 de novembro de 2018

Há 50 anos • BEATLES: Caetano traduz o “álbum branco” para a Veja • Por Roberto Muggiati

Veja/Reprodução/Clique 2x para ampliar

Veja/Reprodução/Clique 2x para ampliar


Veja, 1968
por Roberto Muggiati

Na saída do filme Zuza Homem do Jazz, no Festival de Cinema do Rio, meu amigo Tárik de Souza, que trabalhava comigo na Veja em São Paulo há 50 anos, me faz uma reclamação – justíssima – com todo o peso de meio século.

Realmente, na matéria que publiquei no Panis sobre o turbulento primeiro ano da revista semanal de informação da Abril, esqueci de registrar outro feito da nossa editoria de Artes e Espetáculos. Em 22 de novembro de 1968 – uma sexta-feira – saía na Inglaterra o lendário “álbum branco” dos Beatles.

Seguindo as instruções de uma operação planejada com o rigor do lançamento de um foguete da NASA, nosso correspondente em Londres correu a uma grande loja de discos e comprou o vinil duplo, despachando-o imediatamente pelo malote da Varig para São Paulo. Na segunda-feira, 25/11, eu recebia o precioso álbum na redação e naquela noite mesmo, Tárik de Souza, repórter de música, ia buscá-lo em minha casa no Pacaembu e o levava esbaforidamente no seu Jeep para o apartamento de Caetano Veloso, na Avenida São Luís.

O tropicalista traduziu seis letras das trinta totais do revolucionário disco, que trazia as posturas politicamente ambíguas de John Lennon em Revolution 1 e Revolution 9.  Elas saíram publicadas na edição de 11 de dezembro de 1968 (prestem atenção: dois dias antes da sexta-feira 13 que nos brindou com o AI-5...).

A capa daquela edição era um besteirol pop sobre Pelé enquanto a Copa do México não vinha.

Curiosamente: a Realidade, mensal da Abril, foi na cola de nossa ideia e encomendou a tradução de letras do “álbum branco” a Carlos Drummond de Andrade. Se não me engano houve duas coincidências: Caetano e Drummond traduziram o curto e grosso Why Don’t We Do It In The Road?/Por que a gente não faz na estrada mesmo? e Blackbird/Pássaro preto. Pena que eu não tenho à mão as traduções do Drummond, mas posso garantir que foi um duelo mortal entre nossos dois grandes poetas, o mineiro e o baiano. Ah, sim, um detalhe típico daqueles Anos de Chumbo que começavam. Não conseguimos pagar o cachê combinado com Caetano porque ele estava preso incomunicável em local ignorado. Acho que o dinheiro depois foi repassado ao seu empresário Guilherme Araújo, quando Caetano e Gil iniciavam seu exílio londrino.

quinta-feira, 19 de novembro de 2015

Marianne e Mariana: rimas sem solução - The horror! The horror! (Joseph Conrad, "O Coração das Trevas"


Marianne no quadro de Delacroix/Reprodução

Marianne. Reprodução

Mariana (MG): o drama. Foto de Ricardo Moraes/Reuters/Reprodução Facebook
Drummond/Reprodução Internet
Por ROBERTO MUGGIATI

O rosto dela você encontra por toda parte: nas moedas francesas do euro, em selos do correio, em timbres de documentos do governo, em carimbos públicos, em bustos nos parques e nas praças, em telas nos melhores museus, nos vestíbulos das Prefeituras e dos Tribunais de Justiça. Marianne é o símbolo nacional da República Francesa
Uma escultura de bronze de Marianne, O triunfo da República, pousada sobre seu pedestal, vigia a Place de la Nation, em Paris. É a praça que o Boulevard Voltaire – via eleita das grandes manifestações democráticas na capital francesa – liga à Place de la République; as duas praças e o boulevard: o epicentro dos sangrentos atentados do Treze de Novembro.
Poucas obras expressaram melhor a crueldade do homem contra o homem do que o romance de Joseph Conrad, "O coração das trevas" (1902). As últimas palavras do protagonista – o mea culpa do colonialista predador – ecoam até hoje: “The horror! The horror!” Não fosse o ranzinza Ezra Pound, T.S. Eliot teria usado a frase como epígrafe do seu poema The Waste Land/A terra desolada (1922), que aceitaria melhor hoje a tradução mais pontual de A terra devastada. 
Marianne, Mariana, a Terra devastada, são desastres que se atropelam num planeta que parece ter perdido o prumo. À denominação poética de Vale do Rio Doce opõe-se toda a carga de destruição – obra do descaso do homem pelo homem – provocada pela morte anunciada do vasto ecossistema atingido por um dos maiores desastres ambientais de todos os tempos. E tinha de ser logo aqui? Pior é que tinha, por estarmos nas mãos de uma administração – de múltiplas administrações – feitas de politicagem e corrupção, enfim de rejeitos humanos (ou seriam desumanos?)
Fiquei a pensar o que nosso poeta maior de Minas, o doce Carlos Drummond de Andrade, pensaria amargamente desse castigo ao seu solo querido. E não é que ele previu tudo? Poucos anos antes de sua morte, em 1984, Drummond publicou o poema que parece ser o retrato do desastre que destruiu o Rio, antes Doce.

LIRA ITABIRANA
I

O Rio? É doce.
A Vale? Amarga.
Ai, antes fosse
Mais leve a carga.

II

Entre estatais
E multinacionais,
Quantos ais!

III

A dívida interna.
A dívida externa
A dívida eterna.

IV

Quantas toneladas exportamos
De ferro?
Quantas lágrimas disfarçamos
Sem berro?

Arrematando, faço um arremedo do final de outro poema famoso seu:

Mundo, vasto mundo,
Dessa vez fomos fundo. . .

domingo, 1 de março de 2015

Em 1965, o Rio comemorava 400 anos e a revista Seleções lançava uma edição especial que reunia os principais cronistas brasileiros ... Revisite a alma da cidade na visão de alguns nomes de uma brilhante geração de jornalistas e escritores

Em dezembro de 1964, chegou às bancas um suplemento especial de Seleções do Reader's Digest em comemoração ao 4° Centenário do Rio de Janeiro que seria celebrado no dia 1° de março de 1965. A partir de uma ideia simples, a revista fez uma edição memorável. Entre os cronistas convidados a saudar a Cidade Maravilhosa estavam Elsie Lessa, Carlos Drummond de Andrade. Sérgio Porto, Henrique Pongetti, Cláudio Mello e Souza, Ismênia Dantas, Luiz Lobo, J. Ramos Tinhorão, Antonio Callado, Lúcio Rangel e Genolino Amado, Abaixo, reproduzimos algumas dessas crônicas que procuraram traduzir a alma carioca. Clique nas imagens para ampliar.


CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE - CORREIO DA MANHÃ



ISMÊNIA DANTAS, SELEÇÕES DO READER'S DIGEST




 SÉRGIO PORTO, ÚLTIMA HORA (O STANISLAW PONTE PRETA FOI COLUNISTA DA FATOS & FOTOS ONDE TAMBÉM PUBLICAVA "AS CERTINHAS DO LALAU)





HENRIQUE PONGETTI, MANCHETE E O GLOBO



ALGUNS ANÚNCIOS DA EDIÇÃO ESPECIAL DE SELEÇÕES PARA O QUARTO CENTENÁRIO DO RIO
Na edição especial de Seleções, o logotipo do 4° Centenário na homenagem da Shell...

... a mensagem da Panair e...

da Vemag, que naquele ano criou a linha Rio de carros.