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sábado, 26 de outubro de 2019
O desastre ecológico no Nordeste e a cenografia do ministro...
Federico Fellini popularizou a palavra "paparazzi" ao focalizar em "La Dolce Vita" os fotógrafos de celebridades que gravitavam em torno da Via Veneto, em Roma. Com imensa capacidade de desmoralizar qualquer coisa - até o VAR sucumbiu aos trópicos - o Brasil acaba de comprometer a dura labuta dos "paparazzi".
Veja a foto acima publicada hoje no Globo. É assinada por Genival Paparazzi. Mostra o ministro do Turismo Marcelo Álvaro Antonio, do PSL, e que é formalmente acusado pelo MP de apropriação de recursos eleitorais e associação criminosa, "testando" e aprovando a praia de Muro Alto, em Pernambuco, em plena maré de óleo que assola o Nordeste.
O ministro quis dar a impressão de que o desastre ecológico que o governo levou quase um mês para combater e ainda combate mal acabou. Tentou passar o recado fake de que turistas e locais já retomam a doce rotina praieira. Não é verdade. Enquanto ele posava nesse ponto do litoral, mais óleo desembarcava em muitas outras regiões.
Mas a foto é que é curiosa. Observem o "flagrante". A praia pernambucana parece, na verdade, muçulmana ou evangélica fundamentalista. A maioria dos banhistas está vestida. Alguns até agasalhados, de mangas compridas. O ministro finge que desafia a poluição mas, precavido, botou apenas os pezinhos na água supostamente, segundo ele, limpa.
Situação ridículo, se não fosse poluída.
ATUALIZAÇÃO - 27/10/2019 - A praia de Muro Alto, em Pernambuco, no momento em que o ministro do Turismo posou de fake news, estava imprópria para banho. Havia óleo na água. A informação é da Agência Estadual de Meio Ambiental de Pernambuco.
quinta-feira, 19 de novembro de 2015
Marianne e Mariana: rimas sem solução - The horror! The horror! (Joseph Conrad, "O Coração das Trevas"
Marianne no quadro de Delacroix/Reprodução |
Marianne. Reprodução |
Mariana (MG): o drama. Foto de Ricardo Moraes/Reuters/Reprodução Facebook |
Drummond/Reprodução Internet |
Por ROBERTO MUGGIATI
O rosto dela você encontra por toda parte: nas moedas francesas do euro, em selos do correio, em timbres de documentos do governo, em carimbos públicos, em bustos nos parques e nas praças, em telas nos melhores museus, nos vestíbulos das Prefeituras e dos Tribunais de Justiça. Marianne é o símbolo nacional da República Francesa
Uma escultura de bronze de Marianne, O triunfo da República, pousada sobre seu pedestal, vigia a Place de la Nation, em Paris. É a praça que o Boulevard Voltaire – via eleita das grandes manifestações democráticas na capital francesa – liga à Place de la République; as duas praças e o boulevard: o epicentro dos sangrentos atentados do Treze de Novembro.
Poucas obras expressaram melhor a crueldade do homem contra o homem do que o romance de Joseph Conrad, "O coração das trevas" (1902). As últimas palavras do protagonista – o mea culpa do colonialista predador – ecoam até hoje: “The horror! The horror!” Não fosse o ranzinza Ezra Pound, T.S. Eliot teria usado a frase como epígrafe do seu poema The Waste Land/A terra desolada (1922), que aceitaria melhor hoje a tradução mais pontual de A terra devastada.
Marianne, Mariana, a Terra devastada, são desastres que se atropelam num planeta que parece ter perdido o prumo. À denominação poética de Vale do Rio Doce opõe-se toda a carga de destruição – obra do descaso do homem pelo homem – provocada pela morte anunciada do vasto ecossistema atingido por um dos maiores desastres ambientais de todos os tempos. E tinha de ser logo aqui? Pior é que tinha, por estarmos nas mãos de uma administração – de múltiplas administrações – feitas de politicagem e corrupção, enfim de rejeitos humanos (ou seriam desumanos?)
Fiquei a pensar o que nosso poeta maior de Minas, o doce Carlos Drummond de Andrade, pensaria amargamente desse castigo ao seu solo querido. E não é que ele previu tudo? Poucos anos antes de sua morte, em 1984, Drummond publicou o poema que parece ser o retrato do desastre que destruiu o Rio, antes Doce.
LIRA ITABIRANA
I
O Rio? É doce.
A Vale? Amarga.
Ai, antes fosse
Mais leve a carga.
II
Entre estatais
E multinacionais,
Quantos ais!
III
A dívida interna.
A dívida externa
A dívida eterna.
IV
Quantas toneladas exportamos
De ferro?
Quantas lágrimas disfarçamos
Sem berro?
Arrematando, faço um arremedo do final de outro poema famoso seu:
Mundo, vasto mundo,
Dessa vez fomos fundo. . .
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