Samuel Beckett: cabeça de bala de fuzil
Foi
na última vez que vi Orly, voltando definitivamente para o Brasil, depois de
dois anos de Paris e três de Londres. Na antessala de embarque do aeroporto, vi
de repente aquela cabeça única, inconfundível. Samuel Beckett, no bar, tomava
cerveja (nada mais dublinense) descontraidamente – logo ele? – com três
rapazes, pinta de irlandeses. Beckett tinha 59 anos, parecia sem idade,
imortal. Daí a quatro anos ganharia o Nobel. Atrás de uma coluna, num canto,
Godot espreitava. Ao ver aquela cabeça incrível, bala de fuzil, congelei. Seis
anos antes, em Curitiba, eu tinha lido o livro-fetiche do Luiz Carlos Maciel, Samuel Beckett e a solidão humana. O
homem era um monumento. Foi a única ocasião na vida em que eu – anarquista e
ateu – quase acreditei ter visto Deus de perto. Em tempo: Godot é um trocadilho bilíngue de Beckett juntando God – Deus em inglês – com o sufixo
diminutivo francês ot (inho)...
domingo, 4 de junho de 2023
Encontrando Godot • Por Roberto Muggiati
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Humor negro, como Beckett usou, é a melhor arma contra a realidade
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