domingo, 16 de agosto de 2015

"Jovem Guarda" comemora 50 anos. Mas apenas cinco anos depois da estreia do programa da TV Record, que consolidou o sucesso do iê-iê-iê, a Fatos & Fotos já duvidava do futuro de Roberto Carlos. E o próprio cantor achava que faria carreira no cinema e se dedicaria a estudar música e orquestração.

Na capa da Fatos & Fotos, em 1969, dúvidas sobre o futuro de Roberto Carlos.




Em 1969, RC tinha 26 anos. A Fatos&Fotos pediu à pintora Marília Brito que mostrasse como ficaria o rosto do cantor ao 40 anos, em 1984. A artista plástica o desenhou mais gordo, com rugas e pés-de-galinha e uma peruca para esconder a calvície.




por José Esmeraldo Gonçalves
O programa "Jovem Guarda", da TV Record, entrou no ar em 1965, há 50 anos. Embora Roberto Carlos e sua turma já frequentassem algumas paradas de sucesso, a data marcou o começo do movimento musical que "traduzia" o rock para a juventude brasileira. O programa estreou no dia 22 de agosto  e ficou no ar até 1968. Com a ditadura já evoluindo no palco político, as músicas de protesto ou "engajadas", como se rotulava, ganhavam mais espaço. Em 1969, o programa "Jovem Guarda" era passado e o cast do iê-iê-iê continuava rebolando mas, no caso, em busca de novos caminhos. Muitos, como o próprio Roberto, trocaram a irreverência pelo romantismo. Por isso, a Fatos & Fotos, em dezembro de 1969, edição 462, fez uma matéria de capa com o cantor. Na chamada, lançou uma questão: Quanto vai durar Roberto Carlos? A repórter Margarida Autran entrevistou o "rei da Jovem Guarda" e, logo na abertura do texto, constatou: "Ele mudou. Parece mais tranquilo, mais maduro. Embora esconda seus 26 anos sob um ar de 22, assim como disfarça um princípio de careca com a franja puxada sobre a testa (...) Fala quase sem gírias - passou o tempo da brasa, mora. De rei da jovem Guarda restam apenas dois anelões na mão direita e a pulseira de corrente com o seu nome: Roberto Carlos". 
Na entrevista, o próprio Roberto falava, ainda, sobre novos rumos. "Vou me dedicar ao estudo da música de uma forma mais profunda. Talvez até fazer orquestrações". Na época, ele filmava "Diamante Cor-de-Rosa" (seu segundo filme, após "Roberto Carlos em Ritmo de Aventura'. Talvez seduzido pelas câmeras, achava que faria carreira no cinema. O diretor Roberto Farias arriscava dizer que, de um cantor que fazia cinema, RC se tornaria uma ator que cantava. E revelou o tema do seu próximo filme: "Será uma história real, acontecida no Rio de Janeiro há dez anos, de um professor de violino que se apaixona pela aluna. Os dois se matam e seu enterro é acompanhado por uma multidão". O filme não foi feito, Roberto não se tornou um maestro e, ao contrário da chamada de capa, que lançava dúvida sobre seu futuro, permaneceu no cenário musical. Dali pra frente, parodiando uma das suas canções, tudo foi diferente: a revista não acertou suas previsões e Roberto, muito menos, cravou seus projetos de estudar orquestração e fazer carreira no cinema. Mas, ironicamente, sobreviveu à Fatos & Fotos, que deixou de circular regularmente em 1984.



Um comentário:

Wedner disse...

O que mostra que previsões não combinam com jornalismo