quinta-feira, 8 de fevereiro de 2018

Comitiva do Temer para o feriadão do Carnaval já está na Marambaia


O staff de Temer já está a postos para o feriadão de Carnaval. 
por O.V.Pochê

Temer formou um galera de 60 pessoas para acompanhá-lo à Restinga de Marambaia, onde passará o Carnaval. Só a primeira-dama Marcela, segundo revelou o colunista Lauro Jardim, do Globo, requisitou 20 funcionários. Depois da repercussão da megacomitiva do megafarofão, o  Gatsby do Planalto teria reduzido o staff para 40 pessoas. O problema é que alguns deputados de folga teriam pedido para fazer parte do bloco do feriadão em troca de voto favorável à reforma da Previdência. Pode ser incalculável o quorum do fim de semana.
Se você voar pela ponte-aérea e ocupar o lado direito da cabine no trajeto Rio-São Paulo e, na volta, acomodar-se na janela do lado esquerdo, provavelmente verá a turma à milanesa na faixa de areia da Marambaia. O staff e os parças já chegaram. Um internauta enviou para o blog a foto acima. 

Notícia sem auxílio moradia...

Luiz Fux tomou posse no TSE e o Globo publicou ontem uma longa entrevista com o ministro, que ocupou toda a página 3 do jornal. Digamos que o texto tenha 1.500 palavras ou perto disso. Nenhuma delas é "auxílio" ou "moradia". Fux é o protagonista do escândalo que resultou dessa farra de privilégios. Há três anos, ele determinou em liminar o pagamento da inacreditável "mordomia" a todos os juízes.Além disso, tem uma filha desembargadora que é beneficiária da sua decisão.

Hoje, na Folha, Jânio de Freitas escreve: "Luiz Fux está poupado em uma situação grave da qual é o criador. E o será, ainda, da provável consequência onerosa do julgamento pelo Supremo, quando ocorrer e seja qual for o resultado: com o tempo, o assunto chegou a um nível de tensão em que o vencido, ou se julgará usurpado, ou, sendo outro, acirrará a exaltação lançando-a também contra o Supremo".

Não importa ao jornalismo se o "tema" da entrevista era o TSE. Notícia não se submete a "tema".

Há várias hipóteses: os repórteres não fizeram a pergunta sobre o auxílio aluguel; ou perguntaram e o ministro não respondeu, e isso deveria estar registrado no texto; o editor recomendou aos repórteres que não tocassem no assunto; ou a entrevista foi "negociada", com o ministro aceitando receber os repórteres com a condição de não falar no escândalo da mensalidade amiga das moradias. .

Em nenhuma das variáveis acima o jornalismo fica bem na fita.

Do Jornalistas & Cia: Jornal do Brasil às vésperas da volta da edição impressa

Reproduzido da edição n°1.139 do  informativo Jornalistas & Cia, de 7 a 14 de fevereiro de 2018.

Folha abandona Facebook e Mark Zuckerberg ameaça atear fogo às vestes...


por O.V. Pochê 

A Folha congela conta no Facebook. O jornalão está incomodado com a nova política de Mark Zuckerberg, que reduz a visibilidade das empresas de midia e privilegia conteúdo individual.
Vizinhos da mansão do empresário revelam que ele está sem dormir desde então.

Não se sabe qual será o futuro do Face sem as opiniões e o noticiário dos Frias. Zuckerberg teria se desesperado.

A família teme que, sem a Folha, ele se refugie nas drogas ou na Cientologia.

Ao lado, a dramática reação do Zuck no momento em que foi informado que a Folha discutiu a relação parou com o Facebook.

quarta-feira, 7 de fevereiro de 2018

Fatos & Fotos...

Inverno complicado: Paris tem, agora, a maior nevasca desde 1987 e... 

...há poucos dias, sofreu com uma grande cheia do rio Sena. Fotos Prefeitura de Paris
Viaduto que já estava condenado desaba em Brasília. Foto Agência Brasil
Vem Doar pra Mim: é a quarta edição do bloco que apela para a solidariedade dos cariocas e convoca a popuação a doar sangue no Hemorio. Foto Agência Brasil

Operação da PM em apenas uma favela - a do Bateau Mouche, na Praça Seca, Jacarepaguá, no Rio, apreendeu 104 motocicletas.  Dados do ISP (Instituto de Segurança Pública) apontam que 93% dos crimes de roubos a transeuntes, veículos e letalidade violenta, são praticados por criminosos utilizando motocicletas. Foto PMRJ

Circula nas redes sociais: ensaio geral para o Lava-Pé da Semana Santa no STF. Reprodução Twitter

Lembra do computador HAL, do filme "2001 - Uma odisseia no espaço"? Descendentes dele são acusados de ter derrubado o mercado financeiro global na última segunda-feira

Como o computador HAL 9000, do filme "2001-Uma odisseia no espaço", que assumiu o controle da nave
Discovery, programas de inteligência artificial começam a mandar em Wall Street.  

por Flávio Sépia

Confira no noticiário: a palavra da semana é... "volatilidade". Foi usada à exaustão nas últimas semanas em matérias sobre bitcoins. A bitcoin é, você sabe, uma das manifestações "anarquistas" da internet. Criou, virtualmente, através de algoritmos, um sistema financeiro paralelo e global.

As instituições financeiras tradicionais, bancos e bolsas de valores, reagem, sentem-se ameaçadas, e acusam as moedas virtuais de montarem um esquema de "pirâmide". Não são confiáveis, e não passam de uma bolha - dizem. De fato, a bitcoin e outras criptomoedas tiveram suas cotações disparadas e, agora, entraram em queda brutal. Muita gente perdeu dinheiro. São "voláteis", são ameaças ao sistema financeiro mundial, repercute a mídia, que pede intervenção das autoridades.

Com a violenta queda da Bolsa de Valores de Nova York, na segunda-feira, a "volatilidade" ganhou mais força ainda nos cadernos de economia, além de ter dado prejuízo a muitos investidores. Só que atingiu o mercado tradicional. E há também algoritmos nessa sombra. No ano passado, o Wall Street Journal alertou que os "robôs de investimento", que fazem transações autônomas em milésimos de segundo, começam a prevalecer na Bolsa de Valores de Nova York. São algoritmos que determinam a compra e venda papéis em uma velocidade que deixa operadores humanos a anos-luz de distância. Mesmo pré-progamados, eles agem tão rápido que operadores não conseguem reverter suas decisões, a não ser depois de efetivadas e, às vezes, com consequências catastróficas.

A inteligência artificial que faz transações financeiras tem sido comparada ao computador HAL, do filme 2001- Uma odisseia no espaço. Já se "empoderou" como registra outra expressão em moda.

"A venda atual do mercado global foi impulsionada por computadores e não pelos receios dos comerciantes em relação aos indicadores de mercado", disse à NBC, ontem, um estrategista da consultoria Lombard Odier.

A mídia americana acusa esses robôs de investimento de terem provocado a recente queda da bolsa em mais de 800 pontos em cerca de cinco minutos.

Se a bitcoin é movido a algoritmos, e, agora, os mercados financeiros tradicionais tem os "robôs investidores", haja "volatilidade" em um mesmo dia.

Na criptomoeda ou nas bolsas, economistas indicam que quem corre risco de se "volatilizar" é o investidor comum.

No mercado financeiro brasileiro, pelo que se sabe, há uma empresa que usa robô apenas como consultor, ainda não como operador direto.

A Bolsa de Valores de São Paulo sofreu as consequências da atuação dos robôs investidores de Wall Street e nem anotou a placa do caminhão que a atropelou.

A partir de agora, quando você ouvir ou ler colunistas engravatados ou de terninhos interpretando tendências do mercado financeiro e agências de risco fazendo previsões, pergunte se o distinto ou a distinta conversou com os robôs.

Fotógrafo da Magnum mostra a destruição da Mata Atlântica e o trabalho de cientistas que encontram na floresta respostas para o passado remoto do Brasil



O Brasil é destaque no site da Magnum. Uma série de fotos de Moises Saman mostra a devastação da Mata Atlântica, em Parelheiros, na Grande São Paulo. Mas a região ainda possui uma área restrita, relativamente intocada, dentro da chamada Bacia de Colônia, que recebe cientistas - entre os quais Marie-Pierre Ledru, do Instituto Francês de Pesquisa e Desenvolvimento - à procura de amostras de plantas e  movidos por uma pergunta: por que as florestas tropicais são tão ricas em espécies?

"Durante várias décadas, os cientistas têm feito esta pergunta sem muito sucesso - até agora. Geralmente, quando se trata de traçar a história da Terra ao longo de centenas de milhares de anos, usamos núcleos de gelo ou sedimentos marinhos; Em casos raros, os sedimentos em lagos nos permitem rastrear os climas passados ​​das regiões temperadas. Mas nos trópicos do hemisfério sul, nenhum registro continental ainda nos permitiu juntar climas em tais escalas de tempo", escreve o peruano Moises Saman, fotógrafo da Magnum desde 2014, e autor de fotorreportagens para New York Times e Time, entre outras publicações. Ele cobriu as guerras do Iraque, Afeganistão, Síria e a Primavera Árabe,

Área devastada em Parelheiros (SP). Foto de Moises Saman/Magnum (link para o site oficial da agência, abaixo)

A cientista Marie-Pierre Ledru na Bacia de Colônia. Foto de Moises Saman/Magnum (link para o site oficial da agência, abaixo)

A Bacia de Colônia, formada há milhões de anos, é um campo excepcional para pesquisa. O trabalho dos cientistas, apoiado pelo BNB Paribas, investiga uma região crítica onde índios guaranis ainda tentam sobreviver em meio à urbanização no entorno. A área tem um diâmetro de 3,6 quilômetros e 275 metros de profundidade. A depressão torna-se especial por ter acumulado sedimentos por centenas de milhares de anos. Através desse material, é possível investigar as mudanças climáticas do passado na floresta brasileira. Um núcleo de perfuração de 14 metros de profundidade permitiu uma análise das mudanças hidrológicas, a variabilidade das temperaturas e a biodiversidade nos últimos 250 mil anos - informa o texto no site da Magnum. Abre-se, como diz o título da matéria, uma janela para o passado do Brasil.

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terça-feira, 6 de fevereiro de 2018

A forma da água e a mídia desinformada



Por Roberto Muggiati

O sucesso do filme de Guillermo Del Toro retumbou na mídia do mundo inteiro, mas poucos jornalistas – se algum – se deram ao trabalho de falar sobre o título, que se tornou parte integral da obra, imprimindo a ela uma forte carga poética.


Elementar, meu caro, o tributo do diretor mexicano ao filme americano The Creature From The Black Lagoon/O Monstro da Lagoa Negra, embora muitos não tenham feito menção ao sci-fi p&b de 1954, que se passa na Amazônia.


O título, sim, é que não tem mistério. Pelo menos para mim. Del Toro o chupou descaradamente do romance noir italiano da Andrea Camilleri, La forma del’1acqua, publicado em 1994 (no Brasil, traduzido pela Record, em 1999, como A forma da água.).

O puxão de orelha na mídia se justifica ainda mais porque o romance foi o primeiro de uma série que lançou o comissário Salvo Montalbano, detetive de uma imaginária cidadezinha siciliana chamada Vigàta. (O nome Montalbano foi uma homenagem ao autor espanhol de romances policiais Manuel Vázquez Montalbán. Aliás, a literatura noir vive hoje um boom impressionante na Europa, deixando bem para trás a matriz do gênero, os Estados Unidos. Entre os destaques, o noir nórdico, com o sueco da série Millenium Stieg Larson – morto em 2004, mas virou franquia – o norueguês Jo Nesbo e islandês Arnaldur Indridason, da série Reykjavíc Murder Mystery – será que existe tanto crime assim na cidade de apenas 125 mil habitantes?)

A pior desinformação, no caso de A forma da água, é que o comissário Montalbano, a partir de 1999 virou uma série de TV com 32 episódios e alcançou sucesso no mundo inteiro, inclusive no Brasil, eu não perdia um. Foi tal a repercussão que a municipalidade de Porto Empedocle, cidade natal de Camilleri, mudou o nome para Porto Empedocle Vigàta, com vistas ao potencial turístico das histórias envolvendo o comissário Montalbano.

Andrea Camilleri

Graças a Montalbano, Camilleri deixou o trabalho escravo de roteirista de TV, está vivo e passa muito bem com seus 92 anos bem vividos. Só me pergunto o que ele estaria pensando ao ver hoje o seu título nas manchetes do mundo inteiro, A forma da água. Tecnicamente, caberia um processo por plágio? Ainda que coubesse, Camilleri não está nem aí, não é de esquentar a cabeça e vai preferir encolher-se num canto e soprar seu saxofone tenor, sonhando com o fraseado cool de Lester Young.

segunda-feira, 5 de fevereiro de 2018

Sobrou pra Deus...


por Flávio Sépia 
O título da Folha, hoje, é preocupante. Roberto Jefferson, presidente do PTB, delator e condenado pelo Mensalão, pretendia contratar Deus, que já anda ocupado, como seu procurador para cuidar da nomeação da filha, a deputada Cristiane Brasil, para o Ministério do Trabalho.

O Todo-Poderoso teria que fazer hora extra.

Tudo indica que Jefferson suspeita que é o Diabo que está revirando arquivos com o seu tridente e pescando processos trabalhistas, denúncias de ligações com o tráfico, videos al mare e de acusações de assédio moral a funcionários públicos para garantir votos. Daí, lembrou de passar o pepino para alguém capaz de lidar com o Chifrudo.

Segundo São Pedro, chefe do gabinete celestial, Deus mandou dizer que não está.

Manchete no Carnaval 2018: Chora me Liga, Boitatá, Gigantes da Lira, Suvaco do Cristo...

CHORA ME LIGA




FOTOS DE ALEXANDRE MACIEIRA/RIOTUR

ESCRAVOS DA MAUÁ



FOTOS DE FERNANDO MAIA/RIOTUR

SUVACO DO CRISTO
FOTOS DE FERNANDO MAIA/RIOTUR
GIGANTES DA LIRA
FOTOS DE ALEXANDRE MACIEIRA/RIOTUR
CORDÃO DO BOITATÁ
FOTO AGÊNCIA BRASIL


FOTOS RIOTUR

FOGO E PAIXÃO
FOTO DE FERNANDO MAIA/RIOTUR
BLOCO DAS TREPADEIRAS
FOTOS AGÊNCIA BRASIL

Superbowl: o que a TV não mostrou

por Niko Bolontrin

* O Superbowl milhões de pessoas viram na TV. Em Mineápolis, o Philadelphia Eagles derrotou por 41 a 33 o poderoso New England Patriots, onde joga Tom Brady, marido da modelo Gisele Bundchen. Em campo o jogo foi disputado, mas os bastidores da maior data do esporte americano também renderam notícias que a TV não mostrou. A temporada foi marcada pelo protesto

Reprodução Facebook

"Take a Knee", com centenas de jogadores em vários estádios postando-se de joelhos durante a execução do hino nacional americano para denunciar a crescente violência policial contra negros e as explosões de racismo no embalo dos apoiadores de Trump. Havia a expectativa de protesto durante o Superbowl, ontem. Não rolou. Aparentemente, nenhum jogador se ajoelhou. Já fora do estádio houve passeatas e cenas de pessoas de joelhos, apesar do frio massacrante nas ruas de Mineápolis. Nas redes sociais, internautas especulam que houve uma negociação com a NFL e os jogadores concordaram em não politizar a grande final.

Reprodução Tweeter

* A torcida foi às ruas na Filadélfia. Em princípio, para comemorar. Mas parte dos fãs lembravam as organizadas do Brasil: a "Jovem Philly" e a "Força Eagle" deles botaram fogo em latas de lixo, viraram carros, escalaram postes e toldos de hotéis.



* Não foi a noite de Tom Brady, mas ele foi um campeão de memes. As redes sociais registraram que ele chegou ao estádio vestido de Inspetor Bugiganga ou Doctor Evil, entre outros personagens. Foi pra casa sem o título. Bom, em casa ele tem a Gisele Bundchen.




Reprodução NBC

* Gisele, ainda no estádio, parabenizou o Eagles no tweeter. E mandou descer um vinho.

Reprodução You Tube

* Enquanto a Fórmula 1 demite as grid girls, as cheerleaders resistem. Estavam lá, à margem do campo, mas invisíveis para a TV.

* Fantasia - Antes do jogo, Trump, ao lado da primeira-dama, Melania, com um uniforme estilizado, recebeu cheerleaders para uma festa.

* Nenhum anunciante quis associar seu produto a "sexismo". Os principais comerciais poderiam ser exibidos tranquilamente na Arábia Saudita. Pepsi, Marvel, M&M's, Doritos etc vestiram os elencos dos pés às cabeças.

domingo, 4 de fevereiro de 2018

Fernando Pessoa em Curitiba, 1925 • A primeira fake news de Jean-Paul Lagarride

A foto que registrou um mistério: a presença de Fernando Pessoa em Curitiba, em 1925. À direita, o poeta e seu inconfundível chapéu, um Trilby clássico do começo do século passado. Ao fundo, a catedral onde o bispo  D.João Francisco Braga rezou missa pela alma de D. Maria Magdalena, mãe de Pessoa. 

por José Bálsamo

Outro dia a redação de Panis cum Ovum foi visitada por Michel Lagarride, nada menos do que o neto de Jean-Paul Lagarride, aquele que Mino Carta batizou como “bravo jornalista gascão”.

Explica-se: com seus furos internacionais, publicados pela Manchete, Jean-Paul era uma pedra no sapato do primeiro editor da revista Veja. Já se passou meio século destas cizânias e hoje Lagarride é considerado, sem nenhuma contestação, o pioneiro inventor das fake news. Faço aqui uma distinção, inspirado no cartaz de um camelô que vendia relógios em Istambul: GENUINE FAKE WATCHES!
Jean-Paul Lagarride só publicava fake news genuínas.

A preciosidade que nos foi trazida pelo neto Michel não foi um texto, mas, surpreendentemente, uma foto inédita de Jean-Paul. Com a preguiça típica da juventude, um Lagarride adolescente – que detestava escrever – tentou iniciar a carreira de repórter fotográfico com uma Leica que ganhou de um tio. Isso aconteceu justamente em Curitiba, quando Jean-Paul veio visitar o padrinho que resolvera arriscar suas economias no comércio de café no Paraná.

Mas por que cargas d’água iria Fernando Pessoa, então com 36 anos, parar em Curitiba? Depois de décadas de pesquisa intermitente – aparecia sempre uma guerra ou um golpe de estado nos lugares mais remotos do mundo, exigindo seu olho c(l)ínico e sua cobertura categorizada – Jean-Paul Lagarride conseguiu finalmente juntar as peças deste quebra-cabeças.

O acaso também o ajudou: logo depois de feita esta foto, o estranho que aparece em primeiro plano aproximou-se do garoto, que imediatamente escondeu a câmera às suas costas. Em bom português, indagou: “Ó rapazito, poderias me indicar o caminho da gare?” Como falava francês, Jean-Paul não estranhou o vocábulo e viu logo que se tratava da estação ferroviária. Com o passar do tempo – embora nunca dispusesse de tempo para ler – Lagarride foi tomando conhecimento de Fernando Pessoa e da importância de sua obra e ligando, cada vez mais, sua figura àquela do estranho com quem cruzou por acaso em Curitiba. E acabou relatando esta história no texto que acompanhava a foto, encontrada recentemente pelo neto de Lagarride numa velha caixa de sapatos num sótão parisiense.

Em 17 de março de 1925 morre em Lisboa aos 62 anos a mãe de Fernando Pessoa, D. Maria Magdalena Pinheiro Nogueira Pessoa. Na ocasião, era bispo de Curitiba, desde 1907, com o lema Amore et Fortitudine, o gaúcho de Pelotas Dom João Francisco Braga, que em 1926 se tornaria o primeiro arcebispo de Curitiba, cargo que manteria até sua renúncia em 1935. Antes de ingressar na carreira episcopal, Dom João fez o curso de humanidades na Alemanha. Durante sua estada na Europa, foi várias vezes a Lisboa, visitar um antigo sacristão seu na catedral de Curitiba, que retornara a Portugal. Este ex-coroinha era vizinho e amigo da mãe de Pessoa. Dom João não só conheceu D. Maria Magdalena, como também acabou se tornando seu conselheiro espiritual. A mãe deixara disposições funerais por escrito a Fernando Pessoa. Entre elas constava a de que, quando viesse a faltar, uma missa por sua alma fosse rezada por Dom João.

Quando a mãe morreu, Pessoa se lembrou da promessa: “Ora pois, pois, que maçada...” Mas promessa de mãe é lei. E – prosseguindo com a coleção de clichês – se a montanha não vem a Maomé, vai Maomé à montanha. Foi assim que, depois de uma intensa troca de cartas e de uma longa viagem transatlântica no paquete francês Hindoustan, o poeta aportou em Paranaguá e subiu a serra até Curitiba na genial ferrovia construída no século 19 pelos irmãos André e Antônio Rebouças. A missa em memória de Dona Maria Magdalena Pinheiro Nogueira Pessoa – o nome completo foi entoado com toda a solenidade na penumbra da catedral gélida – foi rezada às nove da manhã de um sábado hibernal, 20 de junho de 1925, Curitiba emergindo ainda da cerração.

Depois de agradecer e se despedir de Dom João – tendo antes comparecido com os polpudos óbolos – Fernando Pessoa deixou a Praça Tiradentes em demanda da gare, isto é, estação ferroviária, momento em que foi clicado para a eternidade pelo imberbe Jean-Paul Lagarride.

Enquanto isso, na Catedral, Dom João Francisco Braga, depois de ter comiserado a morte, celebrava a vida, oficiando o batizado de um bebê nascido no dia 14 de junho, Dalton Jerson Trevisan, filho de um fabricante de cerâmica curitibano. Infelizmente, esta segunda coincidência literária, Jean-Paul Lagarride não registrou.

Poderia ter-se justificado usando o desabafo canhestro do fotógrafo de Manchete Sérgio de Souza, ao receber ordens de serviço para duas matérias no mesmo horário, uma na Barra da Tijuca, outra em Niterói:

- “Que é isso, chefia? Eu não sou onipotente, não!”