sábado, 19 de setembro de 2009

Opinião Privada X Opinião Pública: a sociedade digital alternativa



Este é o debate que já está nas ruas e nas redes sociais da internet. Está no Globo de hoje, na coluna de Zuenir Ventura, sob o título O novo boca a boca. Trata-se de um tema que ganha força e entará em cartaz nas próximas temporadas, especialmente, as eleitorais. Zuenir fala sobre o livro Yes, we did ("Sim, nós fizemos), da ativista canadense Rahaf Harfoush, que relata a extraordinária mobilização popular da rede como decisiva para a eleição de Barack Obama. Em pouco tempo, eram milhares de voluntários a enviar milhões de emails em apoio a Obama, primeiro nas prévias contra Hillary Clinton, e, depois, ajudando a demolir o candidato de Bush, o republicano John McCain. Orkut, twitter, blog, facebook, youtube, flickr, todos os caminhos foram válidos na campanha alternativa para ganhar o jogo da opinião pública.
Ontem, os jornais divulgaram números de um censo do IBGE. Há dois resultados que se entrelaçam: cresceram os índices de escolaridade entre os jovens e aumentou expressivamente o número de residências conectadas à web. Há pelo menos um computador em 18 milhões de casas. Nestas, quase 14 milhões de famílias (média de 3,3 pessoas por casa ou mais de 46 milhões de brasileiros) têm acesso à rede. Some-se a isso os computadores em locais públicos (escolas e outras instituições), redes de lan house, de locais de trabalho etc, e essa estatística se expande. Não é pouca gente. Aos poucos, instala-se um elo de opinião pública - um poderoso boca a boca eletrônico a que se refere o colunista - em complemento, para contrabalançar ou em oposição ao rolo compressor da opinião privada veiculada na mídia comercial. Por definição e por fazerem parte de conglomerados econômicos, os grandes grupos de comunicação têm políticas próprias e semelhantes, são inegavelmente partidários e fazem, como fizeram, apostas claras em momentos decisivos da história política do pais. Para lembrar dois "cases": a implantação do golpe e da ditadura militar de 1964 e a eleição de Collor, por exemplo.
Estão no seu papel, literalmente.
Nos anos de chumbo, a imprensa alternativa foi uma pequena válvula de liberdade. Opinião, Movimento, Pasquim, Bondinho... eram os mais conhecidos mas havia centenas fora do eixo Rio-SP, impressos, mimeografados, distribuidos de mão em mão nas escolas, ruas, fábricas. A ditadura acabou e a comunicação alternativa permaneceu praticamente congelada até fins do anos 90, quando a internet, no Brasil, disparou a crescer em progressão geométrica. O debate político que vimos em blogs e sites na rede nas últimas eleições presidenciais terá sido nada comparando-se ao que vem por aí em 2010. Mas a ampliação dessa imensa rede, que o próprio mercado aliado a programas públicos e privados de inculsão digital impulsiona não terá influência apenas na escolha de um candidato. Como diz o colunista, o boca a boca eletrônico vai recomendar filme, peça, livro, exposição, restaurante, destinos turísticos, produtos... No final do texto, Zuenir observa, contudo, - "puxando a brasa para a minha sardinha", escreve, referindo-se à provável diminuição da influência dos formadores de opinião tradicionais - que, no Brasil, esse poder da rede de computadores ainda está longe de acontecer. Diz o jornalista que "desrespeito à autoria, boatos mentirosos e mensagens fraudadas" comprometem a credibilidade. Pode ser. Mas isso também acontece na terra do Obama e, mesmo assim, a internet teve seu peso na campanha americana. E, admitamos, "boatos mentirosos" e "mensagens fraudadas" não são "privilégio" da rede. Também frequentam a palavra impressa.
Como diria Raul Seixas, chegou a hora da sociedade (digital) alternativa.

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Dicas de leitura para quem arrematar o Arquivo Fotográfico da Massa Falida da Bloch Editores. Obras ilustradas com centenas de reproduções de fotos.

Aconteceu na Manchete - As histórias que ninguém contou (Desiderata)
Rede Manchete - Aconteceu Virou História (Coleção Aplauso - Imprensa Oficial do Estado de São Paulo


Os Irmãos Karamabloch - Companhia das Letras


O Pilão - Editora Bloch

Piada?

E o prefeito Gilberto Kassab, do Demo de SP, hein? Alegou que comer demais engorda e pretende cortar uma das refeições do dia em creches públicas. Vai tirar parte do rango de 60 mil crianças que não passam férias na Disney. A prefeitura quer reduzir o gasto mensal de R$2,85 milhões para R$2,28 milhões. Huuummmmm, deve ser essa "importante" economia que estava faltando para salvar os cofres da prefeitura de SP...

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Microfone: o vilão ataca


Em setembro de 1994, o então ministro da Fazenda Rubens Ricúpero conversava com o repórter Carlos Monforte, no estúdio da Globo em Brasília, pouco antes da gravação de uma entrevista. O tema do bate-papo informal era o IPC, o índice de preços ao consumidor, de agosto, publicado pelo IBGE. Ricúpero considerava alto o número apontado pelos pesquisadores. O então ministro não sabia mas o microfone estava ligado e captou o diálogo. Estimulado pelo repórter a revelar as previsões do IPC de setembro, ele diz que deveria conversar antes com os economistas da Fazenda: "Senão eles me matam. Vão dizer: 'Pô, você proibiu da vez anterior quando (o índice) era ruim, agora que é bom...' No fundo é isso mesmo. Eu não tenho escrúpulos. O que é bom a gente fatura, o que é ruim, esconde". No último domingo, dia 13, foi a vez de Barack Obama cair na mesma armadilha. No momento em que aguardava entrar no ar para uma entrevista, o presidente americano assistia nos bastidores da CNBC a transmissão de uma premiação da MTV americana.Na tela, viu o rapper Kanye West invadir o palco grosseiramente e interromper a cantora Taylor Swift, que agradecia o troféu de Melhor Clipe, para dizer que a vencedora deveria ter sido a Beyoncé. O microfone captou a reação de Obama: "Jackass (babaca). Por que ele fez aquilo?". Kanye West foi vaiado, depois pediu desculpas e revelou que bebera uma garrafa de conhaque antes do prêmio e o "jackass" presidencial corre o mundo. Diferença entre Ricupero e Obama? O moreno está cheio de razão, embora esteja recebendo críticas pelo episódio.

Deu no Gente Boa, do Globo de hoje



terça-feira, 15 de setembro de 2009

e o mundo não acabou...

Exatamente no dia 15 de setembro de 2008, há um ano, o banco norte-americano Lehman Brothers declarava falência. Começava uma forte crise financeira, que atingiu com um tiro na testa os especuladores dos tais derivativos, os alavancados, os fabricantes de índices, os "tio patinhas" das pirâmides, os magos das avaliações e das previsões e os tais projetistas de cenários. Os jornais anunciaram algo perto do fim do mundo. Empregos se foram, é verdade, menos do que diziam, e só agora começam a voltar. A crise foi, felizmente, aquém do apocalipse financeiro previsto. Quer saber: faltou seriedade e sobrou política - incluindo política eleitoral, lado a lado - e doses de ideologia na análise e critíca dos fatos neste um ano desde que os Brothers bateram a bota.

Revista Repórter, 1978, um sonho em dois tempos

Repórter, número 2, o texto-denúncia do historiador Hélio Silva
A capa do número 2: estudantes


No número 1: a seleção ainda militarizada às vésperas da Copa da Argentina.


No número 1: Fernando Morais na guerrilha sandinista.




Na "conversa com o leitor": Paulo Patarra dá a régua e o compasso da "revista de repórteres".


Especial para a seção memória jornalística do paniscumovum. O time era respeitável. A idéia, vejam, mais louvável ainda. "Uma revista de repórteres, os jornalistas da linha de frente, do encontro direto com os fatos". Assim nascia a Repórter. O sonho de Paulo Patarra (diretor de redação), Hamilton Almeida Filho, Lourenço Diaféria, José Hamilton Ribeiro, Caco Barcelos, Joel Rufino dos Santos, Elifas Andreato, Narciso Kalili, Luiz Carlos Cabral, Zeka Araújo, Fernando Morais e tantos outro nomes, muitos egressos da Realidade, publicação que marcara época cerca de um década antes, chegou às bancas em maio de 1978, lançado pela Editora Três. A periodicidade era mensal. O primeiro número tinha 162 páginas, com 40 de anúncios, entre as quais mensagens de estatais, bancos, automóveis, cigarros etc. A capa (ao lado) era um cartão de visitas: o repórter Narciso Kalili investigava o Esquadrão da Morte e o réu Sérgio Fleury. No miolo, Caco Barcelos, que ficou 4 dias clandestino no canteiro de obras da usina atômica de Angra, área de segurança da ditadura, publicava o relato e fotos da "espionagem". Fernando Morais e o fotógrafo Geraldo Guimaráes infiltravam-se na guerrilha sandinista da Nicarágua. José Trajano assinava a matéria "Ordinário, chute" e mostrava que oito anos depois da Copa de 70, o capitão Claudio Coutinho treinava a seleção como um pelotão de soldados. No manual dos jogadores, escrito pelo Exército, o time que se preparava para a Copa da Argentina aprendia que era proibido "barba por fazer, cabelo despenteado, comentário sobre assunto interno da seleção, reivindicações, provocar desentendimento ou desagregação" e por aí vai. No segundo número, o sonho dos repórteres começou a desfocar. A revista saiu com apenas 88 páginas. Os anunciantes foram embora, somente dez marcas se arriscaram a figurar na edição em que a capa mostrava a volta da UNE, o historiador Hélio Silva revelava o Caso Stuart, a Anistia era tema, a morte dos trabalhadores vitimados pelas péssimas condições da indústris do cimento também. Com pautas incômodas ao regime, vieram as pressões, o boicote e o fechamento da Repórter. Foram duas edições, tempo de chegar, o diretor de redação explicar o que seria a revista, e logo entregar o boné e o sonho sem maiores explicações. Ficou a história.

Crueldalde não embarca

Este comercial da atriz e modelo Pamela Anderson, militante da Peta (People for the Ethical Treatment of Animals), foi retirado do ar essa semana pela CNN, que o considerou impróprio. Mas não tem nada demais, mostra a turbinada Pamela atuando como guarda de aeroporto e é uma peça oportuna contra peles e acessórios originados da métodos crueis de produção e da morte de animais. Veja no link Barrados do aeroporto

domingo, 13 de setembro de 2009

Campeonato brasileiro: a verdade dos fatos


Os números enganam. Veja a verdadeira classificação do campeonato brasileiro por rendimento e aproveitamento em relação ao número de jogos, listando-se os times integrantes da suposta Série A e da suposta Série B.
Trata-se de um critério puramente esportivo descartando-se a burocracia da CBF.
Os jornais limitam-se a divulgar apenas o que se convencionou chamar de primeira e segunda divisões. Na sequência, o primeiro número refere-se ao total de pontos ganhos, o segundo ao número de jogos. Observe que o Vasco, supostamente na Série B, é líder apesar de ter um jogo a menos do que o Palmeiras, supostamente na Série A. Isso é matemática.

1 Vasco 46 23

2 Palmeiras 44 24

3 Guarani 43 23

3 Internacional 43 24

3 São Paulo 43 24

4 Atlético-GO 41 23

5 Atlético-MG 40 24

5 Ceará 40 23

6 Goiás 39 23

7 São Caetano 37 23

7 Portuguesa 37 23

8 Corinthians 36 23

8 Figueirense 36 23

9 Ponte Preta 35 23

8 Santos 35 24

10 Avaí 34 24

10 Flamengo 34 24

11 Vitória 33 24

11 Grêmio 33 23

11 Barueri 33 23

11 Bragantino 33 23

12 Cruzeiro 32 24

13 Bahia 30 23

14 Vila Nova 29 23

14 Ipatinga 29 23

15 Atlético-PR 28 24

15 Paraná 28 23

16 Brasiliense 27 23

16 América-RN 27 23

16 Juventude 27 23

17 Coritiba 26 23

18 Náutico 25 23

19 Duque de Caxias 24 23

19 Santo André 24 24

20 Campinense 23 23

20 Fortaleza 23 23

20 Botafogo 23 23

21 ABC 22 23
22 Sport 20 24
23 Fluminense 17 23


A paz venceu... em Veneza


O Festival Internacional de Cinema de Veneza premiou ontem, com o Leão de Ouro, "Lebanon", obra pacifista do israelense Samuel Maoz. O filme narra 24 horas na vida de jovens soldados no interior de um tanque durante a primeira guerra do Líbano, em 1982. Ao receber o prêmio, Maoz, que participou da guerra quando tinha 20 anos, dedicou o prêmio "às milhares de pessoas no mundo que voltam de uma guerra, como eu, aparentemente bem, que se casam e têm filhos, mas que em seu interior sentem um vazio na alma". Alguém já disse, talvez Hemingway?, que as cicatrizes de uma guerra não se fecham no campo de batalha e não se curam depois...

Deu na "Época"


Participe da campanha: "dê um corretor ortográfico urgente para as celebridades.

Domingo musical

Um link para a música: a Quinta Sinfonia, de Beethoven, visualizada no You Tube. Cada barra
colorida equivale a um instrumento ou a naipes de instrumentos. Isso me faz lembrar a velha piada sobre o casal de novo-rico que saiu da Barra para assistir a uma apresentação da Orquestra Sinfônica no Theatro Municipal. Depois de enfrentar um engarrafamento, coisa normal na Miami carioca, o casal se acomodou na platéia exatamente no instante em que o maestro anunciou que a orquestra executaria a Quinta Sinfonia. Enfurecido, o marido falou pra mulher: "Não te falei pra não se atrasar? Já perdemos quatro sinfonias".
O link leva ao site Neatorama onde, rolando a página, chega-se ao vídeo do You Yube e tambem à relação cor/instrumento. Link: Beethoven em gráficos

sábado, 12 de setembro de 2009

Da baú do paniscumovum




Em dezembro de 1954, Manchete, edição número 140 - então dirigda por Otto Lara Resende -quis retribuir os cartões de Natal recebidos pela redação. Acima de um texto com os tradicionais votos de próspero Ano Novo, a revista publicou esta caricatura do Borjalo, com jornalistas e diretores devidamente identificados. Mal comparando, é mais ou menos o que se vê hoje na seção Por Dentro do Globo (no canto esquerdo inferior da página 2 do jornal carioca), que retrata cenas e personagens de redação. Estavam lá, no traço de Borjalo, Adolpho Bloch, Otto Lara Resende, Ibrahim Sued, Oscar Bloch, José Guilherme Mendes, Nelson Sampaio, Henry Moeller, Salvyano Cavalcante de Paiva, Arnaldo Bloch, Dirceu Nascimento, Darwin Brandão e Wilson Passos. Veja as reproduções.

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Polêmica na rede

Segundo a coluna Zapping, da Folha, a Globo distribuiu um comunicado interno restringindo o uso de mídias sociais como orkut, blogs, twitter. E proibiu que colaboradores da empresa comentem temas ligados à emissora. Para ter perfis na rede, os artistas deverão pedir permissão. Ainda se a norma se referisse a atitudes dentro da empresa, uso de equipamentos etc, vá lá. Pedir cautela ou cuidados redobrados ao comentar seja na rede ou com a vizinha assuntos internos de uma empresa, ok, é comportamento que o bom senso impõe aos profissionais. Se a proibição absoluta se efetivar, há exagero aí. É como se a Santa Marta Fabril, no começo do século passado, proibisse que os seus funcionários escrevessem... cartas. A literatura teria perdido páginas memoráveis se, por exemplo, a Câmara Municipal de Palmeira dos Indios baixasse um decreto proibindo que o seu prefeito escrevesse cartas sobre a sua rotina administrativa. As missivas de Graciliano Ramos estariam, então, até hoje, mofando nas gavetas da burocracia.

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Deu no Jornalistas&Cia



A edição 709 do Jornalistas&Cia fala deste blog. Leia no link: Vitor Sznejder e paniscumovum

Hardware que resiste nas redações


Um desafio para o Vale do Silício: redações informatizadas, computadores de última geração, HDs, câmeras digitais etc etc, mas o chamado "pau do jornal", com todo o respeito, sobrevive bravamente tal como foi bolado há decadas: jornais do dia montados em um cavalete com hastes duplas presas por parafusos-borboleta. Simples, meio trambolho que atravanca corredores, mas cadê o substituto?

A vitória da informação

Está hoje nos sites de todo o mundo: a Internet é a vitória da informação, da liberdade de imprensa e de opinião.  É um novo palco para o discurso político; nela, a vitória é representada pela qualidade, e não pelo tipo, porte ou antiguidade da mídia. Ao contrário do que supõem alguns catastrofistas, ela não destrói nem ultrapassa os veículos já existentes: ao contrário, a Internet melhora o jornalismo.  Ela o libera para buscar novas idéias e formatos - num processo de constante mudança não apenas no que diz respeito às tecnologias da comunicação, mas também e principalmente de novas maneiras de pensar e formatar os relacionamentos sociais. Essa é a essência do Manifesto Internet,  dezessete conceitos publicados por um grupo de quinze blogueiros e jornalistas alemães,  num documento que o colega Julio Hungria postou no www.bluebus.com.br  de hoje.  Está acessível em diversas línguas, inclusive no castiço português de nossos irmãos d'além mar, em http://manifesto-internet.org/. Sua leitura é saborosa e reconfortante, a nós, profissionais desse ofício; e incômoda,  porém instrutiva,  aos parlamentares e outros "legisladores" que ainda não entenderam o fenômeno da Web e pretendem regulá-la como se fosse possível revogar a lei da gravidade.  Aos donos dos meios de comunicação tradicionais que vêm deitando falação sobre o jornalismo na Internet, os coleguinhas alemães recomendam "adaptar seus métodos de trabalho à realidade tecnológica atual, em vez de a ignorarem e desafiarem.  É o seu dever desenvolverem a melhor forma possível de jornalismo, com base na tecnologia disponível.  Isso inclui novos produtos e métodos jornalísticos."

Vitor Sznejder

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Acervo Manchete vai a leilão no dia 22 de setembro

ROBERTO MUGGIATI escreve:
Durante os anos 1950, as fotos da revista Manchete eram predominantemente em preto-e-branco, com exceção das capas, sempre em cor, a não ser quando enfocavam um acontecimento da atualidade cuja cobertura fora feita em p&b. Fatos que emocionaram o país nesta década foram registrados exemplarmente pelas câmaras de Manchete: o funerais de Francisco Alves, o Rei da Voz (1952), Getúlio Vargas (1954), Carmen Miranda (1955). Outros fatos que não escaparam ao olho arguto dos fotógrafos da Manchete: o atentado contra Carlos Lacerda na Rua Toneleiros, Rio, estopim da crise que levaria ao suicídio de Vargas; o incêndio da boate Vogue (1955), com fotos dramáticas de pessoas se atirando do prédio para não morrerem queimadas; as rebeliões fracassadas contra o governo JK: antes da posse, a bordo do navio Almirante Tamandaré (1955) e o levante de Jacareacanga, uma base na floresta amazônica, que estourou no sábado de Carnaval de 1956 e não durou muito. Outros fatos sociais, políticos, culturais e esportivos foram documentados com arte e presteza pela equipe fotográfica de Manchete: o nascimento de três mitos da beleza brasileira, três segundos lugares no concurso de Miss Universo que marcaram a vitória moral da baiana Martha Rocha (1954), da amazonense Terezinha Morango (1957) e da carioca Adalgisa Colombo (1958); a conquista da primeira Copa do Mundo da seleção brasileira em campos da Suécia (1958); o surgimento de dois movimentos que se tornariam sucesso até mesmo fora do país: a bossa nova e o cinema novo. Não só Manchete acompanhava estas "ondas" culturais, como criou uma linguagem nova e instigante ao retratar suas principais estrelas, como João e Astrud Gilberto, Nara Leão, a dupla imortal Tom e Vinicius, Roberto Menescal e Ronaldo Bôscoli, este repórter da Manchete quando compôs O Barquinho. Um dos grandes temas nacionais em que a revista de Adolpho Bloch investiu desde o início foi a construção de Brasília: fotos excepcionais dos protagonistas da mudança da capital (JK, Oscar Niemeyer, Lúcio Costa e o engenheiro Bernardo Sayão, que morreria acidentalmente durante as obras) figuram lado a lado com imagens históricas das grandes estruturas que vão se erguendo na vastidão do Planalto Central pelas mãos dos "candangos", os heróis anônimos da epopéia brasiliense.
A partir dos anos 1960, Manchete aderiu à nova tecnologia da fotografia em cores — com as câmaras de 35mm ocupando o espaço das pesadas Rolleiflex de formato quadrado — modernizou seu parque gráfico para permitir a impressão de revistas totalmente em quatro cores. Foi a partir dessa década que a Bloch ampliou o seu leque de revistas, com os lançamentos de Fatos e Fotos (uma versão mais "jornal" da Manchete, inicialmente só em p&b;) Enciclopédia Bloch, depois Geográfica Universal; a masculina EleEla, a feminina Desfile (em substituição à antiga Jóia), a semanal de TV e fofocas Amiga, além de uma série de publicações especializadas e fascículos.
Cada novo veículo da Bloch inaugurou um novo estilo de fotografia, sendo que as mensais como Desfile, Ele Ela e Pais e Filhos se exprimiram principalmente a partir de fotos de estúdio invejadas por publicações do mundo inteiro. Mas, até encerrar suas atividades em 1º de agosto de 2000, Manchete manteve o alto padrão de qualidade e de criatividade, constituindo-se numa espécie de janela para o Brasil e o mundo. Enumeramos brevemente a seguir alguns dos feitos de cobertura da revista ao longo das cinco décadas em que atuou:
Carnaval carioca — As edições de cobertura do carnaval do Rio de Janeiro primaram por sua velocidade aliada à qualidade. Poucas horas depois de encerrada a maior festa popular do mundo, Manchete chegava às bancas e esgotava em poucas horas.• Festivais de música — Os festivais de música, no Rio e em São Paulo, a partir de 1967, revelaram novos talentos que se tornaram os grandes ídolos da MPB e sustentam essa posição até hoje: Caetano, Gil, Mutantes, Milton Nascimento, Chico Buarque são apenas alguns nomes desta plêiade. E Manchete fixou em imagens os melhores momentos desta aventura musical.
• "Furos" políticos — As melhores fotos de JK, em público e na intimidade; a última foto de Jânio Quadros antes de renunciar à Presidência em 1961; fotos de Fidel Castro e Che Guevara nos tempos turbulentos que se seguiram à revolução em Cuba, inclusive fotos destes líderes no Brasil; a última foto do Presidente Costa e Silva (1968), fotos exclusivas do Presidente João Baptista Figueiredo de sunga em Brasília; a última foto do Presidente Tancredo Neves (1985), o impeachment de Collor — os grandes instantes da nossa vida política foram registrados para sempre pelas Câmaras de Manchete.
Vocação esportiva • Nos seus 48 anos de vida, Manchete cobriu 12 Copas do Mundo de Futebol (incluindo o Tetra, 58-62-70-94) e 12 Olimpíadas Mundiais, algumas das quais marcaram o surgimento de estrelas como Ademar Ferreira da Silva, João do Pulo, Eder Jofre, os meninos e as meninas do vôlei; no tênis, documentou os triunfos de Maria Ester Bueno e Gustavo Kürten; nas pistas, investiu desde cedo na Fórmula-1, colocando nas bancas uma edição especial áudio-visual sobre o primeiro título de Emerson Fittipaldi em 1972; as carreiras irresistíveis e Nelson Piquet e Ayrton Senna e várias edições especiais sobre o trágico fim do nosso maior piloto em 1994, no circuito de Imola.
Ciência espetacular — Os grandes saltos da ciência e da tecnologia viraram Manchete assim que aconteceram: a corrida espacial, o homem na Lua, os transplantes cardíacos, o bebê de proveta (a revista chegou até, em exclusividade internacional, a documentar os primeiros anos de Louise Joy Brown, a menina inglesa que foi a primeira criança reproduzida in vitro.)
Celebridades — Os fotógrafos de Manchete não só saíram em campo para fotografar as personalidades marcantes da metade mais vibrante do século (a segunda), como a revista, em diversas épocas e em diversos de seus prédios, recebeu e clicou figuras como Sartre e Simone de Beauvoir (comeram uma feijoada na gráfica de Parada de Lucas); Dizzy Gillespie, o mago do trompete do jazz, dançou samba na antiga redação de Frei Caneca; depois, a festa se mudou para o palácio de vidro da rua do Russell, desenhado por Oscar Niemeyer: Neil Armstrong, o primeiro homem a pisar na ua, dois meses depois pisava o restaurante do 3º andar; Jack Nicholson, Roman Polanski e Liza Minnelli foram fotografados no Teatro Adolpho Bloch; músicos de fama internacional como o violoncelista Mstislav Rostropovich também passaram pelo Russell, onde o amigo da casa e diletante do bel canto, Mário Henrique Simonsen, fez um dueto com o tenor Plácido Domingo, e o pai dos transplantes, o dr. Christiaan Barnard, tocou no piano do décimo andar. "Panteras" de classes tão distintas como a Rainha da Indonésia, Dewi Sukarno, e a deputada pornô Cicciolina fizeram poses eróticas engatinhando sobre a grande mesa de jantar. A feminista Betty Friedan, no auge da polêmica, debateu com a redação e discutiu a figura da iídiche Mame com o próprio Adolpho Bloch. Katherine Graham, a dona do Washington Post, o jornal que levantou o escândalo de Watergate e derrubou o Presidente Nixon, tomou chá com Adolpho. Tempos depois, Polanski voltou com a nova mulher, a ninfeta Emmanuelle Seigner, para tomar um chá, mas preferiu tomar vodca polonesa e conversar em russo com Adolpho. O grande bailarino Mikhail Barishnikov e o maestro Zubin Mehta hospedaram-se no belo palacete da Manchete em São Paulo, onde Juscelino Kubitschek dormiu a sua última noite. A modelo-ícone da swinging London, Jean Shrimpton, os Rolling Stones (em sua primeira visita ao Brasil) e o diretor de ópera e cinema Franco Zeffirelli, foram devidamente clicados circulando pelo Rio a bordo de caminhonetes de reportagem da Manchete. A estrela de Crepúsculos dos deuses, Gloria Swanson, o cineasta William Wyler, o coreógrafo Bob Fosse, o colunista Art Buchwald, os escritores E.L. Doctorow, Doris Lessing, Sidney Sheldon, o dr. Albert Sabin, o pai da aeróbica Kenneth Cooper — enfim, não há memória e não há espaço para citar os ricos e famosos que foram recebidos e fotografados por Manchete.
Edições especiais — Além das inúmeras edições especiais sobre temas brasileiros ou destinadas a divulgar o país no exterior (em inglês, francês e até mesmo em russo), Manchete publicou vários números extras alusivos a acontecimentos das atualidade, comemorativos de datas históricas ou conquistas esportivas e como homenagem póstuma a grandes figuras que desapareceram do cenário brasileiro. As edições da cobertura da primeira visita do Papa ao Brasil, em 1980, obtiveram recordes de tiragens.
Mestres da objetiva — Nos tempos de ouro, a equipe de fotógrafos de Manchete ultrapassava a centena, espalhada entre o eixo Rio-São Paulo, as sucursais nacionais e internacionais e free-lancers pelo mundo inteiro, sem mencionar os serviços das principais agências fotográficas. Alguns destes fotógrafos inscreveram seu nome como mestres da sua arte, ao lado dos grandes nomes como Cartier-Bresson, Robert Capa, Richard Avedon e outros. Alécio de Andrade, por exemplo, foi convidado para trabalhar na agência Magnum, fundada pelo mestre Bresson, e que funcionava como espécie de cooperativa de gênios da objetiva. Outros criaram um estilo pessoal, publicaram livros, realizaram exposições, firmando a marca de excelência da Manchete. Outros ainda, pela qualidade do seu trabalho, foram escolhidos para se tornar o fotógrafo oficial da Presidência da República, glória máxima a que pode almejar um fotógrafo profissional. Roberto Stuckert, foi o fotógrafo oficial do Presidente João Baptista Figueiredo;U. Dettmar foi o fotógrafo exclusivo do Presidente Fernando Collor de Mello. Mais curiosa é a história do baiano Gervásio Baptista. Em 1954, ele clicou a foto de capa que mostrava Tancredo Neves chorando sobre o caixão de Getúlio Vargas durante o enterro do Presidente em São Borja. A foto valeu prestígio eterno para Tancredo que, eleito pelo Congresso para presidir o Brasil em 1985, chamou imediatamente Gervásio para ser o seu fotógrafo oficial. Com a doença de Tancredo, na véspera do dia da posse, José Sarney assumiu a Presidência e confirmou Gervásio no posto. O baiano que havia adotado o Rio como sua cidade do coração, foi cativado por Brasília e continua lá, na ativa, passados 23 anos.

Fotos exclusivas: por falar em Manchete...























E por falar em saudade... esta postagem é dedicada aos fotógrafos, grandes profissionais de várias gerações que passaram pela Manchete e produziram os milhões de negativos e cromos que compõem o fabuloso Arquivo Fotográfico da Bloch Editores a ser leiloado no dia 22 de setembro. O produto do leilão será destinado às indenizações trabalhistas de 3 mil ex-funcionários da extinta editora que lutam há nove anos para receber o que lhes é devido. Entre estes profissionais, há muitos fotógrafos que certamente identificarão as imagens deste post. São do prédio do Russell, mais precisamente do térreo, nos fundos, onde ficava o Departamento Fotográfico da Bloch. Até o ano passado, quando foram feitas estas fotos (que foram encaminhadas por um colaborador do paniscumovum) , o Departamento, o Laboratório e o Estúdio estavam assim... como se tivessem sido abandonados às pressas. E, de fato, foi isso mesmo. Quando em agosto de 2000, foi decretada a falência da empresa, oficiais de justiça chegaram à Bloch com ordens de lacrar o prédio imediatamente. Os funcionários mal tiveram tempo para recolher seus objetos pessoais e deixaram o local como se escapassem de um navio à deriva, como revela o livro Aconteceu na Manchete - As histórias que ninguém contou (Desiderata). Há bolsas de fotógrafos largadas, ordens de serviço e de "cargas" de filmes, armários com pastas de dente, desodorante, uma dessas garrafas de bebida, de bolso, certamente para as noites frias e tensas naquelas últimas semanas nos porões do Russell... De cima para baixo: o estúdio, o fundo infinito do estúdio onde grandes estrelas posaram para as capas da Manchete, Desfile, EleEla, Amiga, Fatos&Fotos, Carinho, Mulher de Hoje e outras publicações, caixas de filmes que não chegaram a ser utilizados, adesivos dos crachás colados nos armários dos fotógrafos, equipamentos do laboratório de revelação e mesas da chefia do setor e dos demais fotógrafos. Era uma vez a Manchete...

Rolleiflex: a digital e a original


Por falar em fotos da Manchete, aí vão uma curiosidade e uma valiosa relíquia: a famosa Rolleiflex com o selo da revista foi operada por fotógrafos consagrados como Gervásio Batista, Gil Pinheiro, Nicolau Drei e muitos outros craques. Esta câmera pertencia ao acervo do Departamento Fotográfico da Bloch, foi arrematada pelos locatários do Russell e vendida em "bazar" montado no ano passado no térreo do prédio. A outra máquina é semelhante apenas na aparência. Trata-se de um réplica do modelo clássico, em versão digital, de cinco megas, lançada recentemente e vendida nos Estados Unidos por 449 dólares.