A urna com os restos mortais de Jango chega a Brasília. Reprodução imagem Globo News |
As lágrimas da ex-primeira dama, Maria Teresa Goulart, ao ver a chegada da urna a Brasília. Foto: Reprodução da TV (Globo News) |
Lula e Maria Teresa |
A presidente Dilma, Maria Teresa e Lula (Reprodução Globo News) |
Dilma abraça Maria Teresa (Reprodução Globo News) |
Um dia simbólico. O Presidente João Goulart volta a Brasília e recebe honras de chefe de Estado.
“Hoje é um dia de encontro do Brasil com a sua história. Como chefe de Estado da República Federativa do Brasil participo da recepção aos restos mortais de João Goulart, único presidente a morrer no exílio, em circunstâncias ainda a serem esclarecidas por exames periciais. Este é um gesto do Estado brasileiro para homenagear o ex-presidente João Goulart e sua memória. Essa cerimônia que o Estado brasileiro promove hoje com a memória de João Goulart é uma afirmação da nossa democracia. Uma democracia que se consolida com este gesto histórico”, disse.
Eleito duas
vezes vice-presidente da República, em 1955 e 1960 - na época, o vice era votado individualmente e não apenas participava da chapa do presidente - João Goulart tornou-se
Presidente da República em agosto de 1961 com a renúncia de Jânio Quadros. Em
sua posse, em 7 de setembro de 1961, Jango afirmou que todo o país deveria se
mobilizar na luta pela emancipação econômica, contra a pobreza e contra o
subdesenvolvimento.
Leia trechos dos discursos de Jango. Suas palavras ajudam a entender o complô que o derrubou.
“Reclamamos
a união do povo brasileiro e por ela lutaremos com toda a energia, para, sob a
inspiração da lei e dos direitos democráticos, mobilizar todo o País para a
única luta interna em que nos devemos empenhar, que é a luta pela nossa
emancipação econômica, que é a luta contra o pauperismo, a luta contra o
subdesenvolvimento”, afirmou. Já em 13 de
março de 1964, em meio às tensões sociais e à pressão externa, o presidente
discursou na Central do Brasil, no Rio de Janeiro, para um público estimado de
150 mil pessoas. Na ocasião, Jango anunciou as reformas agrária, tributária e
eleitoral. Ele ainda afirmou contar com a “compreensão e o patriotismo” das
Forças Armadas. “Reafirma
os seus propósitos inabaláveis de lutar com todas as suas forças pela reforma
da sociedade brasileira. Não apenas pela reforma agrária, mas pela reforma
tributária, pela reforma eleitoral ampla, pelo voto do analfabeto, pela
elegibilidade de todos os brasileiros, pela pureza da vida democrática, pela
emancipação econômica, pela justiça social e pelo progresso do Brasil”, disse.
Foram essas metas que levaram militares a dar o golpe que fez o Brasil mergulhar em anos de sangue e sombra.
O corpo de
Jango permanece na capital federal até 6 de dezembro. A exumação dos restos
mortais do ex-presidente, que teve início nesta quarta-feira (13), no Cemitério
Jardim da Paz, na cidade de São Borja (RS), foi concluída com êxito após pouco
mais de 18 horas de trabalho. Concluída às 2h desta quinta, a exumação envolveu
12 profissionais do Brasil, Argentina, Cuba e Uruguai. O médico João Marcelo
Goulart, neto do ex-presidente, teve participação efetiva em todo o
procedimento.
Exilado
pela ditadura militar na década de 60, Jango morou no Uruguai e depois na
Argentina, onde veio a falecer em 6 de dezembro de 1976. A causa oficial da
morte, um ataque cardíaco, nunca convenceu a família, que acusa o governo
militar da época, de Ernesto Geisel, de ter envenenando o ex-presidente. Com a
análise pericial dos restos mortais de Jango, a expectativa é de que os laudos
periciais sejam somados às demais investigações, incluindo as documentais e
testemunhais, na busca de um esclarecimento sobre as causas que levaram ao
óbito do ex-presidente.
Presidente João Goulart na capa da Manchete: a revista registrou visita oficial ao Estados Unidos em 1962. Na foto John Kennedy ouve o discurso do colega brasileiro. |
Em 2007, a
família de Jango solicitou ao Ministério Público Federal a reabertura das
investigações. O pedido de exumação foi aceito em maio deste ano pela Comissão
Nacional da Verdade. Tanto o governo federal quanto membros da família
Goulart acreditam que há indícios de que o ex-presidente possa ter sido
assassinado. Com a instalação
da Comissão Nacional da Verdade, em maio de 2012, foi criado um grupo de
trabalho que vem coordenando as investigações em torno da morte de João
Goulart. O trabalho é feito, de forma conjunta, pela Secretaria de Direitos
Humanos da Presidência da República e pela CNV com a presença de peritos internacionais e acompanhamento de instituições multilaterais.
Em "O Beijo da Morte", Carlos Heitor Cony e Anna Lee investigam o suposto assassinato de Jango. No livro, uma mistura de ficção e fatos reais, lançado em 2003, os autores (Anna Lee foi repórter da Manchete e Cony diretor de várias revistas da Bloch) focalizam também as circunstâncias suspeitas em que morreram Juscelino Kubitschek e Carlos Lacerda, além de Jango, no curto espaço de tempo de nove meses, entre agosto de 1976 e maio de 1977, em plena ditadura. Um pouco antes, Jango estaria estudando a possibilidade de voltar ao Brasil mas foi alertado de que o general Silvio Frota pretendia prendê-lo assim que desembarcasse. A Comissão da Verdade investiga o morte de JK em acidente que teria sido forjado pelo governo militar. Nesse caso também há testemunhas que relatam sumiço e adulteração de provas.
Em "O Beijo da Morte", Carlos Heitor Cony e Anna Lee investigam o suposto assassinato de Jango. No livro, uma mistura de ficção e fatos reais, lançado em 2003, os autores (Anna Lee foi repórter da Manchete e Cony diretor de várias revistas da Bloch) focalizam também as circunstâncias suspeitas em que morreram Juscelino Kubitschek e Carlos Lacerda, além de Jango, no curto espaço de tempo de nove meses, entre agosto de 1976 e maio de 1977, em plena ditadura. Um pouco antes, Jango estaria estudando a possibilidade de voltar ao Brasil mas foi alertado de que o general Silvio Frota pretendia prendê-lo assim que desembarcasse. A Comissão da Verdade investiga o morte de JK em acidente que teria sido forjado pelo governo militar. Nesse caso também há testemunhas que relatam sumiço e adulteração de provas.
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