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quarta-feira, 19 de junho de 2024

Nos passos de Anouk Aimée (1932-2024) em Deauville, set do filme "Um homem, uma mulher"

 

Anouk Aimée em "Um homem, uma Mulher". Foto Divulgação

por José Esmeraldo Gonçalves

A notícia do falecimento da Anouk Aimée, ontem, em Paris, aos 92 anos remeteu a memória de uma geração a um ano (1966) e a um filme "Um homem, uma mulher". A atriz atuou em clássicos como "A Doce Vida" e "Oito e Meio", mas seu sucesso mais popular foi mesmo o filme dirigido por Claude Lelouch. Além da fama internacional, a história de um amor que nasceu na Normandia a levou ao tapete vermelho das premiações como a Palma de Ouro em Cannes, em 1966, ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro e Melhor Roteiro, em 1967, uma indicação na categoria Melhor Atriz, também no Oscar e um Globo de Ouro. Para as plateias brasileiras, a trilha sonora oferecia uma atração a mais: a música “Samba da Bênção”, de Vinicius de Moraes e Baden Powell.

Trintignant e Anouk Aimée: cena do filme, na praia.
Foto Divulgação


O set ainda inspira casais de turistas. Foto de J.Esmeraldo

Les Plantes: o cinema desfila na passarela de madeira em Deauville.
Foto de Jussara Razzé 

Em 2016, 50 anos depois das filmagens, de alguma forma refiz os passos do casal Jean-Louis Duroc (Jean-Louis Trintignant) e Anne Gauthier (Anouk Aimée) em Deauville, o elegante balneário francês à margem do Atlântico Norte. Viúvos recentes, os personagens do filme se encontram na pequena cidade durante uma visita ao colégio interno dos respectivos filhos. Inicialmente ficam amigos, mas a saudade dos ex-parceiros adiciona alguma dor à passagem para o status seguinte, o de amantes. 

Deauville: placa em homenagem ao filme.
Foto de Jussara Razzé
Algumas cidades ganham o filme das suas vidas. "Um homem, uma Mulher" e Deauville são inseparáveis. Andar pela cidade é como percorrer fotogramas em Les Planches, as famosas passarelas de madeira e na praia que o par central percorria. Em 1986, Lelouch voltou a Deauville com Trintignant e Anouk Aimée para filmar "Um Homem, uma Mulher 20 anos depois". A continuação não fez o mesmo sucesso e o que Deauville guarda na memória - com direito a placa comemorativa em um dos locais das filmagens - é o set da primeira versão. E agora, as lembranças de Anouk Aimée e Jean-Louis Trintignant, que faleceu em 2022, aos 91 anos.  


sábado, 10 de novembro de 2018

E lá se foi o pai do chabadabadá. . . • Por Roberto Muggiati

Francis Lai (à direita) e Claude Lelouch, em 2016. Foto Champs-Élyséees Film Festival. 


por Roberto Muggiati 

O cara era tão importante que sua morte foi anunciada pelo Prefeito de Nice, na última quarta-feira, 7 de novembro. Francis Albert Lai, filho de hortigranjeiros italianos nascido em Nice, era apenas um obscuro músico de boate em Paris quando o sucesso o atropelou para o resto da vida em 12 de julho de 1966, dia em que foi lançado o filme de Claude Lelouch, Um homem, uma mulher, com a trilha sonora assinada por Lai.

A musiquinha tema do filme era dessas que grudam, com seu refrão chabadabadá, chabadabadá entoado por um corinho feminino. Quem entende das coisas e conhece bossa nova viu logo a influência das primeiras frases de O Barquinho, composto na virada de 1960-61 por Roberto Menescal e Ronaldo Bôscoli, letrista literalmente foragido da sala de reportagem da revista Manchete. Experimentem colocar um chabadabadá-chabadabadá logo no início da música no lugar de “e o barquinho a deslizar no macio azul do mar.” Aliás, o namoro com a bossa nova era aberto: o filme de Lelouch traz também na trilha o Samba da bênção, de Baden e Vinícius, traduzido e cantado em francês por Pierre Barouh e rebatizado de Samba Saravah.

O oposto do discurso político de Jean-Luc Godard, Claude Lelouche fazia um cinema digestivo no estilo dos comerciais de televisão. (Muitos o chamavam de Le Louche – “louche” em francês quer dizer “vesgo”, mas tem o sentido figurado de “duvidoso”, “inconfiável”.) Lai fazia uma música agradável, fácil de digerir, coisa também de anúncio de TV.

Mas não posso deixar de admitir que uma das canções que mais evoca para mim a atmosfera eufórica e inocente do Ano da Flor, 1967, é o seu tema para outro filme de Lelouch, Viver por viver. A história é um triângulo amoroso entre Yves Montand, correspondente de guerra, sua mulher (Annie Girardot) e a amante (Candice Bergen) – todos no auge do seu charme e beleza. (Cinco anos antes Godard filmou Vivre sa Vie: a semelhança com Vivre pour vivre é brutal, Lelouch gostava de cutucar o suíço...) Enfim, vão longe os doces tempos do chabadabadá, hoje o que temos é o blábláblá dos medíocres que nos oprimem e o ratatatatá da violência que corre solta.

Para ouvir as canções:

Um homem, uma mulher AQUI
O Barquinho AQUI
Viver por viver AQUI