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quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Quando Oscar Niemeyer aconteceu na Manchete...

por José Esmeraldo Gonçalves 
Em 2008, durante a preparação da coletânea "Aconteceu na  Manchete, as histórias que ninguém contou", lançada pela editora Desiderata, o grupo de autores, todos jornalistas que atuaram na extinta Bloch, considerou indispensável para a abertura do livro um texto de uma personalidade cuja trajetória se cruzava com a editora. Era Oscar Niemeyer, caro amigo de Adolpho Bloch. A Manchete acompanhou cada passo da brilhante carreira do arquiteto que, inúmeras vezes, visitou a redação da revista. A própria construção de Brasília foi documentada, tijolo por tijolo, curva por curva, por repórteres e fotógrafos da Manchete. Coube ao arquiteto projetar a sede da editora, na Rua do Russell. Outra das suas obras no Rio também o aproximaria ainda mais da revista. Manchete transformava o carnaval carioca em um grande acontecimento. E coube a Niemeyer construir seu palco apoteótico, o Sambódromo, cena de memoráveis coberturas jornalisticas da revista e da Rede Manchete.
Foi assim que, convidado por Lenira Alcure, uma das autoras do "Aconteceu", o saudoso Niemeyer escreveu especialmente para o livro um texto afetivo, com um suave traço da poesia que gravava na ousadia das suas criações em concreto. Leia, a seguir.

  

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Lenira Alcure lança "Telejornalismo em 12 lições - Televisão, Vídeo e Internet"


por José Esmeraldo Gonçalves
"Não ponha a cara a tapa para dizer trivialidades: nem a sua, nem a do entrevistado". Esta é uma das dicas do livro "Telejornalismo em 12 Lições - Televisão, Vídeo, Internet", da professora e jornalista Lenira Alcure, que será lançado amanhã, dia 25, das 10h às 13h, na Livraria Carga Nobre (PUC-Rio), na Rua Marquês de São Vicente, 255, Gávea.
Se a regra acima fosse lei, certamente alguns âncoras e entrevistadores da TV estariam, digamos, na "ilegalidade". Em certos programas, as telebobagens correm soltas e agridem a pobre audiência. "Telejornalismo em 12 Lições" é direcionado a alunos de comunicação, mas não apenas a estes. É leitura interessante para os telespectadores. No mínimo, ganharão ferramentas para exercer um senso crítico mais apurado, identificar a informação dirigida, desconfiar das "embalagens", aprender que não existe a tão propagada "isenção" e até rir dos pernósticos e afetados. Lenira Alcure, professora do Departamento de Comunicação da PUC -Rio, atuou em revistas da extinta Bloch, - é uma das autoras do livro "Aconteceu na Manchete, as histórias que ninguém contou" -  foi editora internacional da TV Manchete e comentarista da TVE, fala do que sabe. Em 160 páginas com ilustrações didáticas, ensina que descomplicar deve ser norma em textos jornalísticos. "Escrever de forma simples e compreensível não significa pobreza de vocabulário e muito menos falta de conteúdo". E completa: "O jornalismo escrito e até a literatura moderna estão mais próximos do leitor comum. Concisão e clareza exigem parágrafos e frases mais curtas, explicações precisas'. (...) "Escrever para TV é entender que palavras e imagens se casam, cada uma com sua força, sem redudâncias desnecessárias". Em tempo de blogs, Facebook, Twitter e You Tube,  o "monopólio" da produção de imagens e informação não está mais nas mãos, exclusivamente, da velha mídia ou dos profissionais de comunicação. É cada vez mais comum telejornais e portais recorreram a vídeos "amadores" enviados por telespectadores. Em acontecimentos recentes, como os desabamentos e inundações na serra fluminense no verão passado, especialmente logo após a tragédia, rádios e TVs foram abastecidos por imagens e informações de leitores, ouvintes e telespectadores. "Telejornalismo em 12 Lições", que ensina o que se deve fazer com uma câmera na mão, certamente também atingirá essa imensa e nova rede de "mídia cidadã".

sábado, 30 de julho de 2011

Anotações de viagem-2: de Dublin a Londres

Ainda em Dublin, em frente aos prédios centenários do Trinity College, fundado pela rainha
Elizabeth I para evitar a influencia ‘papista’ do Vaticano sobre seus jovens súditos. Alguns ex- alunos de que o Trinity hoje se orgulha nem sempre foram bons estudantes, nem menos bem comportados: Samuel Beckett, Oscar Wilde, James Joyce, J.Swift.
por Lenira Alcure
29 de julho
Eu ia escrever sobre os dois últimos dias na Irlanda. Mas cheguei hoje à tarde e Londres, 41 anos depois de ter morado aqui por sete meses, de repente tornou a minha Irlanda pequenina... Estou em uma das mil e umas Queensgate (os ingleses adoram isso, pegam um nome só e batizam uma porção de ruas, uma perto da outra com um mesmo nome e um nickname geralmente abreviado: tem a Queensgate square, a Q plaza, a Q.terrace e por aí vai. Uma loucura. Um amigo meu daquele época dizia que a Inglaterra é um Portugal que deu certo!! Faz sentido.
Bem a saída de Dublin foi tranqüila. Nada do horror que passei na vinda. Mas o trasnsfer que contatei do Brasil não deu certo. No fundo, acho que eu queria mesmo era ver meu nome num cartaz daqueles que a gente vê nas saídas dos vôos de chegada. Alguém me esperando em Londres!! No show up! Bem acabei pegando o expresso para a Victoria Station. No problems at all. E de lá um táxi, total: 24 pounds e alguns cents, em vez dos 70 que eu ia pagar. Agora, quero ver se eles me vão cobrar no cartão, alegando que meu telefone estava desligado.
Agora, o hotel: o Éden Plaza Kensigton por fora é uma bela mansão no melhor estilo Georgiano, o surrounding magnífico. (Sorry, periferia, e os amigos que devem estar me achando muito pernóstica. Estou entrando no clima do bairro).
Voltando ao Éden, por fora é o que eu já disse. Por dentro, uma caixa de ovos japoneses, com atendentes indianos: são 800 ovos, quero dizer 800 rooms!! O quarto é mínimo, mas o aproveitamento de espaço fantástico. Consegui me meter aqui com as minhas duas malas, meus casacos, não sei quantas quinquilarias, ligar o computador e o carregador da câmera. Gente, pra que mais espaço?? E 90 libras por dia é um preço mais do que conveniente na Londres atual. (Quando eu morei aqui em Lancaster Gate, que é também um ótimo endereço, pagava 12 libras por semana, com direito a café da manhã e jantar!!!Não foi à toa que foi a época mais feliz da minha vida, vivi um dos meus grandes amores e amei essa cidade também.
Back to the present: depois de tudo arrumado fui ao Victoria e Albert Museum, que fica a duas ou três quadras daqui. Por acaso, eu tinha lido numa dessas colunas de turismo que durante o verão, na última sexta do mês, o museu fica de portas abertas até as 10 da noite. Foi um deslumbramento. Além do prédio,simplesmente uma das jóias da Coroa ( nossa, como veio tanta riqueza do que foi o maior império do mundo!) o Friday Late Summer Camp Idea oferece de tudo um pouco: tive uma aula sobre o Hamlet de Shakespaere, no meio da grama, dez ou quinze atentos alunos (eu inclusive) e no final fiquei sabendo por uma das moças presentes que era o diretor da Shakespeare Society, assim em mangas de camisa, explicando e narrando com encantamento. Nem vou contar das outras oficinas que fucei, mas do MIDI (Musical Instrument Digital Interface) karokê, com um ‘charming retrô’, segundo o prospecto e todo mundo cantando Let it be, Yesterday... Imagine, vocês, que emoção! Vou tentar enviar algumas fotos, mas ainda não transferi da câmera). Eram 9:40, já estava escurecendo, por onde eu havia entrado tinha fechado. Me encaminharam pela main entrance, e aí acabei me perdendo. Na rua, uma moça tentou me ajudar com o GPS do telefone dela, achou o meu hotel, mas eu não. Acabei mesmo vindo de táxi, tarifa 2 por causa do horário, 6 libras!!!!
Por hoje chega, são muitas digressões. E eu não acabei de escrever as minhas outras impressões dublineses, com a decepção de não ter visto a Torre Martello, onde começa o Ulisses de Joyce, nem o cemitério de Glasnevin, onde acaba (tenho o livro há mais de 20 anos, nunca tive coragem de ler, será o projeto dos pr, se alguém quiser me fazer companhia, ótimo). Também não vi o celebrado verde mar da Irlanda, mas sim o plúmbeo espelho d’água refletindo as nuvens baixas que encobriam o céu. Adorei poder usar o ‘plúmbeo’, tem tudo a ver, cor de chumbo mesmo.!
Last, but not least: descobri que viajar sozinha pode ser um antídoto para ao menos retardar o Alzheimer. Tem que se estar atento a tudo, incorporar novos conhecimentos de todo tipo, falar três línguas quase que ao mesmo tempo, enfim um mega exercício para despertar os preguiçosos neurônios.
E amanhã, lá vou eu conhecer o Globe, de Londres!! Bye, folks. I’m going to sleep.

Anotações de viagem-1: Dublin

Em férias, a professora de Comunicação e jornalista Lenira Alcure - uma das autoras do livro "Aconteceu na Manchete, as histórias que ninguém contou" - passou por Dublin. De lá, enviou para os amigos suas impressões de viagem, que o blog compartilha com seus leitores. Observem que o texto tem um saboroso - e saudoso - estilo de carta, que talvez seja mesmo o meio ideal e autêntico para transmitir os prazeres de uma viagem. Pois aí está a carta da Lenira. Cybercarta moderna, que chegou por email...

Dublin: em frente à sede gótica de um banco
por Lenira Alcure
Dublin: num primeiro momento, fiquei imaginando que as pessoas aqui
passam o dia comendo e bebendo, tantos bares e restaurantes, de todos
os tipos e origens, a preços convenientes. Engana-se quem pensar que
Dublin é uma opção para os mais velhos. Os jovens enchem a cidade,
com suas mochilas, as roupas descoladas e o gosto pelos contrastes que
o ambiente oferece.
Se Bordeaux é uma pequena Paris, a capital irlandesa é um cantinho de Londres. As duas cidades chegaram ao apogeu na mesma época (sécs18 e 19), graças às riquezas provenientes do comércio marítimo com o Novo Mundo. A arquitetura de uma e outra reflete as respectivas influências.
Aqui, como em Londres, os prédios cor de tijolo se alinham próximos às grandes construções de linhas e tons severos. O lúgubre dos granitos e outros tipos de pedras escuras está nos grandes prédios, muitos deles abrigam hoje grandes Bancos, os vampiros do mundo moderno: não por acaso Bram Stocker, o criador do Drácula, nasceu e viveu por aqui. Mas esse lado gótico que encanta jovens de todos os países se ilumina pela profusão das cores fortes em portas e janelas das casas adjacentes: grenás, verdes, amarelos, laranjas,vermelhos.
Meu hotel fica no Temple Bar, o local mais animado da cidade. Tive de trocar de quarto, porque o primeiro me fez ficar uma noite sem dormir. O atual dá para a Upper Exchange Street, uma ruazinha que o motorista árabe não encontrou no dia em que cheguei e acabou me deixando com duas malas na porta do Turkish Bar ao lado do letreiro Hotel e diante de uma campainha que ninguém atendia. O jeito foi deixar as malas sozinhas no bar e pedir ajuda ao garçom em outra sala. Foi quem me mostrou o caminho e ainda me serviu de carregador. Minha coluna sinceramente lhe será sempre grata. O quarto é ótimo. De bom tamanho, super confortável, banheiro novinho e com chuveiro!!! Nada como o terrível ‘telefone’ que encontrei no Les 4 Soeurs, o simpático hotel bordelês (ops! Não confundir, as irmãs fazem gênero família!).
O primeiro dia foi de programa light para compensar a terrível viagem: 13 horas entre vôo, táxis e aeroportos, fazendo e desfazendo as malas, jogando um bocado de coisas fora até chegar ao peso permitido (10 quilos na mão, uma só valise, sem bolsa nem nada, é uma só e 15 no porão. Saí do Rio com 14 quilos na maior e 9 na menor. Certo? Não, errado. Pagar o excesso? Compensar uma pela outra? A gentil ( não é ironia, era mesmo gentil) senhora do balcão da Ryanair foi taxativa: era preciso arrumar tudo de novo! Uma novela, abrir duas malas, trocar daqui e dali, duas, três vezes. Mas no final, deu certo. A Ryanair ganha dinheiro de todo o jeito. Os preços são realmente low, mas eles vendem tudo: comida no avião, loteria, perfumes, quinquilharias chinesas. Uma feira! E ainda tocam trombetas (literalmente!) na aterrissagem aos solavancos, mas rigorosamente no horário. A companhia se orgulha de vários recordes, o de menos acidentes e da pontualidade. Enfim, cheguei. E agora, vou conhecer a terra de James Joyce, Bernard Shaw, Johnathan Swift, Edna O’Brien, Oscar Wilde, para citar alguns. 
Para conhecer um pouco da inland do país, já havia escolhido uma excursão parte trem, parte ônibus. Pena que o dia amanheceu nublado e a vista do trem junto ao mar ficou prejudicada. Mas os locais visitados valeram a pena. Vi campos enormes, verdes e beges de todos os tipos, uma cidade medieval encantadora (Kilkenny). Nosso grupo de apenas 10 pessoas permitiu que se fizessem pequenos grupos: no meu, éramos três, uma japonesa, um de Taiwan e eu. Mas os demais também se relacionavam.
Hoje vou começar o tour de Dublin com o meu ticket 2 dias hip hop: ônibus de dois andares passam por 23 pontos da cidade a cada 15 minutos. Dá para descer, ver o que interessa e voltar a ronda. São tantas coisas que tenho pena de só ter mais 48 horas. Por isso, vou parando por aqui.

sábado, 7 de novembro de 2009

No tempo em que a imprensa pensava...




por Gonça
A situação atual da imprensa - seus valores, opiniões, tendências e a própria qualidade do jornalismo praticado no Brasil - tem sido muito discutida. Põe-se em questão o equilíbrio dos veículos, o forte engajamento político não declarado mas dissimulado no noticiário, o fato de os meios de comunicação permanecerem nas mãos de grupos econômicos e financeiros e de senadores, deputados, ex-senadores, ex-deputados e, agora, com forte propósito político, também das igrejas. Tudo isso mostra que faz falta uma opinião alternativa agora e fará mais falta ainda em 2010, ano de eleições. Jornais, revistas e TVs se recusam, no Brasil, a declarar seu voto formalmente antes da cobertura das campanhas. É uma prática comum em alguns países e mais honesta. Sabendo claramente quais são os candidatos que um jornal apoia, o leitor, e eleitor, faria uma leitura mais transparente do noticiário. Aqui, prefere-se a dissimulação.
Mesmo na época da ditadura, manteve-se, ainda que em precárias condições, uma imprensa alternativa, de pouco alcance, é verdade, mas simbólica e combativa. Atualmente, apenas na Internet (e ainda bem) há manifestação de pensamento, críticas e idéias que escapam ao refrão geral da mídia. A classe - os jornalistas - ainda faz em alguns sindicatos, associações ou universidades, tentativas de discutir os meios de comunicação. Recentemente, participei de um seminário da UFRJ que abriu espaço para um desses debates mas a discussão não chegou à sociedade, nenhum jornal se interessou pela pauta e as questões interessantes ali levantadas se encerraram na sala de aula.
Do baú do paniscumovum recolhi algumas publicações que reproduzo acima. É curioso como nos anos 70 e até meados dos 80 existiam várias revistas com conteúdo crítico e informativo sobre os meios de comunicação. Entre as mais conhecidas estavam os Cadernos de Jornalismo e Comunicação, editado pelo Jornal do Brasil, e a Revista de Cultura da Vozes. A publicação do JB era dirigda por Alberto Dines e editada por Armando Strozemberg. Entre os redatores, Renato Machado. O número 34 dos Cadernos, de fevereiro de 1972, trazia uma matéria sobre design de embalagens, discutia o "complicado ofício de criar a persusão", alertava sobre os "perigos das generalização" na mídia e informava sobre "o lucro crescente dos Rolling Stones ao deixar o underground" (expressão da época levada pela poeira do tempo). Na Revista de Cultura Vozes, de 1975, os temas eram mais complexos: de "Hegel&Heidegger, Satanismo e Bruxaria", à "Teologia da Graça Libertadora" e ao artigo "O Corpo bem temperado, o jazz, o rock e os limites do formalismo". Era dirigida pelo frei Clarêncio Neotti, tinha como secretário de redação o escritor Moay Cirne e o teólogo Leonardo Boff entre os colaboradores. Mas havia espaço para matérias como a da capa sobre o fenômeno dos Quadrinhos. A revista Comunicação, do Departamento de Jornalismo de Bloch Editores, era dirigida por Arnaldo Niskeir e editada por Antônio Carlos da Cunha. Na coordenação, José Carlos Jesus; Luiz Paulo Silva cuidava da pesquisa. Circulou nas décadas 70/80. A edição reproduzida aqui debatia o "Ensino da Comunicação", o "Merchandising, a publicidade através de sua mais recente novidade", e contava os dois anos de sucesso da Rede Manchete. Uma reportagem assinada por Lenira Alcure (uma das autoras do livro Aconteceu na Manchete - as histórias que ninguém contou) abordava o lançamento dae uma revista semanal de informação e análise, a Fatos, publicação que durou um ano e meio e foi abortada por setores da Bloch sob a acusação de que era "comunista". Revendo esses títulos, fica evidente que os jornalistas não dispõem, atualmente, de veículos que os façam parar para pensar. E tanta autossuficiência é o motor da arrogância, dos superpoderes e da deturpação do ofício de noticiar, refletir e da opinião privada a prevalecer sobre a opinião pública.