quinta-feira, 22 de julho de 2021

Forças nada ocultas (e o "voto impresso" como pretexto para um ataque desesperado à democracia)




por José Esmeraldo Gonçalves
O fato político do dia decorre de uma matéria do Estadão. Segundo o jornal, o ministro da Defesa, general Braga Neto, teria mandado um recado para o presidente da Câmara, Arthur Lira, basicamente avisando que as eleições de 2022 só acontecerão se o voto impresso for aprovado. 

O motivo da suposta pressão é a emenda em análise na Câmara que se aprovada obrigará a emissão de um "recibo" impresso do voto (mais conhecido, nas redes sociais, como "boleto da milícia", uma irônica referência ao que poderia ser um "comprovante" da compra e venda do voto. O projeto propõe que uma cédula seja impressa após a votação eletrônica, de modo que o eleitor possa conferir o voto antes que ele seja depositado 

(Veja informação abaixo, ao fim do post*)

Há cerca de duas semanas Bolsonaro expressou a mesma ameaça, publicamente. O que o general fez agora, de acordo com a reportagem, foi referendar e assinar embaixo da ofensiva contra a Constituição e a democracia. 

A matéria do Estadão protege as fontes, mas ressalta que vários políticos e até um ministro do STF têm conhecimento da ameaça de Braga, alguns testemunharam o recado. Os repórteres, como mostra a denúncia, checaram as informações em vários níveis. Braga Neto nega que tenha enviado o recado, mas admite que o Governo Federal defende o "voto eletrônico auditável". 

Bolsonaro e adeptos denunciam repetidamente fraude na apuração de votos. Desafiado a mostrar provas se acovarda também seguidamente. E já antecipa que só a fraude impedirá sua reeleição no ano que vem. Bolsonaro não é original ao lançar suspeitas sobre as urnas. Apenas segue a tática de Donald Trump, que aliás levou uma horda de apoiadores a invadir o Congresso americano, no dia 6 de janeiro, quando deputados e senadores confirmavam oficialmente a vitória de Joe Biden. 

A propósito dos instintos do ex-presidente americano, os jornalistas investigativos Philip Rucker e Carol Leonnig, do Washington Post, lançam o livro “I alone can fix it: Donald J. Trump's catastrophic final year” (“Só eu posso resolver isso: o catastrófico ano final de Donald J. Trump”), onde revelam que a cúpula militar dos Estados Unidos chegou a temer um golpe de Estado e teria se preparado para reagir. A primeira resposta seria um pedido de demissão coletiva caso Trump passasse a dar ordem ilegais. 

(*) O projeto que cria o voto impresso, apoiado pelo governo, vem na sequência de fake news que circulam nas redes sociais, Os defensores da medida alegam que o voto eletrônico não pode ser auditado. O TSE desmente. Veja trechos de matéria no site do tribunal: 

"Depois que a votação é encerrada, o total de votos registrados em cada aparelho é gravado em uma mídia digital. Posteriormente, o resultado é transmitido ao TSE por meio de uma rede exclusiva da Justiça Eleitoral, o que impede qualquer tentativa de interceptação por hackers. Os dados chegam criptografados ao Tribunal, onde são checados e somados por um programa. (...) Todo o processo pode sim ser auditado".

"Antes da eleição, os códigos-fonte usados na urna eletrônica podem ser conferidos no TSE. Durante todo o processo eleitoral, é permitido checar e auditar todos os softwares que realizam a totalização dos votos. Por fim, depois da votação, tudo fica registrado no Boletim de Urna (BU), um relatório detalhado, que contém, entre outras informações, o total de votos por partido e por candidato, bem como a totalidade de eleitores aptos a votar na seção e a quantidade de votos nulos e brancos".

"Quer verificar o resultado da sua seção eleitoral, cidade ou até de todo o país? Você pode: basta checar o Boletim de Urna disponibilizado após o término da votação ou no Portal do TSE. 

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