(da redação da JJcomunic)
Tentativa de anulação do inquérito, divulgação de versões orientadas, depoimentos que mudem em velocidade alucinante, uma hora um acusado fala em rojão outra hora em sinalizador, certamente instruído, que pensou que era um sinalizador, um acusa o outro de ter acendido o rojão. Curiosamente, os dois têm o mesmo advogado. Não demora e surgirá a versão de que o estopim teve combustão espontânea.
Em entrevista emocionante, ontem, no Jornal Nacional, Vanessa Andrade, jornalista e filha do repórter cinematográfico Santiago Andrade, declarou que a morte do seu pai não vai ser em vão. E que lutará para ver punidos os responsáveis. Vanessa terá que lutar muito para ver os culpados na cadeia. E cabe à sociedade apoiá-la. Mas vai ser difícil. Tumultuar a fase de inquérito é velha arma de quem confundir a apuração e plantar desde já elementos que dificultarão a condenação. Já há quem defenda na rede e até em artigos nos jornais que foi um "acidente", que os acusados não tiveram a intenção de matar, que o rojão não tem mira, que cada um daqueles rapazes é um flor de pessoa. Que máscaras não devem ser proibidas. Que foi uma fatalidade que não deve culpar dois meninos que lá estavam para lutar pelo futuro do Brasil. Uma outra linha diz que aqueles que pedem punição para os assassinos de Santiago Andrade estão agindo da mesma forma que os garotões justiceiros do Flamengo que amarraram um ladão a um poste. Cada uma dessas opiniões tem ajudado a acender estopins e vai ajudar a acender muitos outros nos próximos meses.
Se os acusados pela morte de Santiago não forem julgados nem condenados, não será novidade. Não há um só manifestante condenado por saques, roubos, destruição de patrimônio, espancamento ou de outras ações criminosas como atear fogo em um carro com um família dentro, desde que começaram os protesto em junho do ano passado. Se, por acaso, forem julgados, quem garante que a acusação de homicídio não será desqualificada e a pena transformada em alguma punição levíssima, como geralmente ocorre, com prestar serviço comunitário, por exemplo, lavando a calçada manchada pelo sangue de Santiago ou de futuras vítimas?
O governo pretende mandar um projeto de lei para tipificar tais crimes. Alguns juristas acham que é píada. Esses crimes já estão previstos no Código Penal. Se pela lei antiga ninguém foi condenado porque alguém o será pela lei "nova" que corre inclusive o risco de "não pegar"? Vanessa disse que grupos assassinos não podem ser apoiados. Manifestação legítima é outra coisa. "Meu pai foi mais uma vítima da violência desse grupo que já vem quebrando banco, que já vem quebrando a rua, que já vem destruindo tudo”, disse. “Quem está lá diz ‘poxa, é legal, pelo menos eles estão fazendo barulho". Não, não é, porque quem paga sou eu, quem paga é quem está lá.”, afirmou Vanessa ao JN.
O que a sociedade espera é que as ruas permaneçam abertas para os manifestantes. E que a justiça cuide das milícias financiadas, segundo denúncias, que passaram a dominar os protestos. E que crimes como o que vitimou o cinegrafista sejam punidos, sejam os responsáveis mercenários ou não. A propósito, não foi muito noticiado, mas no mesmo dia em que Santiago morreu, um senhor idoso que estavam em um ônibus assustou-se com o quebra-quebra, tentou fugir, desceu do coletivo e foi atropelado. Os black blocs e seus incentivadores devem ter contabilizado nos seus diários mas essa importante "conquista".