por Alberto Carvalho
(do livro Eu, Tura - Recordações)
Uma passagem pela Bloch que jamais esquecerei foi o incidente que ocorreu nos estúdios fotográficos da empresa, no prédio da rua Frei Caneca. Isso ocorreu em agosto de 1980.
O produtor de cinema e televisão Alcino Diniz pediu ao Justino Martins uma reportagem sobre o filme que ele estava produzindo. Era uma sátira ao famoso King Kong, e se chamava “ King Mong contra o Tiranossauro”. No elenco, o comediante Costinha (Tarzan), a atriz Nídia de Paula (Jane) e um menino que estava despontando na televisão como promessa de grande sucesso, o Ferrugem (Boy).
A foto que seria produzida para a matéria foi marcada para ser feita em um sábado. Como eu morava perto do estúdio, na rua Frei Caneca, Justino Martins, diretor da
Manchete, me pediu para acompanhar o trabalho e orientar a produção, tal como ele queria.
Quando cheguei ao estúdio, fui surpreendido pela presença de um leopardo e de um chimpanzé que faziam parte do elenco. O macaco, junto com Ferrugem, fazia a maior farra! O leopardo cochilava dentro de um camarim. Os animais estavam acompanhados pelos seus treinadores. Eles pertenciam ao Circo Garcia, que estava em temporada na Praça Onze, ali perto.
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Ferrugem, após ser atendido, posou para
uma matéria da Fatos & Fotos sobre
o incidente. |
O fotógrafo escalado para o trabalho foi o Gil Pinheiro. Ele pediu para juntar todo o elenco para começar os trabalhos. Costinha estava atrasado e, como os bichos tinham que voltar para suas apresentações no circo, o jeito foi fazer a foto sem ele. Reuniram-se: Nídia de Paula, com o leopardo seguro por uma corrente, Ferrugem, com o chimpanzé (Chita) no colo, um dublê vestido de gorila e outro como dinossauro. Os treinadores afastados observavam o comportamento dos animais.
Estava tudo pronto: Luz! Câmara! Ação! De repente, o Ferrugem começou a fazer gracinha com o leopardo quando este parecia ainda meio sonolento. O leopardo se desprendeu das mãos da Nídia e num salto espetacular caiu sobre o menino deixando-o preso sob suas enormes patas. Os tratadores, surpreendidos, correram para retirar o animal de cima do Ferrugem. Mas o leopardo não o largava de jeito nenhum. Com o coração na mão e tremendo de medo, corri em direção ao menino e com um puxão pelas mãos e pelos pés, retirei-o debaixo da fera. Fui um sufoco! Os treinadores disseram que o animal só estava brincando, o que depois de tudo passado, eu também acreditei. Caso contrário a fera teria matado o Ferrugem.
O chimpanzé, que a tudo assistia, dava gargalhadas e cambalhotas, aplaudindo o seu companheiro de trabalho no circo.
Socorremos o menino levando-o ao Hospital Souza Aguiar para ser examinado. Apenas alguns arranhões pelo corpo e na cabeça, mas mesmo assim ele ficou internado em observação durante 24 horas.
Um detalhe: Justamente naquele exato momento do incidente no estúdio, um veterinário, no circo, logo ali perto, estava fazendo o parto de uma fêmea que estava dando à luz a um leopardozinho, filhote daquele brincalhão
Quem sabe o instinto do animal falou mais alto e ele estava comemorando o nascimento do seu filhote? Vai saber!...