Cartaz de A Montanha Mágica, de Thomas Mann |
Jeanne Moreau em Diário de uma camareira. |
Robert Taylor e Greta Garbo em A dama das camélias |
Mimi, a heroína da ópera de Puccini, La Bohème, sofre de tuberculose; e também Violeta, em La Traviata de Verdi – A dama das camélias do romance de Alexandre Dumas Filho que inspirou a ópera. A literatura e a música imortalizaram a tuberculose como “A doença do amor”.
Thomas Mann acompanhou a mulher doente em sua internação num sanatório de Davos Platz, na Suíça. A experiência o levou a escrever A montanha mágica, um dos maiores romances do século 20. Em outra estação de sanatórios suíça, Clavadel, a russa Elena Ivanovna Diakonova, mais conhecida como Gala (depois Dali), conheceu o poeta Paul Éluard e acabaram se casando.
No Brasil, sem ir muito longe, temos uma verdadeira Sociedade dos Poetas Mortos (de Tuberculose): Castro Alves, aos 24 anos; Casemiro de Abreu, aos 23; Álvares de Azevedo, aos 21. Entre golfadas de sangue e poesia, todos cantaram a doença, Álvares de Azevedo, por exemplo:
Descansem o meu leito solitário
Na floresta dos homens esquecida
À sombra de uma cruz e escrevam nela:
Foi poeta, sonhou e amou a vida.
Manuel Bandeira também peregrinou pelos sanatórios de Clavadel, de 1913 a 1914, onde travou amizade com Paul Éluard. A Primeira Guerra Mundial o forçou a voltar ao Brasil. A tuberculose inspirou-lhe um poema notável, Pneumotórax:
Febre, hemoptise, dispneia e suores noturnos.
A vida inteira que podia ter sido e que não foi.
Tosse, tosse, tosse.
Mandou chamar o médico:
— Diga trinta e três.
— Trinta e três… trinta e três… trinta e três…
— Respire.
— O senhor tem uma escavação no pulmão esquerdo e o pulmão direito infiltrado.
— Então, doutor, não é possível tentar o pneumotórax?
— Não. A única coisa a fazer é tocar um tango argentino.
Nelson Rodrigues: esquete cômico criado na cama |
Lembro ainda, no começo da adolescência, uma cena de filme que causou frisson nas plateias da época. Em À noite sonhamos/A Song to Remember, uma biografia romanceada de Chopin, interpretado pelo galã Cornel Wilde, o fim prematuro do pianista polonês, que morreu de tuberculose aos 39 anos, se anuncia em tecnicolor quando gotas vermelhas de sangue caem sobre as teclas brancas do piano.
Jimmie Rodgers |
‘Cause my body rattles
Like a train on that old S.P.
I’ve got the T.B. blues.
Porque meu coração chacoalha
Como um trem naquela velha Southern Pacific
Eu tenho o blues da tuberculose.
(Ouçam AQUI)
O jazz na virada do bebop, perdeu três grandes promessas: o baixista Jimmy Blanton, aos 23 anos; o guitarrista Charlie Christian, aos 25; e o trompetista Fats Navarro, aos 26. Os sambistas brasileiros também sofreram pesadas baixas, como os escritores, atores e jornalistas mais chegados à vida boêmia. O exemplo mais notório é o genial Noel Rosa, que morreu de tuberculose em 1937, aos 26 anos (por pouco não entra para o célebre Clube 27...)
Além da tuberculose, outros surtos de doença forneceram rico material para a literatura. A Peste Negra da Idade Média levou o contemporâneo Boccaccio a escrever o Decamerão. Edgar Allan Poe inspirou-se em outra peste para escrever o conto A máscara da Morte Vermelha. Pedro Nava e Nelson Rodrigues descreveram a passagem da Gripe Espanhola pelo Brasil no pós-guerra de 1918. O cólera rendeu duas obra-primas: O amor nos tempos do cólera, de García Marquez, e Morte em Veneza, de Thomas Mann.
Este inusitado coronavírus que caiu de repente sobre nós, já deu inspiração de sobra. Eu mesmo comecei a escrever um Diário do Coronavírus. Só estou torcendo agora, como todos nós, para que esta praga vá embora o mais rápido possível.
PS – Se querem saber bem mais, consultem o link
https://pt.wikipedia.org/wiki/Pessoas_que_sofreram_de_tuberculose