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terça-feira, 23 de agosto de 2016

Brasil Olímpico: esperanças e diferenças no futebol...

A foto símbolo do ouro olímpico é o pódio, onde o capitão Neymar optou por exibir uma faixa polêmica que vai contra as regras sensatas do Comitê Olímpico Internacional. Foto Lucas Figueiredo/MoWa Press/CBF

Por oferecer medalhas e não taça, o torneio de futebol olímpico não deixa a famosa foto-logotipo que celebrizou os cinco títulos em Copas do Mundo. Reprodução

por José Esmeraldo Gonçalves
O ouro olímpico foi uma importante conquista do futebol. O troféu que faltava. Mas passada a euforia é bom baixar a poeira. 

A seleção olímpica penou pra chegar lá. Teve notórias dificuldades para realizar um fundamento do futebol: o gol. Mostrou alguma evolução em marcação coletiva mas errou no excesso de passes laterais, concentrou o jogo em Neymar, exibiu nervosismo em certos momentos, falhou demais na ultima bola. 

Positivo foi o poder de recuperação depois de quase não se classificar em um torneio que reuniu adversários medianos. Contaram pontos a disposição e uma disciplina em absorver o estilo de jogo pretendido por Rogério Micale. 

O Brasil aplaudiu a conquista e Tite, o novo treinador da seleção principal, também vibrou. Justo. Tanto que convocou sete jogadores do campeão olímpico. 

Entende-se que diante da proximidade de jogos pelas Eliminatórias Tite quis aproveitar jogadores em atividade, tanto os olímpicos quanto os que atuam no Brasil ou na China, onde o campeonato está em curso, preterindo os "europeus" que voltam de férias, sem ritmo de jogo. 

É uma aposta compreensível, mas é uma aposta. 

O Brasil, que tem 9 pontos e duas vitórias, pega o Equador - que está com 13 pontos e quatro vitórias - e em seguida a Colômbia, com 10 pontos e três vitórias. São jogos decisivos para uma recuperação da seleção que, no momento, está fora da zona de classificação.

O ouro olímpico tem, além do ineditismo, o mérito de dissipar algumas nuvens que pesam sobre o futebol brasileiro. Antes, durante e depois do fatídico 7x1. 

Nelson Rodrigues diria maktub: o título estava reservado para o Maracanã, o estádio-lenda de tantas glórias e de tantos craques. 

Foi o primeiro título mundial de uma seleção brasileira que o Maraca recebeu ao longo de 66 anos (é o segundo se o leitor quiser incluir a Copa das Confederações de 2013, um torneio menos emblemático também vencido pelo Brasil). Aquelas quatro linhas e aquele anel - que foram anfitriões orgulhosos de Ademir, Zizinho, Pelé, Garrincha, Gilmar, Nilton Santos, Didi, Gerson, Vavá, Rivelino, Romário, Ronaldo e tantos outros mágicos do futebol  - mereciam essa honra. 

Pena que, no ritual olímpico, não houve espaço para a foto-logotipo que marcou os cinco títulos de Copa do Mundo: a taça erguida pelo capitão. 

Primeiro, a imagem que simboliza a conquista olímpica é a dos vencedores no pódio. Segundo, o capitão do título é Neymar. Que não será um "eterno capitão", como Carlos Alberto, porque já "pediu as contas" do posto. 

Como capitão, sem taça para levantar mas com medalha para se orgulhar, Neymar será lembrado na Rio 2016 pelos gols, pelos passes e por dois momentos destacados: a frase rancorosa "vão ter que me aturar" e a faixa "100% Jesus".  O segundo poderia resultar em punição formal ao Brasil, já que o regulamento olímpico acertadamente rejeita manifestações políticas e religiosas. Teoricamente, a seleção poderia até perder a medalha. Diz-que que o COI, contudo, fará apenas uma advertência oficial ao COB. Em um evento associado à paz e à convivência respeitosa entre os povos, a pluralidade, a harmonia, a ostentação religiosa pode ser desagregadora.

A frase "vão ter que me aturar" embute um duplo sentido perturbador para quem a pronuncia. 

Muitos ídolos que pisaram no Maracanã, como os citados acima, foram "aturados" na boa por gerações de torcedores. 

É muito cedo para falar o mesmo de Neymar.

Falta um detalhe chamado Copa do Mundo. No mínimo.