Queiram perdoar os possíveis leitores aqui chegados, mas gostaria de esclarecer que, na verdade, o pomposo título “Os Bonecos da História” encobre (não muito, que também está no cabeçalho do blog...) a minha intenção de publicar “os bonecos da minha história no fotojornalismo”, com a devida ressalva de que o conceito de “fotojornalismo” significa, aqui, um qualquer registro fotográfico que eu tenha feito por aí...
Daí que, ainda que pública, a postagem do momento é muito particular, é pessoal mesmo. A figura retratada e relembrada aqui é ninguém mais ninguém menos do que minha mãe, a (pelo menos no meio da parentada) famosa D. Nylza.
O motivo está antevisto no título: D. Nylza completaria hoje (ontem), 1º. de Janeiro de 2019, exatos 100 anos da vida. Não chegou lá, mas viveu até 15 dias antes dos seus 99 anos, sempre com a lucidez e o bom humor que aliviava as dificuldades da nossa vida.
Oscar e Nilza nas Bodas de Ouro. Foto de Guina Araújo Ramos, 1985 |
Com apenas 16 anos, casou com Seu Oscar (ele, aos 27), seu companheiro de toda a vida, ela sempre a dona da casa, criando os seis filhos, ele sempre na estrada, com caminhão, lotação ou ônibus, na autonomia ou não, conforme a época.
Em 1948, a família se muda para Duque de Caxias, com meu pai trabalhando no transporte de areia para a construção do Maracanã. Daí que, em 1950, em plena Copa do Mundo, eu nasci no Rio de Janeiro, no Hospital do IAPETEC, hoje Federal de Bonsucesso.
A família morou em alguns bairros da Zona da Leopoldina, de Cordovil a Olaria, até que os dois, agora sós, voltaram a Areal, no princípio dos anos 1980. Lá, D. Nylza ficou viúva, em 1988, e de lá veio para sua temporada final, nos últimos quinze anos, com filho e netos, em Caxias.
Entre tantas fotos que fiz de D. Nylza, qual eu deveria escolher para a abertura desta postagem?...
Pensei até em capturar uma imagem no vídeo da visita de D. Nylza ao Pão de Açúcar, este evento que significou o cumprimento de uma velha dívida familiar. Afinal, descobri qual seria a foto: justamente aquela que ela própria havia escolhido!... Foi feita por volta de 1977, eu já profissional, trabalhando na Bloch Editores, num dia qualquer em que voltei à última casa em que morei com ela e com meu pai. Entrando pelos fundos do apartamento térreo, em Olaria, subúrbios da Zona da Leopoldina, Rio de Janeiro, eis que a surpreendi no comando do fogão. No susto, para ela, faço a foto! Sua expressão, mais de satisfação do que de espanto, até hoje me alegra. Desde que lhe entreguei uma cópia, há mais de 40 anos (tantos que as cores até se perderam), nunca mais deixei de ver esta foto, "o susto de D. Nylza", em uma parede sempre nobre de qualquer das casas em que morou.
D. Nylza homenageada. Foto de Guina Araújo Ramos, 2015. |
É que nos últimos anos, a partir de algum impreciso momento, passei a considerá-la, em alguns contextos e de maneira certamente simbólica, e particularmente como forma de reconhecimento à sua luta pessoal, uma espécie (simpática, acho eu) de representante do próprio povo brasileiro.