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sábado, 21 de outubro de 2017

Tite não quer "papagaio de pirata" fazendo selfie na concentração da seleção brasileira na Rússia...

O assédio de celebridades, mídia e parentes de jogadores na concentração da seleção brasileira começou a passar dos limites durante a Copa de 1998, na França. Houve registros de famílias e namoradas levando encrencas sentimentais aos bastidores e desconcentrando certos craques. Em Paris, a mídia não esteve tão invasiva em relação ao que aconteceria em 2006, 2010 e 2014. Já em 2002, na Copa Japão-Coréia do Sul, os preços e a distância se encarregaram de enxugar comitivas de parentes e até mesmo equipes de jornais, revistas e TV.

Brasileiros lotam estação de Munique. A Copa de 2006 foi a que mais atraiu brasileiros ao exterior.
Na época, com dois meses de antecedência, as agências de turismo
tiveram pacotes esgotados.  Foto J.E.Gonçalves

Na Alemanha 2006,  o bicho pegou. Talvez a parentada até tenha estado mais calma. Algumas mídias não. Celebridades badalando nos treinos, programas de entretenimento da TV fazendo "especiais", jornalistas amigos convidados a jantares com vinho do Reno na concentração e telejornais noturnos obrigando jogadores da permanecer acordados para "entradas ao vivo", patrocinadores fazendo "ações de marketing" etc. Jornalistas de veículos menos afortunados, aqueles aos quais a cobertura estritamente esportiva era fundamental, enfrentaram dificuldades em certos locais e momentos. Talvez a torcida não tenha saudade da Copa da Alemanha, mas alguns jogadores viveram lá noites de belas Valquírias. O dia seguinte aos jogos era livre. E, depois do apito final, cada um seguia seu rumo. Dusseldorf e Dortmund, respectivamente a pouco mais de 50km e a cerca de 150km de distância, foram os destinos preferidos. Em 2010, com o Brasil em bom momento econômico, dólar a menos de R$1.700, com o atrativo irresistível de a Copa ser na Europa, a Alemanha virou Brasil. Colônia, principalmente, mas não apenas essa cidade, com a mobilidade que o país permitia a torcida circulou por outras sedes.

A foto acima mostra torcedores brasileiros  lotando a estação de Munique, a caminho da Allianz Arena, no dia em que o Brasil derrotou a Austrália por 2X0.

Na África do Sul, 2010, o intenso assédio se repetiu. Com um complicador a mais: o então treinador Dunga tentou controlar horários e impor limites à mídia e aos programas de entretenimento - que, cada um, queria sua exclusiva -, e se deu mal ao barrar figuras influentes. Interesses poderosos entraram em guerra com o técnico e muito dessa tensão chegou aos jogadores.

Em 2014, aqui no nosso terreiro, o acesso tornou-se incontrolável. Com a Granja Comary logo ali, os jogadores talvez tenham gastado mais tempo posando para selfies e fazendo participações em programas de TV do que ouvindo preleções do treinador.

Esse liberou geral para acesso aos jogadores nas vésperas de jogos nunca deu muito certo. O maior exemplo é a noite que antecedeu a final da Copa de 1950. Políticos, ídolos do rádio, padre celebrando missa, o filho do Chefe de Polícia, a mãe do ministro, a cunhadinha do juiz, a amante do burocrata federal... O clima era de "já ganhou" e tudo que era papagaio de pirata baixou na concentração. Alguns ficaram até de madrugada. Deu no que deu.

Em 1958, na Suécia, em 1962, no Chile e em 1970, no México, quando smartphones nem ficção eram e só o Agente 86 dos anos 60 tinha telefone móvel no sapato, não houve nada parecido. Na Argentina, 1978, embora logo ali, o pesado clima da ditadura e uma certa descrença na seleção não animaram muita gente. Acrescente-se que a inflação estava em alta, quase 40%, e o dólar batia recordes históricos.

Na Copa da Rússia, quem sabe o que acontecerá? Tite já tem um ideia do que não quer. Ontem, o treinador revelou que não permitirá que familiares de jogadores, como estava sendo cogitado, se hospedem no mesmo hotel que sediará a concentração da seleção. Quer garantir o máximo de privacidade aos jogadores. Apesar disso, ninguém estará muito longe dos craques. A bela cidade de Sochi, que sediou as últimas Olimpíadas de Inverno, é candidata a receber o Brasil. Tem menos de 400 mil habitantes, é um balneário de clima ameno às margens do Mar Negro e limitada pelas montanhas do Cáucaso. Um convite à perdição.  "Ajustar para uma outra possibilidade dos familiares estarem próximos a quem quiser, aí é um outro fator, uma outra circunstância. No núcleo seleção brasileira, não”, disse Tite ao R7. O treinador também promete que excessos por parte da mídia serão evitados. Na Granja Comary, até treinos foram interrompidos para gravações privilegiadas de matérias para a TV Globo.

Se Tite vai segurar esse foguete só o tempo dirá.


sábado, 28 de maio de 2016

Copa América Centenário: Dunga sob cerco, Kaká como o Sobrenatural de Almeida e o que a mídia esportiva tem a ver com tudo isso...

Dunga durante treino no StubHub Center, na Califórnia. Foto de Rafael Ribeiro/CBF


por José Esmeraldo Gonçalves

O relacionamento de Dunga com a mídia esportiva, ou boa parte dela, jamais foi sereno. A isenção dos comentaristas em relação ao gaúcho passou longe, muitas vezes, do que deveria e o temperamento do ex-jogador o colocou em permanente defensiva, sempre pronto para comprar brigas.

Na Copa de 1990, quando o técnico da seleção era Sebastião Lazaroni e o Brasil não passou da primeira fase, Dunga, embora não fosse um protagonista, foi apontado pela mídia como o símbolo injustamente individualizado de uma era, a Era Dunga, de futebol opaco e defensivo. Aquela seleção foi um desastre - hoje até relativizado já que, apesar de tudo, não sofreu um mega vexame do tipo 7 X 1 - e tinha nomes dos quais se esperava muito mais como Bebeto, Careca, Ricardo Rocha, Alemão, Renato Gaúcho, Romário, Branco, Mauro Galvão etc. 

Mas sobrou para Dunga, talvez pelo seu jeito reservado a avesso a tapinhas nas costas. Em 1994, ele e vários dos passageiros do trem desgovernado de 1990 ganharam a Copa. Não sem críticas: para muitos, foi um mundial de futebol de resultados, sem brilho. Talvez, mas quem não viu luz nos gols de Romário e Bebeto, nas defesas de Tafarel, nos foguetes de Branco e no empenho e garra de Dunga?  No material da cobertura dos jornais e da revista Manchete, havia muitas fotos do volante sorrindo, mãos na taça, mas a mais publicada, na época, o mostrava raivoso, marrento, de punho fechado. Dunga lavou a alma e foi escalado na seleção da Fifa em 1994 (em 1998, também, quando foi vice após a convulsão de Ronaldo, vetado e em seguida espantosamente chamado por Zagalo já nas sombras do vestiário, enquanto o som do estádio anunciava Edmundo como titular na final contra a França, mas essa é outra história).    

Curiosamente, foi a imagem de garra e força de vontade na Copa de 1994 que levou Dunga a ser o técnico da seleção após outro desastre, o de Parreira, na Copa de 2006, com um time considerado forte e que era tido como favorito em função da constelação de craques. Mas aquela seleção foi ineficiente em campo, embora extremamente animada fora das quatro linhas. Liberalidade, compromissos com patrocinadores e com veículos, um certo excesso de folgas, a noite europeia e as louras alemãs livres e maiores de idade, tudo isso foi apontado com fator de perda de foco. Nesse ponto, os jogadores foram poupados pela mídia brasileira e coube às agências internacionais revelar, por exemplo, um flagrante de balada na Suíça, durante a fase de treinos, pouco antes da Copa. As fotos foram publicadas no Brasil, obviamente, mas como material adquirido da mídia europeia, embora as saídas noturnas de alguns atletas fossem conhecidas por quem cobria a seleção. Inegavelmente, a mídia demonstrava manter boas relações com Parreira e evitava levantar a bola da crítica. Claro que se o jogadores tivessem resolvido a parada em campo tudo acabaria bem e em um caminhão de bombeiro nas ruas do Brasil. Só que não deu ou melhor, tudo isso aí somado, deu no que deu. Depois, a CBF reconheceu que faltou o rigor que deveria haver na agenda de uma Copa do Mundo. Mas essas críticas do front alemão só ganharam divulgação depois que a França mandou o Brasil de volta para casa direto de Frankfurt.   

Após a nova frustração, a CBF surpreende ao chamar Dunga para botar ordem na casa. O treinador classifica a seleção, ganha a Copa América e a das Confederações, mas falha na hora dos vamos-ver. E na Copa da África do Sul, o Brasil, como na Alemanha, não passa das quartas de final. Não foi tranquila a Segunda Era Dunga. Ele foi marcado sob pressão pela mídia. Barrou investidas de apresentadores poderosos que queriam ter o acesso livre, como haviam tido na Alemanha, acirrou adversários, discutiu com repórter e proibiu entrevistas. Sob qualquer pretexto - até a camisa berrante ou o agasalho fashion do treinador - tudo virava crise, um clima péssimo para um time que disputava uma Copa. De novo, tudo isso junto, não apenas o time, não apenas o clima, carimbou a passagem de volta para o Brasil. 

Veio a Copa do 7X1, em casa, um novo desastre, dessa vez de proporções apocalípticas. Antes da Copa, Mano Menezes foi tragado e, durante, Felipão foi triturado. Ambos tiveram boas relações com a mídia. E o acesso à Granja Comari voltou a ser risonho e franco para patrocinadores, assessores de jogadores, amigos famosos e nem tanto etc. O Brasil chega às semifinais, mas melhor seria ter sido desclassificado antes, quando ainda restava alguma dignidade. 

Com a seleção de moral na grama, a CBF surpreende ao chamar Dunga para conduzir o Brasil à Copa do Mundo da Rússia. Dessa vez, até aqui, pode-se afirmar que a mídia está deixando o treinador em paz. Se critica seu esquema de jogo, a falta disso ou suas escalações e convocações - o que deveria ter sido desde sempre o foco das críticas - parou de encher o saco por querer que o gaúcho seja o máximo da etiqueta, um anfitrião, se derrame em gentilezas, faça sala na concentração e lhe conceda privilégios.   

Se ele vai chegar a Moscou? Muito difícil. Já não vai bem nas Eliminatórias. 

Se será o treinador do time nas Olimpíadas? Talvez. Mas para disputar a Rio 2016 ficaria mais confortável se ganhasse a Copa América Centenário, nos Estados Unidos. 

Com Kaká vai ser difícil. 

Dunga já convocou o jogador, mas o utilizou por poucos minutos. Não faz sentido. Só vejo uma "explicação" surreal: Kaká está morando nos Estados Unidos, jogando em uma daquelas ligas de aposentados e a Comissão Técnica deve ter preferido economizar nas passagens aéreas.  

O Sobrenatural do Almeida, a quem Nelson Rodrigues recorria para explicar o inexplicável, anuncia turbulências nos voos da seleção.