sábado, 27 de novembro de 2021

Mercúrio do Madeira é mortal: lembrem Minamata • Por Roberto Muggiati

A Pietá de Minamata: trágico símbolo do envenenamento
por mercúrio. 
Foto de W. Eugene Smith

W. Eugene Smith foi agredido por seguranças da fábrica Chisso, corparação influente no Japão, que lançou mercúrio criminosamente, durante anos, nas águas da Baía de Minamata. A foto da mãe japonesa e sua filha custou um olho ao fotógrafo.  

O envenenamento por mercúrio – ingerido pelas populações das áreas poluídas ao consumirem peixe, seu único sustento, causa várias deformidades e, em muitos casos, a morte. Uma das fotos emblemáticas do século 20 – uma mãe japonesa dando banho em sua filha lesada, numa composição que lembra as Pietàs do Renascimento – deu muitos prêmios ao fotógrafo W. Eugene Smith, mas lhe custou um olho, ao ser brutalmente espancado por seguranças da indústria química transgressora na pequena cidade pesqueira japonesa de Minamata. A agressão tóxica foi tão grave que, já em 1954, gerou a denominação do mal: a Doença de Minamata, uma síndrome neurológica causada por severos sintomas de envenenamento por mercúrio. Os sintomas incluem distúrbios sensoriais nas mãos e nos pés, danos à visão e audição, fraqueza e, em casos extremos, paralisia e morte.

W. Eugene Smith (1918-78), um dos maiores foto-ensaistas dos anos dourados do jornalismo ilustrado, passou três anos em Minamata (1971-73) com sua mulher, a nipo-americana Aileen Mioko Smith, documentando a doença. Seu registro Tomoko Uemura tomando banho é considerado uma das obras-primas da arte fotográfica. Antes não o fosse e a pequena Tomoko pudesse crescer com saúde. 

Quantas Tomokos resultarão do garimpo ilegal do rio Madeira? Um crime, como sempre, acobertado pela conivência corrupta das autoridades brasileiras...


2 comentários:

Unknown disse...

Ótimo texto, Roberto Muggiati!! Linda e triste analogia entre as duas situações. Como no caso da pequena que não pôde crescer e desabrochar em vida, bom seria se a situação atual não fosse outra crônica de envenenamentos e mortes anunciadas. Passou o tempo, e a ganância não deixou o homem aprender... Beijo. Lilia

Isabela disse...

Que tragédia, e quantos mortos esse crime produz na população que vive e pesca nos rios.