por Flávio Sépia
Há quatro anos, o então diretor do FMI, Dominique Strauss-Kahn, virou a "Geni" da mídia internacional. O caso foi um prato cheio para os jornalistas. Uma camareira de um hotel de Nova York denunciou o executivo por "abuso sexual"; em seguida, na França, DSK foi processado por supostamente promover "festas libertinas", seja lá o que esse rótulo moralista significasse, com participação de prostitutas. O fim do "escândalo", menos divulgado do que o começo, é revelador: DSK foi processado e por sua vez processou a camareira e o caso acabou em um acordo assinado na justiça americana. Ela dizia que foi forçada a manter relações sexuais com o diretor do FMI, ele dizia que o ato foi plenamente consentido. Não havia testemunhas, os dois estavam sozinhos na suite do hotel.
Quanto ao caso francês, das "festas libertinas", a justiça considerou, ontem, que a acusação era apenas uma suposição. Não havia qualquer prova de que as mulheres presentes, ou uma só que fosse, era prostituta. E mesmo que a convidada exercesse essa profissão digna como qualquer outra seria preciso provar, para sustentar a acusação de proxeneta, que DSK havia pago às jovens. O tribunal não recebeu qualquer indício de que isso teria acontecido. Inocentado, DSK não corre o risco de cumprir 10 anos de cadeia, mas teve sua carreira destruída.
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Reprodução Periscope/Bligoo |
Coincidentemente, na época em que a primeira acusação estourou - a da camareira - ele era o nome mais forte do Partido Socialista para disputar a presidência da França. O caso reacende a discussão global sobre a prática imediatista da mídia, em casos semelhantes, de condenar o suspeito antes de qualquer prova. Acaba tornando-se massa de manobra de altos interesses externos ao jornalismo. O poder da internet agilizou ainda mais essa prática. Não há "jornalismo investigativo sério" que possa ser apurado, fechado e publicado em questão de minutos, que é o tempo da rede para quem, em função da luta pela audiência, tem a prioridade de chegar na frente. Goste-se ou não, DSK foi absolvido não por meras questões técnicas mas por absoluta falta de provas.
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O bombardeio midiático contra DSK. Reprodução Internet |
Aqui, provavelmente, depois da sentença midiática, teria sido condenado por "domínio do fato". Comeu a camareira? Então, literalmente, vale o "domínio da foda". Cadeia pro elemento. Frise-se que a camareira só foi instruída a processá-lo após saber que ele era político importante e diretor do FMI. Houve também a acusação igualmente jamais provada de que ela teria sido "plantada" para criar uma situação constrangedora para o então presidenciável francês. O New York Times chegou a revelar, depois, que ela seria prostituta que trabalhou sem cobrar.Foi uma espécie de brinde? Ou talvez DST tenha sido admitido no programa de milhagem da profssional?
Pensando bem, talvez o maior "crime" de Strauss-Kahn tenha sido exercer a direção desse suspeitíssimo orgão chamado FMI. Proxeneta é elogio diante da "folha corrida" que a famosa instituição acumula com intervenções em paises em nome do capital financeiro e em detrimento de vidas e metas sociais. Como diretor do FMI talvez DSK merecesse prisão perpétua sem direito a visita íntima. Mas esse é o tipo de "crime", sem camareira e prostitutas, que não vende jornais nem aumenta o número de cliques em páginas da internet.
Restou alguma lição desse rumoroso caso? Sei lá. Mas eu aconselharia a quem praticar "relações sexuais consentidas" e não confiar 100% na parceira pegar um documento assinado ou gravar uma declaração no smartphone comprovando o total e voluntário "consentimento".
E isso não é gozação. Ou melhor: é.