De Arnaldo
Bloch (transcrito de O Globo)
O som do
mal
Não há
estatísticas para o peso que os ruídos fora de controle têm na trilha de uma
angústia que termine com o evento do suicídio. Faz dois anos. Voltava,
extremamente triste, da tumba recém-lacrada do querido Renato Sérgio, repórter
e cronista da geração de ouro de Carlinhos de Oliveira, equilibrando-me entre
vértices de túmulos apertados pelas vielas do São João Batista quando, numa
clareira, encontrei o jornalista, escritor e jazzófilo Roberto Muggiati parado,
olhando na direção da enseada de Botafogo.
— O que
você faz aí, Muggiati? Se perdeu? Ou está querendo ficar de vez?
Sem dar
importância à minha provocação (se é que a ouvira), Mug, como é conhecido pelos
amigos, segurou meu braço.
— Escuta —
disse.
— Escuta o
quê?
— O
silêncio.
Fiz menção
de responder mas ele apertou meu pulso com mais força ainda.
Calei, em
respeito a tamanha solenidade, e só então me dei conta do fenômeno: o silêncio
que vinha da cidade era incomum.
Os muros,
os féretros, a terra, o mármore e os mortos funcionavam como eficaz sistema de
isolamento acústico para a massa sonora que assolava o Rio naquele dia de
semana.
Ficamos
ali, imersos, por longos minutos, numa espécie de oração cívica. Aguardei que
Muggiati retomasse a palavra.
— Hoje este
cemitério é um dos raros lugares da cidade de onde podemos, ao mesmo tempo,
contemplar a paisagem urbana e curtir o silêncio. É um privilégio.
Despedimo-nos
pouco depois, e, desde então, não encontrei mais o Muggiati, que, espero,
esteja em boa saúde, já que eu, como diz o ditado, não ando me sentindo muito
bem. Um dos principais motivos de meu desconforto tem muito a ver com aquela
conversa ao pé da tumba: os ruídos da cidade andam me fazendo um terrível mal
ao corpo e ao espírito. Todas as metrópoles do mundo provavelmente estão
sofrendo dessa espécie de saturação sonora, mas o Rio de Janeiro deve estar bem
à frente em mais um desses rankings negativos: não à toa, o barulho desumano é
uma das maiores queixas entre os turistas que vêm atualmente à cidade tão
cantada, encantada e decantada, a começar pelos versos de André Filho, autor do
hino informal sobre suas maravilhas. (...)
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