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sexta-feira, 24 de março de 2017

Rio, 1966: a ditadura light e a esquerda festiva

Foto de Camilo Calazans/AJB/Divulgação/Geração Paissandu

por Roberto Muggiati

Esmeraldo e eu empreendemos uma incansável e obsessiva caçada à memória fotográfica da Manchete. Mais precisamente, procurando levantar a quantidade de profissionais que trabalharam nas revistas da Bloch. Outro dia me veio à lembrança a paraguaia Zulema Rida, casada atualmente com o importante designer Karlheinz Bergmüller. De um casamento anterior, Zulema teve um filha Julia, que se casou em 1980 com o cônsul da Alemanha no Rio, Michael Geier, amigo dos jornalistas de esquerda cariocas – Ziraldo cantou boleros na festa do seu casamento.

Mas, voltando à Zulema, de breve passagem pela fotografia na Bloch. Em 1966, ela foi escalada para fotografar uma reportagem da Fatos&Fotos sobre a esquerda festiva carioca. Ora, as grandes cagadas na Bloch sempre aconteciam com a pobrezinha da F&F. . .

Foto de Luiz Carlos David/AJB/Divulgação/Geração Paissandu

Introduzo na história um personagem-chave que vinha sendo monitorado pessoalmente pelo Jaquito. A embaixada americana continuava funcionando no Rio de Janeiro – só pensaria em se mudar para Brasília depois do sequestro do embaixador em 1969. E fazia um trabalho importante de manutenção no pós-golpe militar de 1964. O assessor de imprensa da embaixada no Rio era Jack Wyant, que atuava também como porta-voz junto à imprensa, televisão e rádio. Curiosamente, Wyant nasceu em São Paulo, em 1929, de pais americanos que faziam trabalho missionário no Brasil. Depois de se formar em jornalismo em Seattle – e de servir o exército americano entre 1951 e 1953, Wyant entrou para a USIA (United States Information Agency). Para a Bloch era importante ter um bom relacionamento com a embaixada dos EUA e Pedro Jack (Kapeller) e Jack (Wyant) logo ficaram amigos inseparáveis. Coincidiam até nas datas de nascimento: Jack era de 7 de outubro, Jaquito de 10 de outubro.

Livro Geração Paissandu,
do saudoso Rogério Durst:
biografia de um point. 
Um local obrigatório para se fotografar a esquerda festiva carioca era o Cine Paissandu e o seu entorno boêmio. Zulema fez um belo ensaio em preto e branco em um bar de calçada ao lado do Paissandu. O editor abriu a reportagem com uma foto em página dupla em que aparecia com destaque como intelectual da festiva – a legenda infeliz enfatizava – Mr. Jack Wyant, da American Embassy.

Quando Fatos&Fotos foi às bancas, veio logo o telefonema fatídico da embaixada e a chapa esquentou em Frei Caneca, onde ficavam as redações da Bloch. A coisa ficou preta para os envolvidos na reportagem, a responsabilidade maior era do repórter e não do fotógrafo, mas sobrou também para a paraguaia – talvez por isso mesmo ela não tenha ficado muito tempo na Manchete. Quanto a Jack Wyant, fiquei sabendo que ele morreu há poucas semanas, aos 87 anos, no dia de São Sebastião do Rio de Janeiro.



quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

Fotomemória da redação: dos arquivos do fotógrafo Marcelo Horn, cena da Frei Caneca

Frei Caneca, 1988, antiga sede da Manchete: confraternização de fotógrafos em torno de André Krajcsi, que deixava a empresa. Em pé, a partir da esquerda, Wagner Almeida, Marcelo Horn, Roberto Valverde, Pedro Borgeth, João Cordeiro Júnior e Lena Muggiati. Sentados, na mesma ordem, Fernando Cussate, Indalécio Wanderley, André Krajcsi e, de costas, a produtora Ligia de Castro. Foto: Arquivo MH.


Até a mudança para o prédio da Rua do Russell, no fim dos anos 60, as redações da Bloch ficavam na Rua Frei Caneca, como sabem muitos que acompanham este blog. Mas o prédio, hoje demolido, manteve-se ocupado até os anos 90. Lá funcionava um estúdio, além do que foi instalado no térreo do Russell, parte do setor administrativo, o "arquivo morto" (imagens menos utilizadas pelas redações entre os milhões de negativos da Bloch, hoje desaparecidos, eram guardadas e conservadas lá). Havia um restaurante que atendia fotógrafos, modelos, produtores, assistentes e demais funcionários lotados na Frei Caneca. Foi lá que, em 1988, a equipe que utilizava com mais frequência o antigo estúdio, se reuniu em torno do fotógrafo André Krajcsi, que deixava a empresa. À mesa, de óculos, o consagrado fotógrafo Indalécio Wanderley - com longa trajetória no O Cruzeiro, Manchete, Fatos & Fotos, Desfile e Pais & Filhos, entre outros veículos - cercado pelos colegas, alguns iniciando a carreira.