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domingo, 21 de julho de 2019

"Easy Rider": o filme que nasceu pra ser selvagem agora é cinquentão...


por José Esmeraldo Gonçalves 

As duas motocicletas que levaram Hollywood de carona direto para a contracultura estão de volta aos cinemas americanos em 400 salas e versão restaurada 4K.

Quando "Easy Rider" ("Sem Destino", no Brasil) foi lançado em 14 de julho de 1969, há 50 anos, as salas americanas exibiam "Hello Dolly", "Airport" e "Patton". O filme custou menos de meio milhão e arrecadaria mais de 250 milhões de dólares, apenas nos Estados Unidos. Na vida real, o que estava em cartaz era a guerra do Vietnã, Charles Manson e o rescaldo tardio das cinzas da era Kennedy. Por aí pode-se imaginar o impacto que a trama causou nas plateias americanas. Talvez duas produções anteriores tenham dado pinta de que Hollywood estava mudando: "Bonnie and Clyde" e  "The Graduate", de 1967, deixaram algumas escoriações no mundo perfeito de "Hello Dolly", mas ainda não eram aquele filme-marginal que faria o público largar a pipoca.

O ronco inconfundível das motocicletas Harley de "Easy Rider" ecoou no conservadorismo ao mesmo tempo em que levou uma geração de jovens americanos desiludidos, que já não acreditavam nos "valores wasp" (branco, anglo-americano e protestante, na sigla em inglês), a se identificar com Wyatt( Peter Fonda) e Billy (Denis Hooper). O envolvimento dos dois atores, aliás, foi muito além de apenas interpretar os personagens principais. Fonda co-escreveu o roteiro, ao lado de Terry Spouthern, e Hopper dirigiu o filme. "Easy Rider" não marcava a estréia de Jack Nicholson, mas foi o papel do advogado pinguço George que lhe deu o status de estrela. Ainda no elenco, Karen Black, Luana Anders, Luke Askew, Toni Basil, Warren Finnerty, Sabrina Scharf e Robert Walker.

Não é exagero dizer que as duas motos também se tornaram superstars. Na verdade, a produção usou quatro Harley-Davidson Hydra-Glides personalizadas. Eram máquinas construídas entre 1949 e 1950 que pertenceram a esquadrões policiais. O filme acabou consagrando a estilo Chopper, caracterzado, entre outras adaptações, pelo garfo alongado e amortecedores dianteiros compridos. A bordo dessas motos desenrola-se a trama. Wyatt e Billy (os nomes eram uma referência a Wyatt Earp e Billy the Kid) vendem uma partida de cocaína e, com o dinheiro, aceleram as motos desde a Califórnia até New Orleans, onde pretendiam curtir a Mardi Gras. Na estrada, cavalgam a metáfora da liberdade, que não deixa de lhes cobrar o alto preço das tensões da América.



As cenas inesquecíveis de Easy Rider se associaram à memória musical. A trilha sonoro é tão explosiva quanto o filme. As motos roncam ao som de "Born to Be Wild", o rock do Steppenwolf, "If 6 was 9", de Jimi Hendrix, "If you want to be a bird", do Santo Modal Rounders, "Don't Bogart Me", do Fraternity of Man ou "Kyrie Eleison", com The Electric Prunes, música religiosa transformada em "viagem" psicodélica, e a única escrita para o filme, "Ballad of Easy Rider", de Roger McGuinn.

"Sem Destino" chegou ao Brasil em janeiro 1970, em plena ditadura. A coisa aqui estava preta, mas o filme não foi vetado. o que não quer dizer que teve vida mansa nas telas. Foi censurado para menores de 18 anos e, na maioria das capitais, ficou em cartaz por apenas uma semana.

Para as gerações que chegaram atrasadas, vem aí a chance de ver "Easy Rider" em 4K, o que significa resolução até melhor do que a original.

VEJA UM TRECHO DO FILME E OUÇA "BORN TO BE WILD", DO STEPPENWOLF, AQUI