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Quando traçou sobre a prancheta as linhas do Palácio do Planalto, Niemeyer jamais imaginou que um dia a sede do governo se tornaria um hospício.
Ou não é um perfeito spa de desequilibrados o lugar de onde parte uma campanha institucional pregando a volta das multidões ao trabalho, ao transporte coletivo, às escolas, aos bares, às ruas, igrejas, praias e praças em plena explosão do contágio do coronavírus?
Ou não é uma casa de loucos o prédio onde um dos seus inquilinos classifica a pandemia global como uma "gripezinha"?
Ou não é um manicômio o bunker governista onde um alto funcionário é contaminado pela Covid-19 e, por conta própria, resolve sair do confinamento médico e voltar ao seu gabinete portando uma carreata de vírus, com risco de ter contaminado outros "pacientes" da instituição? "Desculpe, foi engano", teria dito ele.
Ou não é uma casa de alienados a repartição que estimula manifestantes Brasil afora, qual arautos da morte que vão às ruas literalmente "defender" o vírus, a desprezar as normas sanitárias, isolamento e distanciamento social recomendados por médicos, epidemiologistas e cientistas?
Pensando bem, é injusta a comparação com os loucos. Estes podem não saber o que fazem.
Certos internos do Hospício Planalto que minimizam a Covid-19, não, estes sabem bem das suas ações.
Estão em campanha para ganhar uma láurea tenebrosa: a de genocidas do ano.
A propósito, talvez Niemeyer tenha percebido ainda em 1961 a estranha destinação do palácio que criou. O segundo morador do endereço - desde a inauguração de Brasília pouco mais de dois anos antes -, era, digamos, instável.
Chegou lá mitificado pelos eleitores, ele e sua vassoura. Julgando-se sem apoio do Congresso - era o "antipolítico" da época -, bolou um plano teatral. Renunciou ao mandato imaginando que seus apoiadores o carregariam nos braços de volta ao Planalto e o Congresso seria obrigado a anular o auto-afastamento.
Era o golpe triunfal que lhe daria poderes totais. Foi o script delirante que fez o Brasil mergulhar em uma grave crise institucional.