"Se a esquerda não conseguir se diferenciar no clamor público por violência – patrocinada pelo Estado ou não –, como método para resolver conflitos, provavelmente em nada contribuirá para que o fortalecimento do estado penal nos atinja de maneira brutal e violenta."
CABRAL E GAROTINHO foram politicamente feridos de morte esta semana com a decretação de suas prisões preventivas – aquelas que acontecem sem uma condenação, mas enquanto o sujeito ainda é réu. Não foi nas urnas que viram ruir seus projetos políticos de poder. Pelo contrário, foram derrotados por esse superpoder de nossa República, o intocável Poder Judiciário.
Contando com nosso maniqueísmo de costume, o Judiciário aumentou sua capacidade de formar mocinhos e bandidos em velocidade recorde e com limites cada vez mais tênues ou inexistentes. Conta para isso com sua mais fiel aliada, nossa mídia monopolista.
Com as prisões dos dois ex-governadores do Rio de Janeiro, vimos na rede uma realidade preocupante. O ranço punitivista e violento que permeia nossa sociedade não é um monopólio de políticos e cidadãos que se colocam como conservadores no jogo político cotidiano. Não está limitado a programas policiais na TV ou a pessoas que abertamente pregam a eliminação física de seus adversários. A violência por aqui foi se tornando tão banalizada, cotidiana e suscetível de indiferença, por um lado, e a população foi se vendo tão cada vez mais abandonada, por outro, que o caminho para o fortalecimento de ideologias repressivas, de clamor por fortalecimento dos aparelhos repressivo do Estado, ganha coro forte em todas as camadas da nossa sociedade.
O cidadão não se sente seguro e se sente saqueado. Respostas precisam ser dadas rápida e enfaticamente à população. O caminho está aberto cada vez mais para o fortalecimento do Estado policial como resposta.
Se a esquerda não conseguir se diferenciar no clamor público por violência – patrocinada pelo Estado ou não –, como método para resolver conflitos, provavelmente em nada contribuirá para que o fortalecimento do estado penal nos atinja de maneira brutal e violenta.
Quem ganhou foi o estado policial, cada vez mais fortalecido e insuportável.
Quão preocupante é a esquerda que comemora e vibra vendo Garotinho, um ser humano, sendo carregado apenas com o avental na ambulância para Bangu?
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