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sábado, 10 de novembro de 2018

Submarino Amarelo - o livro psicodélico que mostra os Beatles lutando contra os Blue Meanies para evitar que Pepperland se transforme em uma paraíso sem partido está de volta, agora em formato de quadrinhos

por José Esmeraldo Gonçalves

O jornalista e escritor Elio Gaspari levantou a tese: 50 anos depois, 1968 finalmente terminou.

Será?

Gaspari se refere a ascensão da direita radical nas últimas eleições brasileiras, rasgando bandeiras e slogans dos jovens da década de 1960, sepultando uma era e conduzindo o país literalmente "aos costumes", jargão utilizado por antigos delegados de polícia ou "otoridades" de plantão quando determinavam a prisão de um indigitado qualquer da vez.

Faz sentido.

A geração de 1968 denunciava o militarismo, os de hoje, pelo menos os vitoriosos nas urnas, pedem a volta da ditadura; as passeatas daquela época reagiam contra prisões, torturas e assassinatos políticos; hoje, pedem a reativação de tudo isso contra os "esquerdistas", que são praticamente todos aqueles que não concordam com o "programa de governo" do grupo que chega ao poder; em 1968, o regime  moralista não ousou enquadrar o sexo livre, que agora parece provocar náuseas conservadoras, tanto que será criado o Ministério da Família para cuidar do "furo íntimo", como diria Millor Fernandes, ou regulamentá-lo e até estatizá-lo.

É possível, portanto, teorizar no sentido oposto: 1968 vai precisar é de um recomeço, naturalmente retrofitado. E de resistência. Pelo menos um dos símbolos pop daquela época já está de volta. O ano que, segundo Zuenir Ventura, não terminou, foi também o do lançamento do filme Yellow Submarine, dos Beatles. Para marcar a data, a editora Darkside lança uma edição em quadrinhos da história, adaptada pelo diretor e artista Bill Morrison, autor dos Simpsons. Além disso, o célebre longa-metragem criado pelo produtor Al Brodax e o diretor Bob Balser, e desenhado pelo estúdio do alemão Heinz Edelman, foi recentemente restaurado a partir dos negativos. Cada um dos 130 mil fotogramas foi trabalhando para recuperar cores e dinâmica originais do filme que se baseou nas músicas do disco  "Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band" lançado em 1967.

Yellow Submarine em formato clássico de quadrinhos é novidade, mas já em 1968, no mesmo o ano em que o filme foi lançado, chegou ao mercado uma versão em livro da viagem psicodélica dos Beatles a Pepperland. com os desenhos originais do longa.  Um exemplar resistiu na minha estante até os dias de hoje. Na versão brasileira, da editora Expressão e Cultura, Pepperland, o paraíso submarino do Sargento, ganhou a tradução tosca para Pilantrália, que rementia a Carlos Imperial e a Turma da Pesada em voga na época. Expressões como "superbacana", "vou deixar cair", "alegria, alegria" e os quatro "camaradinhas" também vinham dessa fonte nada psicodélica, mas não comprometeram o clima. Os vilões Blue Meanies, os malvados azuis, viraram Azulões. São eles que comandam a milícia de terríveis monstros que os Beatles enfrentam para evitar a destruição de Pepperland, terra de amor, liberdade e música, e salvar o mundo onde vive o Sargento Pimenta.


A capa da edição de 1968

A equipe que trabalhou na versão brasileira.  O escritor e jornalista Carlinhos de Oliveira , na época redator da Manchete, deu "apoio moral", fosse lá o que isso significava. 

A fúria dos Azulões que chega ao poder e tenta destruir um paraíso submarino onde o amor , a liberdade e a música vencem o ódio.  Qualquer semelhança...

A ditadura dos Azulões aplaude e incentiva os dedos-duros representados por uma luva com o indicador em riste. Eles querem que Pepperland seja uma terra sem partido.

Reproduções de "Os Beatles - Submarino Amarelo' - Editora Expressão e Cultura, 1968

A capa da edição de 2018, lançada há poucas semanas pela Darkside...

...agora em formato de quadrinhos assinados por Bill Morrison. Reproduções

sábado, 4 de julho de 2009

Baú do Gonça











Frio em Petrópolis, calmaria no sótão-escritório do Gonça, hora de revirar o baú de livros. De lá sai um pequeno tesouro, nem sei se o Nelson Motta ainda tem um exemplar, deve ter, vou perguntar, mas vale postar o achado neste eclético blog. A edição original lançada em 1968 pela The New American Libary é baseada no desenho animado Yellow Submarine, por sua vez inspirado em histórias que o jornalista Lee Minoff extraiu de letras das canções dos Beatles. Um ano depois, Nelson Motta fez uma inspirada adaptação brasileira para a Editora Expressão e Cultura, com "bolação" - diz o expediente - e orientação editorial de Fernando de Castro Ferro, "apoio moral" de José Carlos Oliveira, direção de arte de Chisnandes, paginação e montagem de Ventura. A capa anunciava: "Uma nova e explosiva dimensão em cinema. Um livro pra frente como nunca se viu - Os Beatles - Submarino Amarelo". A tradução, como não podia deixar de ser, usa e abusa dos termos da época. Pepperland, o país imaginario onde tudo acontece, virou Pilantrália. Superbacana, ademã, genial, vamos balançar... O surrealismo e a louca alegoria ainda permitiam um segunda leitura cheia de alusões ao momento que o Brasil vivia, sob os coturnos da ditadura. Há a Luva Dedo-Duro, os Azulões, dados a acessos de fúria e cercados de bajuladores, expressões como "tudo cinzento em Pilantrália". No final, a música vence os autoritários Azulões. Mas John, Paul, Ringo e George alertam na última página: "Temos um comunicado muito sério! Novos azulões, cada vez mais azuis, foram vistos na vizinhança da sua casa, amigo, gostaríamos de sugerir que você... comece a cantar!". E completava com um último aviso: "Os inimigos talvez não sejam azuis, podem ser... verdes".