André Rizek lê a nota oficial em que a Globo defende seus setoristas. Reprodução |
Juninho responde no ar e mantém as críticas. Reprodução |
O ex-jogador e comentarista do SporTV Juninho Pernambucano pediu demissão da Globo. Estava com passaporte na mão para cobrir a Copa da Rússia, mas já foi substituído por Roger Flores. Ele teria alegado falta de "clima" para continuar no canal.
No último dia 30, quando o programa Seleção Sportv comentava a agressividade da torcida do Flamengo, que atacou o meia Diego, Juninho criticou a cobertura da mídia, especialmente o trabalho dos repórteres setoristas. Na visão do comentarista, algumas matérias incitam a violência. "Os setoristas são muito piores hoje em dia. Eu sei que eles ganham mal, mas cada um tem o caráter que tem. Se eu sou setorista, o que eu ia fazer: tentar fazer um ótimo trabalho para tentar ir para outra etapa, subir", disse. "Já vi isso também de olhar para você, um jogador que é profissional, não tem formação e ganha R$ 100 mil. Tem um cara que está ali, estudou quatro anos, fez de tudo para se formar jornalista, para ser setorista e ganha mal. Talvez ele leve isso em consideração", completou.
Pouco depois, o âncora André Rizek leu um comunicado da direção de jornalismo da Globo rebatendo a crítica. "Temos mais de 30 setoristas trabalhando hoje no Grupo Globo e eles recebem aqui nossa confiança e nossa solidariedade. Muitas vezes são eles que mais sofrem com o desequilíbrio e a eventual violência dos torcedores", diz a nota. Após a leitura, Juninho manteve sua opinião.
Segundo o UOL Esporte, três dias antes da polêmica declaração, o ex-jogador também mandou via rede social umas bolas de efeito no gol dos setoristas. “Matéria no sábado, o cara do UOL escreveu que os jogadores exigiram a troca de ônibus do Flamengo porque quicava. Mentira. Exige a troca porque ninguém quer sair com a bandeira do clube. Você é louco de sair com a bandeira e correr o risco de levar uma pedrada? Aí o cara irresponsavelmente, porque tem relação com o dirigente, setorista, vai e põe uma pilha dessa. Os setoristas são muito piores hoje em dia. Eu sei que ganham mal, mas cada um tem o caráter que tem”, criticou.
Em fevereiro, durante o jogo Botafogo X Flamengo pela Taça Guanabara, Juninho foi alvo de xingamentos e recebeu ameaças de morte porque criticou o comportamento do rubro-negro Vinicius, que fez gestos provocativos para torcida do Botafogo. Em função das ameaças, o comentarista não participou da transmissão de Flamengo x Boavista, pela final do turno.
A função de setorista já provocou muitas polêmicas em redações. Jornalistas que recebem essa missão se aproximam de dirigentes, de treinadores e dos próprios jogadores. Muitos setoristas são levados a cultivar contatos que lhes dão as informações exclusivas que os editores cobram diariamente. Esse tipo de relacionamento tem um preço. Omitir determinados fatos pode ser um deles. Veicular preferencialmente as versões oficiais do clube, outro.
Por outro lado, a imprensa esportiva registra casos de profissionais que foram afastados da cobertura diária de determinados clubes a pedido de dirigentes. Cartolas já boicotaram setoristas que, na opinião deles, "não se comportaram bem".
Houve um época em que o Jornal do Brasil acabou com o setorista fixo nos clubes e implantou um rodízio, convencido de que era melhor perder eventualmente uma noticia exclusiva do que comprometer a isenção e se pautar pela assessoria dos clubes ou pelos interesses da cartolagem.
Entre os ex-jogadores que se tornaram comentaristas, Juninho, ao lado de Caio, é um dos melhores.
Não há ainda informação do seu destino, se outro canal o levará a Moscou ou se o corporativismo prevalecerá e as demais opções se solidarizarão com os seus setoristas.
O setorismo e o medo de perder a fonte geram distorções não apenas no esporte. Política e economia estão aí para provar.
De qualquer forma, setoristas não têm vida fácil. Juninho tocou em um ponto sensível da mídia, mas errou ao generalizar. Ele mesmo ressaltou depois que não estava generalizando, há bons e maus. E deu como exemplo até experiência pessoal, quando voltou ao Vasco após longa temporada na Europa, já com 36 anos, e foi ofendido e até "perseguido", segundo ele, por um setorista a quem processou.
VEJA O VÍDEO COM A NOTA OFICIAL DA GLOBO E A REAÇÃO DE JUNINHO PERNAMBUCANO. CLIQUE AQUI