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quinta-feira, 4 de agosto de 2016
Jornal tem repetido que a Olimpíada do Rio "é a primeira realizada na América Latina". Não é. Em 1968, o México sediou os Jogos. Sem falar que "América Latina" é um rótulo racista...
por Ed Sá
O Globo tem feito um excelente caderno especial dedicado à Rio 2016.
Só precisa corrigir um pequeno erro: o jornal insiste em dizer, como na edição de hoje, que a Olimpíada carioca é a "primeira realizada na América Latina".
Só eu já li isso mais de uma vez. Há poucas semanas, escreveram: "é a estreia da América Latina como anfitriã".
Isso, sem falar que "América Latina" é um termo racista. Pretende ignorar que antes da chegada de portugueses e espanhóis havia povos não latinos na América do Sul. Esta, aliás, é a expressão mais adequada.
A Rio 2016 é a primeira Olimpíada realizada na América do Sul. Em 1968, o México, país que integra a "América Latina" mas fica na América do Norte, sediou os Jogos.
Informação esportiva esquecida à parte, registre-se que o termo é tão inadequado que não é comum, ou se ouve muito raramente, a identificação "Europa Latina" para países como Itália, Portugal, Espanha...
"América Latina" nem define um espaço geográfico, tanto que Suriname e Guiana, colonizados por Inglaterra e Holanda, não fazem parte do tal grupo. Nunca foi oficializado e, em 1948, gerou divergência quando uma comissão da ONU, a CEPAL (Comissão Econômica para América Latina e Caribe), adotou o termo associado ao subdesenvolvimento.
Mas se popularizou antes, durante a Segunda Guerra Mundial, quando o Departamento de Estado norte-americano montou um programa de propaganda na América do Sul em contraposição à influência nazista na região.
Passou a ser amplamente adotado na mídia, na geopolítica e na cultura dos Estados Unidos para discriminar etnias. Especialmente aquelas que estão no DNA de mexicanos e portorriquenhos, maioria ente os imigrantes. Daí, generalizou-se a tal ponto que muitos americanos se surpreendem quando descobrem que os brasileiros - obviamente identificados lá como "latinos" - não falam espanhol. Em um recente seriado americano, um casal queria adotar um filho que combinasse com a cor das cortinas. A solução foi pegar um mostruário com os padrões desejados e vir buscar na "América Latina".
Registre-se que, hoje, no mesmo Globo que reincide no erro no caderno especial "Rio 2016", a jornalista Flávia Oliveira, colunista do Segundo Caderno (reprodução ao lado) evita o termo "América Latina" e cita a informação esportiva correta: a Olimpíada Rio 2016 é a primeira da América do Sul.
Os incas, os maias, os astecas, os tupis, os guaranis, os cariris, os tupinambás e tamoios, que habitavam essas terras - antes do tiozão Estácio de Sá desembarcar aqui - agradecem, saúdam a imprensa escrita falada, televisada e digitalizada e pedem passagem.
ATUALIZAÇÃO EM 5/8/2016 - Na primeira página do Globo de hoje (abaixo), a devida correção: primeiros Jogos Olímpicos da América do Sul. Melhor assim.
Atualização em 13/8/2016
A expressão "latino" empregada na mídia e na cultura americanas com conotação racista é muito adotada por aqui. Embora seja mais comum incorporada ao termo "América Latina".
Mais raro, e surpreendente, é o uso para definir sul-americanos como na nota acima sobre prisão de "trio latino", que faz questão de acentuar a falsa"etnia", sinônimo, lá em cima, na terra do Uncle Thomas, de imigrantes "inferiores".
Aliás, a palavra "latino" aí seria até dispensável, bastava "Justiça mantém a prisão de trio que furtou jornalistas" seguida da identificação correta, "dois peruanos e uma colombiana". A turma que Trump quer expulsar.
O rótulo forçado equivale ao que se via nas páginas policias antigamente, o "'meliante crioulo"... Deve ser coisa de estagiário que aprendeu isso no intercâmbio. (Ed Sá)
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