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domingo, 1 de maio de 2016

Ku Klux Klan e neonazistas se juntam nos Estados Unidos no ano em que os Panteras Negras completam 50 anos

Reprodução/ADL (Anti-Defamation League)

por José Esmeraldo Gonçalves 
A imagem acima é chocante. Foi feita há poucos dias. Ativistas da Ku Klux Klan, na Geórgia (EUA), comemoram um acordo "operacional" com uma organização neonazista. A aproximação entre os dois grupos foi marcada pela queima de suásticas e cruzes. Trata-se de uma aliança inédita e que se efetiva em um momento em que a direita norte-americana está em franca ascensão.

Uma das razões para a fusão das duas organizações é o atual perfil das novas gerações de klansmen que, nesse ressurgimento, não diferem muito dos skinheads. A mídia americana analisa que a KKK se nazificou.

Há registros de fundação de novos grupos até em comunidades nas quais o problema racial não era crítico nas últimas décadas. Os métodos de divulgação também foram atualizados: a internet é agora o veículo preferencial para propagação de mensagens contra negros, judeus e imigrantes.

Coincidentemente, este 2016 mais conflituoso marca os 50 anos de fundação do revolucionário Black Panther Party, os lendários Panteras Negras. Ao longo do ano e até o dia 15 de outubro (a exata data de criação do BPP, em 1966), estão previstas referências à rebelião negra dos anos 60/70, além de debates, estudos, pesquisas acadêmicas, documentários de TV etc.
Os Panteras Negras, que defendiam a luta armada, envolveram-se em conflitos: 28 membros do grupo morreram em ações que também registraram algumas mortes de policiais e prisões de centenas de "panteras".

Apesar de passados tantos anos, as cicatrizes permanecem abertas. Os Estados Unidos elegeram seu primeiro presidente negro, Barack Obama, mas as tensões raciais não foram assim tão aliviadas. Ao contrário, em 2015, a cada nove dias a polícia branca americana assassinou um jovem negro. A matança provocou uma onda de violentos protestos em dezenas de cidades.
Beyoncé e suas "panteras".
Reprodução TV.
A cantora Beyoncé recebeu ameaças por ter feito o que os supremacistas brancos consideraram uma provocação. Convidada para cantar em um evento que é um símbolo ianque, o Super Bowl, em fevereiro último, ela ousou homenagear os Panteras Negras relembrando o visual  típico e dramatizando a lenda com uma impressionante coreografia. Um tapa na cara. Associações de policiais tentaram organizar um movimento de boicote à cantora, sem sucesso, e ativistas brancos, através de redes sociais e telefonemas de intimidação, prometeram revide. Em geral, as críticas foram histericamente fascistas, o que só mostra que a cantora estava certa ao cutucar os bolsões da intolerância.

Apesar dos protestos do ano passado contra os assassinatos de negros, não há indícios de um renascimento de organizações que sequer se aproximem do espírito de luta dos Panteras. Nem líderes que encarnem, digamos, um braço armado dos movimentos negros. Quando foi fundado na Califórnia por Huey Newton e Bobby Seale, o grupo pretendia ser um instrumento de autodefesa e patrulha dos bairros negros para impedir ações violentas da polícia contra as comunidades (não por acaso, um tema atual). Reivindicavam, entre outros pontos, empregos. educação, isenção de serviço militar, já que não se sentiam representados na sociedade, o fim da exploração capitalista, o fim da brutalidade policial, direito à habitação, e que negros acusados de crimes fossem julgados por juízes negros e júri formado por  negros etc. Os Panteras apoiaram o movimento Black Power, voltado para políticas culturais e sociais, e fizeram alianças com movimentos esquerdistas, mas foi principalmente em função do aumento da tensão racial na época - Malcolm X havia sido assassinado em 1965 e Martin Luther King fora morto em abril de 1968 -, que as alas revolucionárias dos Panteras passaram a predominar na organização e partiram para a luta armada.

Uma gigantesca operação de repressão do FBI que se estendeu até meados dos anos 1970 obteve êxito total e o grupo foi dizimado. Ainda atuou até o começo dos anos 1980, mas apenas como uma pacífica organização social de apoio a programas comunitários, que também se extinguiu.

Há poucas semanas, foi solto o último "pantera", Albert Woodfox, 69 anos, que passou 43 anos na solitária, condenado pela morte de um policial de Lousiana. Ele sempre negou o homicídio e foi condenado sem provas apenas com o depoimento de três outros presos. Tornou-se o detento americano a passar mais tempo em uma solitária.


Poucos meses após o atentado que vitimou Luther King, os atletas Tommie Smith e John Carlos fizeram um histórico protesto no pódio olímpico, no México, durante os jogos de 1968, com punhos fechados e luvas negras. Medalhistas dos 200 metros rasos, eles foram banidos das competições.

Em agosto, o Brasil recebe as Olimpíadas: não há previsão de que o pódio da Rio 2016 seja palco de gestos semelhantes.

O Black Panther Party compete, hoje, tão somente na categoria História.

Mas, nessa modalidade, jamais saiu do pódio.