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segunda-feira, 17 de novembro de 2025

O que Adolpho Bloch tinha a ver com Zé das Medalhas


A medalha JK65 entrou para a história que não aconteceu.
Reprodução de uma peça da memorabilia do Panis

por José Esmeraldo Gonçalves 

Zé das Medalhas era um personagem da Copacabana dos anos 1960. Uma celebridade popular ao lado de tantos escritores, cineastas, cantores e jogadores de futebol que moravam no bairro. Zé das Medalhas trabalhava em uma farmácia no Leme. Usava sempre um colete espetado com dezenas de medalhas. É possível que Adolpho Bloch, que morava em Copacabana, e costumava andar na Avenida Atlântica com o amigo Juscelino Kubitschek, tenha cruzado com o Zé em algum momento. Ou talvez não, e jamais os dois souberam que tinham algo em comum. Um carregava suas medalhas no peito, o outro costumava estampar medalhas e moedas comemorativas anexadas às edições da antiga Manchete


Uma dessas medalhas em homenagem a João Paulo II, que visitava o Brasil em 1980, foi colada nas capas de números especiais que venderam milhões de exemplares. Além disso, Adolpho recrutou voluntários para vender a medalha do papa em esquinas movimentadas do centro do Rio de Janeiro. O carisma de João Paulo II incendiou as ruas e fez tilintar moedas no cofrinho do Bloch. 


Outra insígnia lembrada, esta oferecida ao leitores da Manchete Esportiva, festejou os Jogos Olímpicos.

A marca Bloch estampou várias medalhas e moedas.  

A moeda JK 65 virou história que não aconteceu e foi atropelada pela ditadura militar de 1964. Depois de deixar a Presidência, Juscelino foi eleito senador. A ideia era permanecer na cena política enquanto trabalhava a volta ao Planalto nas eleições de 1965. A moeda era inicialmente uma peça de campanha. Mediante uma quantia, de preferência alentada, o doador ganhava o suvenir.  

JK havia sido vítima de uma tentativa de golpe militar após ser eleito em 1955, foi salvo pelo marechal Lott que desarmou a conspiração dos quartéis e garantiu sua posse. Conhecia o veneno e mesmo assim  cometeu um erro fatal: aproximou-se dos militares no período anterior à queda de João Goulart e apoiou o golpe de 1964. Acreditava que os milicos fariam um pit stop no poder e manteriam as eleições presidenciais de 1965. JK nem desconfiou da ditadura pré-instalada quando votou para presidente, no Congresso, na palhaçada eleitoral que "elegeu" Castelo Branco. Com o enterro da liberdade, o militar tomou posse com a caneta carregada para formular listas de cassações, prisões, sequestros, perseguições e os Atos Institucionais autoritários. 

JK deve ter tomado um susto: seu nome logo figurou entre os cassados e banidos. 

O resto a história conta. Foram 21 anos de trevas, torturas, assassinatos, milhares de brasileiros no exílio, censura, corrupção e concentração brutal de renda. Restou gravada na moeda JK85 a mensagem da "Pelo Brasil recomeçarias mil vezes". No verso, em torno da imagem de um trator, o registro "Contribuí para a campanha JK65", seguido da promessa "Quinquênio da agricultura"simbolizada pela imagem de um trator.  Trator ou tanque ou foi o que passou por cima da democracia