Censurar diagramação é caso raro. Quando do assassinato de Salvador Allende, no Chile, e em plena ditadura, aqui, o Jornal do Brasil fez uma primeira página antológica só com texto. A diagramação, no caso, reforçou o impacto da notícia. A censura foi pega de surpresa, reclamou, mas a edição já estava nas ruas.
No caso do Globo, talvez tenha sido "excesso de zelo", digamos, em um momento em que o jornal está amplamente engajado na campanha para derrubar a presidente da República. Mas a "culpa" também é da diagramação.
O repórter Fernando Brito, do site Tijolaço, levantou essa lebre. Dilma Rousseff foi prestigiar, na Base Aérea de Brasília, a entrega do jato militar de transporte KC-390, fabricado pela Embraer. Em certo momento, a presidente foi à cabine do avião. Claro, para os fotógrafos presentes, aquela era a cena esperada e menos formal. Givaldo Barbosa, do Globo, enquadrou Dilma na janelinha e, atento ao quadro, abriu o ângulo para incluir a palavra Força (de Força Aérea Brasileira, gravada na fuselagem).
Na redação, editor e diagramador mantiveram a criativa composição da foto. E assim foi fechada a primeira página. E assim o jornal começou a ser distribuído em algumas praças.
Acontece que, com as máquinas já rodando, veio a ordem para mudar imediatamente o corte da foto. A palavra Força sumiu. Alguém no jornal deve ter se assustado com o que considerou uma mensagem, sei lá, contra o golpe. Vai que alguém entendesse, mesmo sabendo que estava lendo O Globo, que Dilma está fortalecida. O telefone tocou na redação e uma voz do Além trovejou. Rolou um "parem as máquinas", e não foi por um bom motivo jornalístico.
Pensa que está fácil a vida dos jornalistas nas madrugadas da crise política?
Veja, abaixo, a primeira página 1 que recebeu impeachment da direção e a primeira página 2 refeita e distribuída em seguida.
Na primeira página original, a foto de Dilma em composição com a palavra Força. Reprodução |
Na página refeita, a palavra Força sumiu. Reprodução LEIA MAIS, CLIQUE AQUI |