Por ROBERTO MUGGIATI
Não se trata de um
obituário au grand complet, mas de
algumas lembranças esparsas. Como
sempre, vendo o mundo e a vida pela lente distorcida do Panis, que é a
comunidade dos ex-Manchetes. Ferreira
Gullar também trabalhou na Manchete, não tenho dados precisos, mas pode ser sido na fase em que ainda era revisor, em 1953, antes de se revelar como escritor e poeta de primeira linha.
Sem entrar na sua obra,
eu o citaria como um gigante da cultura brasileira por duas contribuições
marginais, geralmente esquecidas.
Foi o autor de uma
frase genial:
“A crase não foi feita para
humilhar ninguém.”
Só ela lhe valeria o
Nobel de Literatura que merecia.
A segunda foi ter
escrito a letra para O trenzinho do caipira, de
Villa-Lobos, aquela do bordão “no ar, no ar” – que é onde Gullar está agora.
Convivi meses com seus versos, cantando o Trenzinho no coral do Baukurs, onde
eu estudava alemão.
Foto: Divulgação/TV Globo |
Nestas ocasiões, a casa
da Ceres – uma das mais finas anfitriãs que já conheci – costumava ficar cheia
com as figuras mais destacadas da cultura carioca. Mais recentemente, com
Zuenir e Gullar já eleitos “imortais”, a Academia Brasileira de Letras se fazia
presente nos eventos de Madame Feijó. Houve até uma ocasião em que pude contar mais
imortais na Ceres do que em muito chá das quintas na casa de Machado de Assis.
Especificamente, Zuenir Ventura, Ferreira Gullar, Cícero Sandroni e Ana Maria
Machado, ou seja, 10% da ABL numa reunião com menos de 50 pessoas.
Pena: no próximo
primeiro de janeiro, o Pato da Ceres vai estar meio triste. . .