A secretária-geral do Comitê Olímpico Australiano, Fiona de Jong, critica a Olimpíada no Rio. Para ela, a cidade não oferece segurança. O alerta é válido, orientar turistas é um dever das autoridades, mas o tom ultrapassou limites. A crítica poderia ser mais construtiva e menos intolerante. Dona Fiona tem duas alternativas: primeiro, se está tão temerosa, não deve vir, vai ficar insone, paranoica e transmitir insegurança à sua delegação; segundo, baixar a bola e lembrar que a Austrália tem graves episódios de insegurança para os brasileiros. Nos últimos anos, um brasileiro foi espancado até à morte pela polícia; outro foi encontrado morto em circunstâncias suspeitas; há casos de espancamento de estudantes em agressões de natureza racista; sem falar em atentado terrorista que, no centro de Sidney, vitimou várias pessoas e feriu gravemente uma brasileira. Mas lá, como aqui, a generalização pode ser injusta. O episódio mais triste e sangrento já registrado em uma Olimpíada aconteceu em uma nação desenvolvida (Alemanha, Munique, 1972). Um segundo caso com ocorrência de fatalidades abalou Atlanta, nos Estados Unidos, em 1996. Então, dona Fiona, violência não é, infelizmente, exclusiva de nações "subdesenvolvidas".
Quanto a mais segurança, no Rio, é uma revindicação dos cariocas e para o dia a dia e não apenas em função de grandes eventos. O Brasil, com o Rio recebendo quase dois milhões de turistas, promoveu uma Copa do Mundo irrepreensível, segundo reconhecimento de organizações internacionais ligadas ao futebol e ao turismo. Os visitantes foram festivamente recebidos. Não houve registro de agressões a etnias. Se vierem, os aborígenes, por exemplo, tão perseguidos e discriminados na Austrália, verão in loco esse clima de confraternização sem preconceito. Aliás, seu Comitê Olímpico trará algum atleta aborígene?
A cidade, como muitas cidades grandes, tem sérios problemas. Há certas áreas perigosas? Sim. Mas se dona Fiona for a Paris assistir ao Roland Garros deve ter cuidado se resolver passear no banlieu, na periferia, correndo o risco de sair depenada. Se tivesse ido à Olimpíada de Los Angeles botaria o pezinho nos blocks barra-pesada? E, nos Jogos de Londres, visitou, por exemplo, um bairro "aprazível" chamado Brent? Poderia perder até a peruca lá.
Ou seja, que os visitantes tenham cuidado, como em qualquer lugar, mas não se deixem levar exageradamente pelo discurso preconceituoso da secretária-geral do Comitê Olímpico Australiano. Se dona Fiona não sabe, a seleção da Austrália veio para a Copa do Mundo de 2014, foi muitíssimo bem recebida, os jogadores deram entrevistas maravilhados com a recepção e o convívio com a população em Vitória, no Espírito Santos, onde se instalou e onde turistas australianos circularam pela cidade. Segundo os jornais publicaram, houve em toda a Copa registros oficiais de dois assaltos contra cidadãos australianos ocorridos em Porto Alegre. Lamentável. Mas de um modo geral o esquema de segurança na Copa funcionou, incluindo a vigilância nos aeroportos, portos e rodovias que barrou vários estrangeiros com histórico de violência. Os turistas e esportistas australianos são bem-vindos e aqui chegando devem procurar os postos de assistência aos visitantes e obter informações sobre a cidade, saber sobre lugares e horários adequados para visitar certas áreas. É o básico. Além dos centros de apoio aos turistas, a maioria dos cariocas é prestativa e não se nega a dar informações. Isso foi reconhecido igualmente durante a Copa.
E que todos se divirtam em paz.
Mas, por favor, sem os sinais de intolerância da Dona Fiona.
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quinta-feira, 23 de abril de 2015
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