quinta-feira, 17 de outubro de 2024

Surto moralista em Camboriú. "Ninguém vai exibir os mamilos da mulher balneocamboriuense".

Reprodução de imagem que viralizou nas redes sociais: a ciclista de "farol aceso". 

por José Esmeraldo Gonçalves

Há poucos dias uma mulher foi expulsa de uma escola de ciclismo em Santa Catarina porque cometeu um falha grave, na avaliação dos seus treinadores. Tuani Basotti ousou pedalar usando um agasalho sem sutiã. Para a organização que pedalou o conservadorismo, ela errou ao exibir sob a blusa o relevo dos mamilos, o popular "farol aceso”. O caso viralizou na internet e Tuani agora se sente perseguida e vigiada cada vez que sai à rua. O Balneário Camboriú, onde o caso ocorreu, é uma província esquisita. Fica em Santa Catarina, estado que, de uns tempos pra cá, assumiu o título de grande reduto da extrema direita do país, uma espécie de Saxônia brasileira. Nas recentes eleições municipais, os votantes locais conduziram à Câmara dos Vereadores ninguém menos do que Jair Renan, filho 04 do elemento ex-presidente. 

Há quem suspeite que Camboriú e sua coleção de altos edifícios à moda de Dubaí configurem uma skyline em homenagem à lavagem de dinheiro, mas esse não é o assunto dessa nota. A cidade, sem dúvida, namora a extrema direita e Santa Catarina, segundo o Conselho Nacional de Direitos Humanos (CNDH) denunciou à ONU, abriga mesmo um grande número de células neonazistas. 

Sabe-se agora que um dos códigos de vestimenta do balneário coloca "faróis acesos" na lista negra que mistura o índex moral com um tipo de fashion evangelismo. 

Nos anos 1960, a vilã da vez foi a minissaia. Vendo fotos da Manchete, onde cariocas exibiam saias bem acima dos joelhos, um deputado mineiro, católico, protestou contra o pouco pano e, segundo ele, a pouca vergonha das moças, e liderou uma cruzada contra a depravação do figurino. "Ninguém levanta a saia da mulher mineira", teria dito, segundo o jornalista Stanislaw Ponte Preta, o Sérgio Porto, registrou em seu livro sobre o Festival de Besteiras que assolava o Brasil (Febeapá) no rastro da ditadura mlitar que se dizia "com deus pela democracia". 


A reação à minissaia aconteceu em vários países. No Meio Oeste dos Estados Unidos, pastores alertavam  que aquele palmo acima dos joelhos era um instrumento comunista para dissolução das famílias. Certamente diziam isso depois de dar uma boa conferida nas pernas das meninas. Mesmo na França, acostumada a liderar a revolução dos costumes, a minissaia chegou a ser inicialmente combatida. No caso, talvez por inveja, como a Manchete publicou, já que a criação de Mary Quant nasceu na rival Inglaterra.  

Não estranhe o título desse post. Em 2000, uma lei municipal ordinária, e bota ordinária nisso, determinou que o "adjetivo pátrio" de quem nasce no Balneário Camboriú, é balneocamboriuense.

Isso também é Febeapá.

Nenhum comentário: