por Ed Sá
Um dia depois do apagão na Paulicéia uma âncora da Globo News - que aparentemente não é advogada da Enel - usou um argumento que deve ter deixado em êxtase o jurídico da empresa italiana distribuidora de energia elétrica: ela citou a mudança climática como culpada pelo caos instalado em milhões de residências e estabelecimentos comerciais que perderam produtos, vendas e equipamentos. Uma chance para escapar ou reduzir as indenizações devidas à população.
Como toda concessionária, a Enel usa demissões e baixo gasto com investimento para potencializar lucros remetidos para o exterior e engordar bônus dos diretores e conselheiros. No caso, ela teria mandado embora nos últimos anos 30% da força de trabalho. Desfalcada, a empresa levaria dias para regularizar o fornecimento de energia.
Em defesa da âncora, ela apenas se apressou em antecipar as mudanças climáticas como suposta causa do apagão. O desarranjo de planeta virou justificativa para tudo. Minha sogra pediu a um pastor para tirar um capeta que adentra seu corpo sempre que o calor ultrapassa 40° graus celsius. Ela diz que o demônio penetra pelo suvaco que, sem aviso, passa a despejar rios de suor nauseabundo. O pastor falou que quebrava o galho mas pediu em troca um aparelho de ar condicionado de 30 mil BTUs com a graça de deus. As empresas fornecedoras de gás podem reivindicar que o governo lhes dê um subsídio para compensar a queda de consumo, porque a água naturalmente já sai morna do chuveiro e dispensa aquecimento, o que reduz o faturamento. O agro vai aproveitar o embalo para pedir subsídios além dos que já recebe.
Meteorologistas anunciam que 2024 será um ano recordista em altas temoeraturas. Assim valorizados, chope estupidamente gelado, sorvete, gelo e sacolé vão aumentar de preço.
Mas ninguém está mais eufórico do que os prefeitos: alagamentos, ruas esburadas por enxurradas, casas que são arrastadas, pontes que desabam, deslizamentos de encostas ganham um culpado "científico", a degradação do planeta.
A ameaça maior para os contribuintes é uma ideia do criativo prefeito de São Paulo. O sujeito, à maneira de Odorico Paraguaçu, encontrou uma solução para os custos do enterramento da rede elétrica da cidade para acabar com o problema das árvores que caem e arrastam a fiação. Ele propõe que os moradores das ruas afetadas e que pedem redes eletricas subterrâneas façam uma vaquinha para pagar a obra nos seus quarteirões. Se a moda pegar vai ter prefeito pedindo Pix para reformar praças, reforçar as guardas municipais, pagar a harmonização facial da primeira-dama e a viagem a Paris para ver o que capital francesa está fazendo para se adaptar às mudanças climáticas. O prefeito Ricardo Nunes ainda bolou um nome cinico para a vaquinha safada: taxa de melhoria.
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