por Niko Bolontrin
A transformação de clubes de futebol associativos em sociedades anônimas, as SAF, seduziu a mídia esportiva. Atualmente, há colunistas nos cadernos esportivos especializados em business. Falam da bola como se estivessem na bolsa de valores. Defendem resultados a médio e longo prazo. Implicam com as trocas frequentes de técnicos quando as vitórias escasseiam. É inevitável: futebol e dinheiro jogam mais juntos do que nunca.
A mistura de uma paixão popular com lucros e investimentos implica em movimentos que as torcidas jamais entenderão e os executivos nunca controlarão 100%. Torcedor, é claro, quer resultados. Bola na rede. O mais empolado CEO do mundo vira cartola quando assume um time. Será vaiado e criticado se pisar na bola.
As SAF ainda estão em lua de mel com a realidade. São poucas e recentes. Cambaleiam. Uma delas, a do Cruzeiro, está em recuperação judicial para renegociar dívidas. Em campo, junto com a do Vasco, corre risco de rebaixamento no Brasileirão. Outra, a do Botafogo, perdeu a liderança isolada após acumular mais de 10 pontos de vantagem na tabela. Vive crise. América Mineiro já está rebaixado. Coritiba, Cuiabá, Bahia, cada uma com seu nível de problema e risco, brigam pela sobrevivência.
Fora de campo, as novas SAF têm força política como o velho futebol: a bancada da bola no Congresso conseguiu incluir benesses para essas empresas privadas na atual reforma tributária.
Por enquanto, um caso de sucesso é o Bragantino Red Bull que é empresa, mas tem modelo diferente. Formalmente não é SAF. A multinacional de energéticos adquiriu a totalidade de títulos dos sócios como parte de um projeto de marketing. No momento, o time divide a liderança do Brasileirão com gigantes do futebol brasileiro. Gigantes, aliás, que até aqui não querem ouvir falar em SAF. Flamengo, Palmeiras, Grêmio, Internacional, Fluminense, São Paulo, por exemplo, ainda preferem controlar seus negócios. O que se desenha na transformação do futebol brasileiro é a formação de uma liga nacional nos moldes da Espanha e Inglaterra. O processo ainda não se completou, envolve enormes interesses, mas não demora a se concretizar. Em paralelo, o governo busca regulamentar a milionária indústria de apostas esportivas nos campos econômicos, éticos e esportivos. A manipulação resultados, como foi denunciado recentemente, será sempre uma ameaça ao futebol. É preciso atenção permanente ao desempenho de árbitros, jogadores e do VAR como alvos de esquemas criminosos. Não é um problema apenas brasileiro.
Há tempos, o jornal alemão Sueddeutsche Zeitung", de Munique, denunciou um escândalo de manipulação de jogos que envolvia 200 partidas, entre elas 12 da Liga Europa e três da Liga dos Campeões na Bélgica, Suíça, Croácia, Eslováquia, Bósnia, Turquia e Áustria. O esquema foi desmascarado, mas de lá pra cá, a indústria de apostas legais e ilegais cresceu exponencialmente.
No plano internacional, há novas forças que atuam para controlar o futebol como esporte e como negócio. Os dólares dos árabes já são uma forte influência. A FIFA, que teme o poder crescente da UEFA, tem se aproximado dos Estados Unidos, do Catar e da Arábia Saudita como forma de resistir à união dos poderosos times europeus e procura valorizar seu próprio campeonato mundial de clubes.
A paixão do torcedor não muda. O atual Brasileirão lota estádios. A Libertadores empolga a América do Sul tanto que, nos próximos anos, aumentarão as pressões para que receba times das Américas Central e do Norte.
Resta torcer para que a magia do futebol tenha uma convivência saudável com tantos dólares, euros e petrodólares.
Nenhum comentário:
Postar um comentário