quinta-feira, 2 de março de 2023

O jornalismo brasileiro é viciado em off

por José Esmeraldo Gonçalves

Off, em jornalismo, é a prática de difusão de uma informação sem que o repórter identifique a fonte. Uma espécie de "por fora". O entrevistado revela qualquer coisa sob a condição de anonimato. 

A fonte em off mais famosa e legítima do jornalismo foi certamente o "Deep Throat" do rumoroso Caso Watergate. Um funcionário do governo passava a Bob Woodward e Carl Bernstein informações cruciais que orientaram a apuração do escândalo e levaram os repórteres a mapear os personagens da invasão do escritório do Partido Democrata em Washington.  A identidade do informante só foi revelada em 2005. A até então misteriosa fonte era o vice-diretor do FBI no começo dos anos 1970, Mark Felt, que contou a própria história em um artigo que escreveu para a Vanity Fair. 

Para os jornalistas brasileiros Brasilia é a cidade que mais tem "deep throat" no mundo. Eles encontram um desses,  como se fossem pokémons, em cada corredor do poder. A função off foi assim banalizada. "Fonte ligada ao PT", "uma alta autoridade do Judiciário", "fiz um bastidor na Câmara e constatei", "uma fonte da PF", "uma fonte do alto comando militar", "ouvi de um ministro do Supremo". Esse tipo de referência serve de muleta tanto para informações banais como para veicular "balões de ensaio" ("notícias" muitas vezes falsas que são lançadas para gerar repercussão ou "testar" reações a determinadas medidas ou supostos fatos) e lobbies. Tanto abuso compromete o uso da função off, que originalmente não deveria ter valor declaratório, por ser anônima, mas poderia ser útil, como no Watergate, para balizar investigação do fato e orientar a apuração do repórter. 

Observe: colunistas e comentaristas de TV raramente conversam com pessoas que assumem CPFs, RGs e o que dizem. São todos anônimos, secretos ou "laranjas" de si mesmos. O anonimato como regra deixa de ser técnica de apuração e vira patologia

Luis Nassif, no link abaixo, comenta  com propriedade a febre do off, um excesso que assola o jornalismo e compromete a credibilidade. 

https://jornalggn.com.br/midia/a-praga-do-off-transformou-a-midia-em-um-celeiro-de-baloes-de-ensaio/


3 comentários:

Vitor disse...

Politicos são malandros. Com o off eles usam repórteres otários na verdade. Passam suas bolhas e seus interesses.

Yuri disse...

A mídia tradicional principalmente canais de notícias investe em comentaristas que dão sua versão dos fatos e não apenas opinam. Matérias investigativas estão hoje com sites independentes e com alguns poucos jornalistas que conseguem emplacar matérias relevantes. O resto está sob controle das famílias que mandam na mídia.

Prof.Honor disse...

Tinha um cara que vivia de fazer rifas. A quem perguntava quem ganhou o prêmio, ele dizia sempre: "foi aquele senhor de chapéu que passa sempre aqui na banca". Nunca revelava o nome do ganhador. Até que foi desmascarado: a maioria das rifas não premiava ninguém. Assim são essas fonte em off. É o cara de chapéu que passa as informações.