por José Esmeraldo Gonçalves
Três jornalistas em momentos e veículos diferentes - Globo News e CBN - entrevistavam políticos bolsonaristas quando decidiram reagir às mentiras e fake news que os tais sujeitos veiculavam. Deram um basta e mostraram aos ouvintes e assinantes, com firmeza, que os seus entrevistados, os senadores Rogério Marinho, Eduardo Girão e Carlos Viana, estavam mentindo descaradamente.
Andréia Sadi, Camila Bomfim e Cássia Godoy cumpriram seus papéis de jornalistas. Que a postura das três mulheres alcance alguns coleguinhas mais cordatos com fake news ditas e repetidas diante deles, no ar.
É simples: se o jornalista detém a informação confirmada de que o entrevistado está mentindo e falsificando os fatos, deve levar ao leitor a correção ou pontuar claramente a manipulação desonesta do seu entrevistado. Se não o fizer estará contribuindo para difundir fake news. Será cúmplice.
Outra questão em discussão é a "regra" de "ouvir os dois lados". E aí estão em questão fatos e também opiniões.
O jornalismo deve mesmo dar espaço a políticos que defendem golpes ou atacam a democracia? Deve dar crédito a um imbecil que ataca a Constituição? É válido ouvir uma pessoa que põe em dúvida o resultado de uma eleição sem que apresente provas de fraude?
Não.
Na Alemanha dos anos 1930, Hitler tinha apoiadores e oposicionistas. Em um exercício de imaginação, transportando a situação para os dias de hoje, a mídia brasileira seria capaz de "ouvir os dois lados" e assim legitimar o debate do nazismo?
Talvez, se insistisse em aplicar o modelo que pratica atualmente. No auge da pandemia, a mídia deu espaço para políticos que contestavam a vacinação. Promoveu debates entre cientistas respeitados e os confrontou com idiotas fascistas. Muitas vezes foi constrangedor ver homens e mulheres da ciências colocados frente a frente, como se fosse uma acareação, a conhecidos lixos da política bolsonarista.
E, sim, essa "jabuticaba" dos "dois lados" é muito mais comum no Brasil do que em democracias desenvolvidas. Um dos grandes jornais do mundo, o New York Times, não tem como regra "ouvir os dois lados". O jornal é suficientemente consciente das suas posições para saber quando um debate em torno de determinadas questões é legítimo e honesto e quando, por exemplo, é prudente não dar voz a golpistas ou terroristas que ameaçam a democracia. Ao mesmo tempo, o NYTimes é obrigatoriamente bem informado para saber quando dois pontos de vista diferentes e éticos podem se colocados na mesma mesa.
O discurso golpista, no Brasil, não se esgotou no triste episódio do 8/1. Está entre nós e vai permanecer. A vigilância deve ser permanente e a mídia tem um papel relevante a desempenhar diante dessa ameaça.
Se todos condenam a invasão terrorista das sedes do Legislativo, do Judiciário e do Executivo, porque permitir que gente que defende abertamente os ataques à democracia e que é conivente com acampamentos, bloqueios e atentados invada a mídia para atacar as instituições democráticas?
Você, como jornalista, acharia normal entrevistar um dos políticos que deram declarações desacreditando o drama dos ianomâmis e debochando da tragédia dos indígenas? Sério? Acolheria seus argumentos?
Com a ultra direita ameaçando democracias em vários países nem a famosa frase atribuída a Voltaire se sustenta. "Não concordo com uma palavra do que dizes, mas defenderei até o último instante o teu direito de dizê-la".
Depende.
O jornalista deve posar de vacilão e dar moral para os ataques à democracia?
Um comentário:
Concordo. Jornalistas não devem ser babacas que aceitam calados os maiores absurdo de fascistas e nazistas, racistas e intolerantes e inimigos da democracia. Que se fodam.
Postar um comentário