terça-feira, 13 de junho de 2017

Passaralho político - Chargista do jornal da Tarde é demitido após ironizar "intocáveis" acusados de corrupção



Osmani Simanca, cubano naturalizado brasileiro, foi demitido pelo jornal A Tarde. Ele já vinha sofrendo pressões e advertências para "não mexer em determinados nomes e personagens". O chargista, que é premiado internacionalmente, publicou no Facebook a seguinte nota sobre o passaralho político que o atingiu.

"Serei sempre muito grato pela oportunidade que tive, quando há mais de 15 anos comecei a trabalhar em “A Tarde”, periódico com uma tradição jornalística de mais de 100 anos. Foi sem dúvida uma honra publicar, aprender e aperfeiçoar-me com meus caros colegas e amigos. Durante minha estadia no diário ganhei importantes prêmios nacionais e internacionais e meus desenhos publicados originalmente em “A Tarde” foram, frequentemente, reproduzidos por outros jornais e revistas ao redor do mundo.

Depois da penúltima mudança na direção do jornal comecei a ser questionado sobre o conteúdo das minhas charges, sendo algumas delas censuradas. Estes desenhos proibidos foram reproduzidos com grande sucesso em outras mídias. Havia muito tempo que textos e matérias completas dos meus colegas eram cortados, mas não a charge. A charge era um pequeno oásis num deserto de tesouras.

É difícil ter liberdade sem independência econômica. A maior parte da imprensa sempre dependeu da propaganda dos governos. Isto não seria problema caso estes governantes não pressionassem jornais e jornalistas, e se jornalistas e jornais democráticos não se deixassem pressionar para escrever elogios ou críticas desmerecidas. Nosso rumo deve ser sempre definido pela ética e pela virtude, coisas raras nestes tempos sombrios, cheios de ódio e intolerância. Dizia Joseph Pulitzer: “Com o tempo, uma imprensa cínica, mercenária, demagógica e corrupta formará um público tão vil como ela mesma”.

Com a última mudança na direção do jornal, as pressões aumentaram ao ponto que tive que explicar o que era uma charge, e qual era o papel da sátira política em uma sociedade democrática e na imprensa livre. Fui indagado sobre quem me dava as pautas ao que respondi que as pautas eram os fatos, os quais pesquisava em profundidade, consultando várias fontes e colocando minha opinião na forma do jornalismo gráfico, caracterizado pela charge ou caricatura política. Fui advertido para não mexer em determinados temas e personagens, uma tarefa impossível no meio da putrefação política e ética em que se encontra o Brasil.

Quero agradecer às demonstrações de solidariedade de meus colegas, amigos e leitores por referencia a minha demissão sem justa causa e cuja verdadeira causa, de maneira resumida, expliquei neste texto.

Termino aqui, com este pensamento de Eurípedes:

“Todo o céu é da águia o caminho, 
Toda a terra é do homem nobre a pátria”

Osmani Simanca

3 comentários:

Ebert disse...

Não vi nenhuma associação de donos de jornal nem a ABI e de jornalistas protestando contra essa demissão. Hipocrisia total

Rick disse...

Mídia suja

J.A.Barros disse...

Na minha opinião o editor-chefe da redação – neste caso – é que deveria ser demitido porque a charge passou por ele que a provou e mandou imprimir. No meu entender ele é o responsável pela publicação da crítica feita em charge humorística.