por Roberto Muggiati (para a Gazeta do Povo)
Otto Maria Carpeaux está de volta com uma nova edição de sua monumental História da Literatura Ocidental, publicada há 65 anos. Antes de falar do meu Carpeaux, algumas pinceladas sobre o homem: imaginem nascer na Viena de 1900, a cidade de Freud, Klimt, Kokoshka, Kraus, Mahler, Schönberg, Schnitzler, Wittgenstein e Zweig... E de um medíocre pintor de cartões postais chamado Adolf Hitler. Filho de pai judeu e mãe católica, Otto Karpfen formou-se em química pela Universidade de Viena, mas nunca exerceu a profissão. Estudou Filosofia (doutorou-se em 1925), Matemática (Leipzig), Sociologia (Paris), Literatura Comparada (Nápoles) e Política (Berlim). Em 1930, casou-se com Helena, companheira de toda a vida. A música cercou Carpeaux por todos os lados: o pai, advogado, era também pianista; a mãe, violinista; a mulher, cantora lírica. Em 1933, abandonou o judaísmo, converteu-se ao catolicismo e acrescentou ao seu nome Maria e (por pouco tempo) Fidelis. Jornalista, tornou-se homem de confiança dos dois últimos premiês da Áustria. Com a anexação do país à Alemanha nazista, Otto e Helena escaparam em 1938 para a Bélgica. Com o início da guerra, em 1939, mudou o sobrenome de Karpfen (“carpa” em alemão) para o afrancesado Carpeaux e veio para o Brasil. Curiosamente, seu primeiro destino, na condição de imigrante, foi Rolândia, no Paraná, para trabalhar no campo. Longe de ser a salvação da lavoura, Carpeaux encontrou um espaço para escrever sobre literatura no Correio da Manhã, do Rio. Já conhecia inglês, francês, italiano, alemão, espanhol, flamengo, catalão, galego, provençal, latim e servo-croata. Em um ano aprendeu português e começou a escrever na língua, com desenvoltura e verve. Em 1950, tornou-se redator-editor do jornal, mas a Revolução de 1964 atropelou Carpeaux e o Correio e praticamente calou sua voz libertária.
(...)
Convivi com Carpeaux na redação da Manchete entre 1972 e 1977, quando ele foi o colaborador mais assíduo da série As Obras-primas que Poucos Leram (lançada em 2005 por Heloisa Seixas, numa antologia de quatro volumes para a editora Record). No prefácio, Heloisa comenta: “O leitor talvez se pergunte como era possível uma revista popular de informação, famosa também por suas matérias sobre concursos de fantasias e bailes de carnaval, abrir toda semana cinco ou seis páginas para artigos sobre literatura – de tal categoria e profundidade”. Esse foi um dos muitos paradoxos da Manchete, que usava o slogan “todas as revistas numa só.” A série publicou 200 artigos, dos quais pelo menos 30% foram assinados por Carpeaux (que precisava daquele dinheiro).
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sexta-feira, 27 de janeiro de 2012
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