Ao desembarcar no Galeão, JK é intimado a depor. |
A multidão que o esperava cerca a viatura. |
Depois de duas horas de depoimento, JK deixa o quartel da PE. |
Na frente do prédio onde o ex-presidente morava, o povo fez vigília. |
Essas fotos mostram o contraste.
A última semana foi marcada pela prisão de Michel Temer, sob a acusação de corrupção, recebimento de propina, lavagem de dinheiro etc.
Temer chegou à presidente no embalo de um golpe jurídico-parlamentar. Sua prisão, após deixar o cargo, foi acompanhada pelas emissoras de TV a partir de helicópteros. Apenas uma imagem repetida à exaustão mostrava o político na rua, em um carro, ao ser abordado por policiais.
Uma solidão que a ilegitimidade explica.
Temer pegou carona em um golpe. Não havia multidões a defendê-lo. Nem mesmo aquelas que foram às ruas apoiar sua posse envergonhada.
Em 1965, outro ex-presidente, este legítimo, era vítima e não beneficiário de um golpe.
A quartelada de 1964 cassou Juscelino Kubitschek. Apesar disso, os militares não se conformavam com a sobrevivência política do ex-presidente e decidiram processá-lo. Alegavam que JK tinha responsabilidade na "deterioração do sistema de governo" e o acusavam em Inquérito Policial-Militar, vagamente, de corrupção. Nada foi provado, mesmo assim ele foi silenciado e perseguido pela ditadura até o fim da vida. Nos seus últimos anos, JK foi acolhido na Manchete em cujo edifício mantinha um escritório cedido pelo velho amigo Adolpho Bloch. Ao morrer, em 1976, deixou um patrimônio considerado modesto.
Mas naquele outubro de 1965, JK voltava de Paris, onde se refugiara após a cassação e ameaças, quando soube que ao desembarcar seria conduzido para depor no quartel da Polícia do Exército. Uma multidão o esperava à saída do Galeão. O depoimento durou pouco mais de duas horas. Ao sair, JK foi recebido por amigos e admiradores. No dia seguinte, seria novamente ouvido pelos funcionários da ditadura.
Sua detenção motivou protestos que repercutiram internacionalmente. O povo fez vigília na frente do prédio onde ele morava e volta e meia exigia sua presença à janela. Em um desses momentos, foi feita a capa da edição.
A Manchete publicou uma grande reportagem sobre o assunto, parcialmente reproduzida acima. Murilo Mello Filho era o repórter. Jáder Neves, Gervásio Baptista, Hélio Santos, Orlando Abrunhosa e Eveline Muskat formavam a equipe de fotógrafos.
JK não estava sozinho.