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sexta-feira, 20 de março de 2020

Memória digital? Cuidado que o vento leva. Ou o que restou do NO.




Há muito se discute o risco de guardar textos e fotos apenas em memória digital. O prazer de folhear o álbum de família da sua infância, em versão analógica, talvez não seja experimentado pelo seu filho ou neto, a não ser que você mande imprimir as lembranças e as guarde bem. Claro que pode guardá-las em pen drives e em HDs internos e externos, que têm componentes que podem entrar em colapso. Ou em DVDs que, dizem, é mais seguro, ou ainda na nuvem que armazena arquivos em diversos servidores, mas não é infalível, pode sofrer invasões.

O álbum de família é um simples exemplo, mas a questão envolve aspectos gerais da memória histórica, jornalística, científica e cultural.

Veja este: na época da bolha da internet, na virada dos anos 1990 para Século 21, surgiu no Brasil um site que reuniu uma brilhante equipe de jornalistas. Era o NO. O No Ponto. Se teve grande audiência naqueles quase primórdios do jornalismo digital, não se sabe, mas foi certamente um nicho de qualidade na época. O site era bancado por um banco de investimentos que logo tirou o time de campo, como costuma acontecer nas iniciativas instáveis desses operadores financeiros. Com o fechamento, diz-se, todo o arquivo do NO. teria se perdido em algum desfiladeiro ou caverna impenetrável da internet.

Todo, não. Algumas páginas escaparam do "delete" fatídico.

Roberto Muggiati, ex-diretor da Manchete e ex-colaborador do NO. , desconfiou da perenidade dos seus escritos em ambiente não palpável e preferiu imprimir e encadernar seus textos. E alguma coisa escapou do site que sumiu misteriosamente.