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sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

Vexame na TV: o âncora "cascateiro"

Reprodução imagem NBC
A mentira do apresentador da NBC, Brian Williams, conseguiu resistir por 12 anos. Acabou desmascarada nessa semana. Em 2002, a bordo de um helicóptero de combate, ele narrou para milhões de americanos, com todo o seu dom teatral, que a aeronave em que estava, em pleno front do Iraque, era alvo de um pesado ataque de granadas do inimigo. Em reportagem da revista Stars and Stripes, a tripulação do helicóptero corrigiu agora a "cascata" do jornalista. Brian Williams teve foi uma crise de mitomania. Naquele dia, um helicóptero americano foi realmente bombardeado. Mas não o que o transportava. O bravo repórter chegou ao local mais de uma hora depois do fato em um aparelho que só pousou na área para evitar uma tempestade de areia. Desmascarado, o âncora se retratou com mais de uma década de atraso: "Quero pedir desculpas. Disse que viajava no helicóptero atingido, mas eu estava em outro aparelho". E mais não falou e foi para casa passou um pouco mais de verniz na cara de pau.
Brian Williams não está sozinho no delírio. Fantasiar fatos é mais comum do que pensam os reles mortais. Não faz muito tempo, um sujeito entrevistou um sósia no lugar da figura autêntica e publicou a "exclusiva". Um repórter de uma revista brasileira entregou ao seu editor, certa vez, uma longa matéria sobre violência nos garimpos onde narrava com detalhes como ficou no fogo cruzado de um tiroteio entre grupos rivais. Chegou a ouvir o assobio dos balaços a pouco centímetros da orelha. Para escapar, pulou de uma ponte sobre um rio caudaloso. O fotógrafo que o acompanhava foi cobrado pela falta de fotos da eletrizante sequência e teve que denunciar a 'cascata".  No final dos anos 70, começo dos 80, um jornal carioca publicou uma série de matérias sobre um "justiceiro" que fornecia dois, três "presuntos" por semana nos subúrbios do Rio e da Baixada Fluminense. O tal "justiceiro" nunca existiu. A série de matérias apenas atribuía ao "exterminador de bandidos" os assassinatos de autoria desconhecida que aconteciam rotineiramente. Defunto largado na vala logo ganhava status de vítima do matador misterioso. No mais, tudo era ficção: os cartazes que apareciam junto aos corpos, as declarações do "justiceiro", as circunstâncias dos assassinatos. E esse folhetim da violência fez sucesso junto aos leitores e ajudou a dar uma sobrevida ao jornal em dificuldades. E quem não lembra de uma entrevista feita por um apresentador de uma rede de TV com um traficante da pesada? Revelou-se depois que tudo ali era falso, o traficante, as declarações escritas por um roteirista e até os cabelos louros do entrevistador à base de tintura de farmácia. Há ficções políticas também, como a do rumoroso  "atentado" com uma bolinha de papel sofrido por um candidato a presidente. Os corredores de uma rede de televisão contam que uma equipe foi cobrir um acidente na estrada no qual um caminhão-baú tinha se incendiado. Quando chegou ao local não havia mais fogo. Só que a equipe soube que a concorrência havia filmado as chamas. As vítimas já haviam sido retiradas, a perícia não havia chegado, e alguém não achou nada demais jogar um pouco de combustível na lateral do veículo e "recriar" o fogaréu. E assim foi feito.
Pelo menos, o americano Brian Williams pediu desculpas no ar. Por aqui, a galera fingiu que nem era com ela.