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sexta-feira, 3 de junho de 2016

Na capa da revista Piauí, retrato para a posteridade: a impoluta corte reunida da Versalhes do Planalto Central

Na capa da Piauí, a corte reunida da nova república pós-golpe.

A capa do LP "Panis et Circensis", de 1968.  

por Ed Sá
A capa da revista Piauí que chega ás bancas é brilhante. Um perfeito retrato da república pós-golpe e uma irônica referência a um movimento cultural tão marcante quanto crítico, o Tropicalismo, liderado por Caetano Veloso e Gilberto Gil.  As patéticas figuras do novo regime sob o dístico "Ordem e Progresso" retirado do vetusto  Positivismo, mas que agora remete a algo como o slogan  "Segurança e Desenvolvimento", da ditadura, reencenam a histórica capa do disco "Panis et Circensis" ou "Tropicália", um marco da música em 1968.

A capa do LP, acima, foi fotografada por Oliver Perroy e o disco reunia faixas como "Geleia Geral", de Gil e Torquato Neto, "Parque Industrial", de Tom Zé, "Lindoneia", de Caetano, "Bat Macumba", de Gil e Caetano, "Coração Materno", de Vicente Celestino (clássico gravado com tiros de canhão), "Panis et Circense", de Gil e Caetano, "Baby", de Caetano, entre outras músicas que entraram para a história da MPB. Na capa do Panis, Sergio Dias, Caetano (com a foto de Nara Leão), Arnaldo Batista, Tom Zé, Rogério Duprat,  Gal Costa, Torquato Neto e Gil (com a foto de Capinam) mostram no figurino, nos adereços e nos utensílios, como o penico que Duprat segura, uma imitação dos padrões e da moral vigente. do conservadorismo e da repressão vigentes.

Quase 50 anos depois, como zumbis, voltam os padrões mortos-vivos perfeitamente simbolizados pelas figuras que agora habitam a Versalhes do Planalto Central do país. No alto, a reprodução da capa da Piauí, onde desponta a corte golpista representada por Geddel Viana, José Serra (com o penico), Gilberto Kassab, Romero Jucá, Alexandre Padilha, Moreira Franco (com o pato da Fiesp, representando a ditadura militar da qual é egresso), Henrique Meireles, a boneca inflável do tipo recatada, e Michel Temer segurando respeitosamente a foto do seu patrono, Eduardo Cunha.

Como canta a letra de "Geleia Geral", "assiste a tudo e se cala, quem não dança, não fala" e aí estão 'no meio da sala", as "relíquias" (para não dizer outro nome) do Brasil.

sexta-feira, 13 de maio de 2016

Os bastidores da primeira reunião ministerial do governo pós-golpe

Reunião do MSM (Ministério Sem Mulheres). Foto de José Cruz/Agência Brasil
por Omelete
A foto da primeira reunião dos ministros do Michel Temer lembrou clube do Bolinha. As mulheres não foram convidadas para trabalhar na Esplanada e, portanto, não ganharam crachá para entrar no Planalto. São do recato e do lar. Ou, talvez, estivessem ocupadas: ontem foi dia de faxina para apagar vestígios de Dilma na casa. Muito louça pra lavar, móveis para tirar poeira, precisou comprar muito Silvo ou Kaol pra prataria, botar almofada de sofá e tapetes no sol e ver se ainda tinha pó de café, tubaína, pão e mortadela pro lanche.

O assunto principal foi a bicicleta esquecida de Dilma. Hoje ela foi vista andando a pé. Não ficou resolvido se a bike será mandada para o Alvorada ou se será doada ao Ministério Público de Curitiba.

O pessoal do contra também criticou a ausência de negros. Esse pentelhos politicamente corretos argumentam que Temer até extinguiu o Ministério das Mulheres, da Igualdade Racial e dos Direitos Humanos. Extinguiu, mas isso não quer dizer nada.

Quadro de Djanira.
Foto Roberto Stuckert Filho/PR
Há afro brasileiros no Planalto como se pode ver no quadro de Djanira na sala de espera.

Operário também não apareceu por lá. Dá para entender: depois de 13 anos aturando o primeiro operário e a primeira mulher presidentes, Temer deve estar de saco cheio das duas categorias.

Havia a possibilidade de a reunião ser aberta com uma palestra sobre criacionismo e outra sobre cura gay. Mas isso não se confirmou.

O governo pretende cortar 4 mil cargos de confiança. Parece que não há gente confiável para preenchê-los. Já o pessoal da desconfiança não vai ser mexido, dizem.

Retratos de Dilma serão mantidos, por enqanto, em todos os ministérios. Mas funcionário que quiser receberá um kit de dardos para exercitar a pontaria nas horas vagas.

Temer proibiu falar de crise. Os ministros se viraram para tocar no assunto sem ofender o governo pós-golpe. Vicissitudes, adversidades, perrengue, transtorno, zuera, rolo, confusão e putaria foram as expressões mais ouvidas.

Enquanto a reunião acontecia, vazou na web material do WikiLeaks mostrando que Temer foi X9 da embaixada americana. Ficou decidido que Temer dirá que não se tratava de relatório mas de uma carta extraviada que ele escreveu para o seu amigo Joe Biden, aquele ex-vice-presidente dos States que veio ao Brasil e foi recebido por Dilma que não convidou Temer para um chopinho no Planalto junto com o americano.

Tecnicamente, Temer deve ser chamado de "presidente interino" e Dilma de "presidente afastada". O interino não está feliz com essa terminologia. Pensa em importar do Vaticano a liturgia católica. Lá há dois papas, Bento e Francisco. Só que Francisco é chamado de papa, e não se fala mais nisso, e Bento de papa emérito.

Os novos marqueteiros do governo vão tentar convencer a mídia a tratar Temer como "presidente" e Dilma como "presidente afastada" mas incluindo a hastag que será atualizada diariamente #tchauqueridafaltam178dias.

sábado, 16 de abril de 2016

No MMA político, a chapa Temer-Cunha pode virar Cunha-Temer...

por José Esmeraldo Gonçalves
Caso a chapa Temer-Cunha chegue ao poder, o atual presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, terá sido entronizado como o homem mais poderoso do país.

Cunha é uma espécie de Barcelona na atual crise. Desde que assumiu o Presidência da Câmara, não perdeu um só jogo. No que diz respeito ao seu nome, conseguiu congelar a Lava Jato, o TSE não pronuncia seu santo nome em vão, o STF assina embaixo das suas decisões, a mídia não o incomoda, e na Câmara nenhuma Comissão sobrevive sem o seu aval, nenhuma Ética é discutida se for ele o alvo.

Pode-se dizer que Cunha tem considerável influência sobre os Três Poderes. No caso do Executivo, é o homem que levou o processo de impeachment ao Plenário, assim como é o principal arregimentador de votos contra Dilma Rousseff.

Talvez a chapa que irá assumir o governo, caso o golpe seja vencedor, deva ser invertida para Cunha-Temer.

Cunha é o zagueiro que nada deixa passar; Temer é o ponta-esquerda que vai e volta, recebe a bola e logo se livra dela e, quando não é acionado, escreve uma carta lamurienta ao treinador dizendo que "assim não dá".

Em quem você aposta no MMA político de um eventual governo pós-golpe?