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segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Cinema argentino


"Um Conto Chinês": Ignacio Huang e Ricardo Darín. Foto: Divulgação
por Lenira Alcure
O que o cinema argentino tem, que o nosso não tem? Fui ver ‘Um Conto Chinês’, produção hispano-argentina com Ricardo Darín, no papel do solteirão que esconde, sob a capa de ranzinza, um autêntico sentimental. Darín é o Gerard Depardieu da Argentina, mais em forma e com olhos incríveis... Está em todas, quero dizer, em quase todos os bons filmes que nos chegam de lá. Não vou contar a história (quem quiser, que vá ao cinema), mas a narrativa prende, nos faz rir, emociona, seduz. Dizem que é baseada em fatos reais, pode ser, o real é geralmente extraordinário, como afirmava o nosso Nelson Rodrigues em suas crônicas da ‘Vida como ela É’. Me solidarizei com o personagem que tem o hobby de recortar páginas e páginas de jornais com notícias que até parecem absurdas. De um certo modo, embora sem o método dele, faço isso também (não apenas eu, mas muita gente aqui no Panis) e constato que o mais interessante no dia-a-dia é justamente o seu contrário, ou seja, o incrível que nos rodeia.
Voltando à comparação com a produção nacional: com honrosas exceções, a indústria brasileira de ficção (a realização de documentário é de ótima qualidade) não prima por bons argumentos fora dos padrões comédia ligeira ou até a neopornochanchada, agora levada a sério(?). No mesmo dia em que assisti a ‘Um Conto Chinês’, o trailer de um filme financiado pela Petrobras e pelo BNDEs exibia mais uma vez o submundinho safado, que entorpece a plateia brasileira, na TV e no cinema, com Big Brothers e assemelhados. Não sou contra o filme, há gosto para tudo, mas financiar para quê? O que é bom se sustenta, vide sucesso de ‘Cordel Encantado’, que pode (e deve) virar um bom filme de exportação. Não é preciso apoiar só ‘filme cabeça’ ( esses, até temos, desde os tempos imemoriais do Cinema Novo), mas de contar boas histórias usando a mágica do cinema. ‘Um Conto chinês’ é uma prova disso.