Quando moralistas emplacam suas teses em um país, o resultado é autoritarismo, preconceito, restrições e perseguições. Um vento desses varre o Brasil com impactos na mídia e nos meios acadêmicos.
Assim como, nos tempos da ditadura, o pensamento conservador impôs às escolas a esdrúxula disciplina de "Moral e Cívica", a onda direitista atual plantou uma reforma do ensino médio segundo a qual é proibido pensar. A onda moralista é, agora, acelerada pela influência das religiões fundamentalistas a caminho de um talibanismo tropical.
Pesquisadores paulistas acabam de lançar uma coletânea sobre um fenômeno de comunicação que desafiou alguns padrões da época da ditadura: a Pornochanchada. No escurinho do cinema, a temática erótica a atraia multidões. Na vida real, os jornais divulgavam casos como o de um deputado mineiro que incomodado com as saias curtas das estudantes subiu à tribuna da Assembleia e fez um longo discurso pedindo duras leis, multas e até prisão para quem exibisse coxas em praça pública. A frase final do pronunciamento, dita a berros patrióticos, foi um brado de moralismo: "Ninguém levanta a saia da mulher mineira".
Claudio Bertolli Filho e Muriel Emídio P. do Amaral, da Universidade Estadual Paulista (Unesp),
abordam no livro"Pornochanchando: em nome da moral, do prazer e do deboche", que conta com 15 artigos de pesquisadores das áreas da Ciência e Comunicação o que chamam de o "confronto esquecido: pornochanchada x moral e civismo. Apesar de celebrar a transgressão, os textos não deixam de apontar os estereótipos de filmes, sejam de classe ou de gênero.
O livro "Pornochanchando: em nome da moral, do prazer e do deboche" pode ser acessado gratuitamente no site da Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação (Faac), da Unesp (link abaixo). Para quem preferir a versão impressa, é só aguardar: a Cultura Acadêmica vai lançar o livro nos próximos dias. CLIQUE AQUI PARA LER GRATUITAMENTE