Reprodução da coluna do Xexéo no Globo de hoje, onde ele cita a Manchete. 1976: Beija Flor Campeã, primeiro título da escola, entrevistei Joazinho Trinta, o fenômeno que surgia.
Recuerdos de coberturas para Manchete, Fatos & Fotos, Caras e Contigo e...
...as marcas do tempo no detalhe das duas credenciais acima.
...as marcas do tempo no detalhe das duas credenciais acima.
por José Esmeraldo Gonçalves
A coluna de Arthur Xexéo, hoje, no Globo, comenta os desfiles das escolas de samba cariocas. Em um trecho, o cronista cita o carro King Kong, do Salgueiro, como uma alegoria que impressionou a avenida. “Se estivéssmos no tempo em que se conhecia o carnaval pela revista Manchete certamente o King Kong seria um dos maiores destaques da cobertura”. Xexéo tem razão. E a palavra Manchete, na crônica, acionou um link para a minha memória. Os cadernos especiais que o Globo lança na segunda e na terça de carnaval, muito bem feitos e chegando às bancas com impressionante agilidade, me lembram, de certa forma, a velha Manchete. Fotos abertas, sensualidade, panorâmicas, detalhes, estrelas nacionais e internacionais, está tudo ali. A extinta Bloch tinha um feeling excepcional para grandes eventos. Da morte de Getúlio aos enterros de Carmen Miranda e Chico Alves, das vitórias do Brasil nas Copas aos grandes crimes que eletrizavam o país e à visita do Papa João Paulo 2º, acontecimentos desse porte faziam girar ao limite as máquinas da gráfica de Parada de Lucas. Mas nenhum desses eventos alcançava a dimensão da cobertura do Carnaval. O livro “Aconteceu na Manchete – as histórias que ninguém contou” (Desiderata), escrito por jornalistas que atuaram nas redações do Russell, conta como funcionava essa engrenagem editorial, que mobilizava centenas de profissionais. A propósito, o nome deste blog – Pão com Ovo – é inspirado nos sanduiches que eram servidos nos agitadíssimos fechamentos das edições de Carnaval. Carlos Heitor Cony, que dirigiu muitas dessas edições, traduziu a expressão para latim - Panis Cum Ovum - e deu-lhe o lema visto no logotipo na barra direita desta página: “Dementia Omnia Vincit” (“A Loucura Sempre Vence”, na verdade, uma brincadeira do Cony com um “lema” que criou para Adolpho Bloch. Segundo ele, Adolpho fazia as maiores “loucuras” – como pedir que a redação preparasse uma edição da Manchete em russo, feita do dia para a noite – e ganhava dinheiro com esses projetos geralmente desaconselhados pela racionalidade dos seus assessores). A Manchete foi lançada em abril de 1952 e já em 1953, o Carnaval ganhava cobertura especial e capa. A partir daí, não parou mais. Normalmente, a Bloch lançava três edições da Manchete: a pré, a do Carnaval propriamente dito e a pós-carnaval, com as campeãs do ano. Além disso, mandava para as bancas outras três edições da Fatos&Fotos e mais uma da Amiga. Bem planejadas, as publicações alcançavam públicos diferentes. Manchete trazia a grandiosidade e as cores do espetáculo; Fatos&Fotos a sensualidade da passarela e dos bailes; Amiga flagrava as celebridades no samba, blocos e bailes. Somadas, vendiam em torno de 1 milhão e meio de exemplares. Por formação, sou um jornalista-revisteiro, participei de muitas dessas coberturas. E lá vai tempo. Não vi D.João 6º sambar na Vizinha Faladeira mas vou à Avenida desde 1976, há exatos 35 anos. Uma passarela que já foi na Presidente Vargas, em dois pontos, próximo à Candelária e depois da Central; na Antonio Carlos; na Sapucaí sem Sambódromo; e, finalmente, no conjunto desenhado por Niemeyer. Estive lá, mais uma vez, este ano, trabalhando para a revista Contigo. Gosto de ver as escolas, torço pela Mangueira, é um trabalho que faço com prazer. Mas em meio à cadência das baterias, a saudade é uma alegoria que insiste em desfilar na minha memória por alguns instantes. Os bastidores dos desfiles se transformavam – ainda são assim – em um ponto de encontro de colegas jornalistas. É onde revemos amigos de outras redações. É aí que o samba atravessa. Vejo que sou um dos remanescentes. Cadê o fotógrafo Sérgio de Souza, o gordo mais ágil do passarela? E Gil Pinheiro, Tarlis Batista, Roberto Barreira, Ney Bianchi, Leo Borges, Luiz Carlos de Assis, Fábio Abrunhosa, Henrique Diniz e outros que se foram? E os companheiros de várias gerações que estão na ativa em outros setores mas fizeram parte das equipes que levavam para as revistas o agito do Sambódromo como Orlando Abrunhosa, Alberto Carvalho, Arnaldo Risemberg, Ateneia Feijó, José Carlos Jesus, Frederico Mendes, Pedro Porfírio, Marcelo Horn, Renato Sérgio, Janir de Hollanda, Deborah Berman, Maria Alice, Ruth de Aquino e Gervásio Batista? E os editores que ficavam na retaguarda mas davam um jeito de ir à avenida em algum momento como Zevi Ghivelder, Lincoln Martins, Eli Halfoun, Moises Fuks, Cony e Roberto Muggiati? Este ano, vi lá o fotógrafo Helio Motta, na pista, e soube que Nilton Ricardo estava na torre fazendo as panorâmicas das escolas para a revista Caras; das gerações mais novas, J.Egberto trabalhando para a Contigo, além da Wal Ribeiro no camarote da Brahma e Jussara Razzé que colaborava com a assessoria de imprensa da Liesa e fez a maioria das fotos dos desfiles que ilustram este blog. Os cinco participaram de incontáveis coberturas para a Manchete. Se havia alguma coisa que os fotógrafos não poupavam era filme. Assim milhares de cromos Kodak desaguavam nas mesas dos editores antes de chegar aos diagramadores Wilson Passos, Nelson Gonçalves, Ezio Speranza, Jarbas Costa, Luiz Carlos Pauluze e J.A. Barros, este na ativa e um dos autores do livro Aconteceu na Manchete.
A coluna de Arthur Xexéo, hoje, no Globo, comenta os desfiles das escolas de samba cariocas. Em um trecho, o cronista cita o carro King Kong, do Salgueiro, como uma alegoria que impressionou a avenida. “Se estivéssmos no tempo em que se conhecia o carnaval pela revista Manchete certamente o King Kong seria um dos maiores destaques da cobertura”. Xexéo tem razão. E a palavra Manchete, na crônica, acionou um link para a minha memória. Os cadernos especiais que o Globo lança na segunda e na terça de carnaval, muito bem feitos e chegando às bancas com impressionante agilidade, me lembram, de certa forma, a velha Manchete. Fotos abertas, sensualidade, panorâmicas, detalhes, estrelas nacionais e internacionais, está tudo ali. A extinta Bloch tinha um feeling excepcional para grandes eventos. Da morte de Getúlio aos enterros de Carmen Miranda e Chico Alves, das vitórias do Brasil nas Copas aos grandes crimes que eletrizavam o país e à visita do Papa João Paulo 2º, acontecimentos desse porte faziam girar ao limite as máquinas da gráfica de Parada de Lucas. Mas nenhum desses eventos alcançava a dimensão da cobertura do Carnaval. O livro “Aconteceu na Manchete – as histórias que ninguém contou” (Desiderata), escrito por jornalistas que atuaram nas redações do Russell, conta como funcionava essa engrenagem editorial, que mobilizava centenas de profissionais. A propósito, o nome deste blog – Pão com Ovo – é inspirado nos sanduiches que eram servidos nos agitadíssimos fechamentos das edições de Carnaval. Carlos Heitor Cony, que dirigiu muitas dessas edições, traduziu a expressão para latim - Panis Cum Ovum - e deu-lhe o lema visto no logotipo na barra direita desta página: “Dementia Omnia Vincit” (“A Loucura Sempre Vence”, na verdade, uma brincadeira do Cony com um “lema” que criou para Adolpho Bloch. Segundo ele, Adolpho fazia as maiores “loucuras” – como pedir que a redação preparasse uma edição da Manchete em russo, feita do dia para a noite – e ganhava dinheiro com esses projetos geralmente desaconselhados pela racionalidade dos seus assessores). A Manchete foi lançada em abril de 1952 e já em 1953, o Carnaval ganhava cobertura especial e capa. A partir daí, não parou mais. Normalmente, a Bloch lançava três edições da Manchete: a pré, a do Carnaval propriamente dito e a pós-carnaval, com as campeãs do ano. Além disso, mandava para as bancas outras três edições da Fatos&Fotos e mais uma da Amiga. Bem planejadas, as publicações alcançavam públicos diferentes. Manchete trazia a grandiosidade e as cores do espetáculo; Fatos&Fotos a sensualidade da passarela e dos bailes; Amiga flagrava as celebridades no samba, blocos e bailes. Somadas, vendiam em torno de 1 milhão e meio de exemplares. Por formação, sou um jornalista-revisteiro, participei de muitas dessas coberturas. E lá vai tempo. Não vi D.João 6º sambar na Vizinha Faladeira mas vou à Avenida desde 1976, há exatos 35 anos. Uma passarela que já foi na Presidente Vargas, em dois pontos, próximo à Candelária e depois da Central; na Antonio Carlos; na Sapucaí sem Sambódromo; e, finalmente, no conjunto desenhado por Niemeyer. Estive lá, mais uma vez, este ano, trabalhando para a revista Contigo. Gosto de ver as escolas, torço pela Mangueira, é um trabalho que faço com prazer. Mas em meio à cadência das baterias, a saudade é uma alegoria que insiste em desfilar na minha memória por alguns instantes. Os bastidores dos desfiles se transformavam – ainda são assim – em um ponto de encontro de colegas jornalistas. É onde revemos amigos de outras redações. É aí que o samba atravessa. Vejo que sou um dos remanescentes. Cadê o fotógrafo Sérgio de Souza, o gordo mais ágil do passarela? E Gil Pinheiro, Tarlis Batista, Roberto Barreira, Ney Bianchi, Leo Borges, Luiz Carlos de Assis, Fábio Abrunhosa, Henrique Diniz e outros que se foram? E os companheiros de várias gerações que estão na ativa em outros setores mas fizeram parte das equipes que levavam para as revistas o agito do Sambódromo como Orlando Abrunhosa, Alberto Carvalho, Arnaldo Risemberg, Ateneia Feijó, José Carlos Jesus, Frederico Mendes, Pedro Porfírio, Marcelo Horn, Renato Sérgio, Janir de Hollanda, Deborah Berman, Maria Alice, Ruth de Aquino e Gervásio Batista? E os editores que ficavam na retaguarda mas davam um jeito de ir à avenida em algum momento como Zevi Ghivelder, Lincoln Martins, Eli Halfoun, Moises Fuks, Cony e Roberto Muggiati? Este ano, vi lá o fotógrafo Helio Motta, na pista, e soube que Nilton Ricardo estava na torre fazendo as panorâmicas das escolas para a revista Caras; das gerações mais novas, J.Egberto trabalhando para a Contigo, além da Wal Ribeiro no camarote da Brahma e Jussara Razzé que colaborava com a assessoria de imprensa da Liesa e fez a maioria das fotos dos desfiles que ilustram este blog. Os cinco participaram de incontáveis coberturas para a Manchete. Se havia alguma coisa que os fotógrafos não poupavam era filme. Assim milhares de cromos Kodak desaguavam nas mesas dos editores antes de chegar aos diagramadores Wilson Passos, Nelson Gonçalves, Ezio Speranza, Jarbas Costa, Luiz Carlos Pauluze e J.A. Barros, este na ativa e um dos autores do livro Aconteceu na Manchete.
A inesquecível ala do samba da Manchete daria uma lista imensa.
Por alguns momentos, andando no corredor à margem da passarela - a ‘grade” como a turma chama – senti a “alma deserta” para usar uma expressão do Cartola e do Elton Medeiros no samba “Peito Vazio”.
Vida que segue. Até a dispersão.