No dia 13 de setembro de 1987, o Brasil acordou com um título que nenhum país gostaria de ter: o de maior acidente radiológico do mundo e a segunda tragédia radioativa global (só perdia, na época, para Chernobil (1986), hoje, Fukushima (2011), no Japão, assumiu o lugar de vice). Mas o país só saberia do acidente em Goiânia duas semanas depois, quando foi dado o alerta de contaminação.
Márcia Mello Penna e Carlos Humberto TDC cobriram o acidente do Césio-157 em Goiânia, setembro de 1987. |
Mas foi um ano depois, em setembro de 1988, que a repórter Maria Alice Mariano e a fotógrafa Paula Johas surpreenderam a redação da Manchete ao voltar de Goiânia com uma impressionante reportagem que não deixava dúvidas de que a data não era apenas um "aniversário" ou um simples "gancho" jornalístico: a tragédia de Goiânia ainda estava em curso.
Se as atenções do Brasil já não se voltavam tanto para o caso e outros fatos geravam novas pautas, o drama do Césio 157 permanecia intenso e marcava a vida dos sobreviventes. Àquela altura, o tempo mostrou que a partir do momento em que um catador de ferro velho encontrou em um prédio abandonado (onde funcionara uma clínica) uma cápsula de um aparelho de radioterapia e a abriu, pensando em aproveitar o chumbo, mais de 100 mil foram expostas à contaminação.
A maioria sofreria durante anos os efeitos da radiação e dezenas de mortes ocorreriam ao longo da década seguinte, além das quatro vítimas fatais imediatas.
Manchete pautou uma volta ao local do vazamento de césio para apurar a situação, em setembro de 1988, Márcia Mello Penna seria a repórter naturalmente indicada por ter feito a cobertura inicial do acidente. "Márcia estava saindo em viagem para outra matéria e me passou a pauta", conta Alice, cuja preferência era por pauta "quentes". E Goiânia ainda oferecia isso, literalmente.
Maria Alice e Paula Johas retrataram o drama humano que o Césio-157 deixou. |
A edição que trazia a matéria das graves consequências do acidente, um ano depois. |
Com o fato à distância de 365 dias, Maria Alice e Paula Johas buscaram os dramas humanos e as histórias pessoais. O medo, os traumas silenciosos, cada uma das vítimas convivendo com sua própria dor, as falhas na contenção da radiação e o sofrimento daqueles que em um instante tiveram suas vidas mudadas para sempre.
Naquela edição, as repórteres da Manchete narraram em texto e fotos a tragédia do Césio-157 ainda viva e que, na velocidade do acontecimentos, o Brasil já tendia esquecer.
As vítimas, não.